O ataque de Elon Musk, dono do X (antigo Twitter) contra a Suprema Corte brasileira remete à situação similiar ocorrida na China, onde Twitter e o Facebook não operam desde 2009.
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Lá, as plataformas se recusaram a cooperar com as autoridades chinesas para elucidar uma onda de ataques terroristas em Xinjiang, região autônoma uigur, uma minoria étnica que tem muitos muçulmanos.
Esses ataques terroristas ocorreram com frequência em Xinjiang a partir da década de 1920, depois que o pan-turquismo e o pan-islamismo se espalharam pela região.
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Os extremistas defenderam a violência, a separação e até a limpeza étnica em Xinjiang, embora a região tenha abrigado vários grupos étnicos por centenas de anos, com alguns grupos até habitando lá muito antes dos uigures.
Milhares de ataques terroristas ocorreram em Xinjiang e se espalharam pelo resto da China até 2017, causando não apenas danos financeiros, mas também a perda de inúmeras vidas de civis inocentes e forças de segurança.
Facebook e Twitter recusaram colaborar
Naquela ocasião, em 2009, a polícia chinesa descobriu que os ataques foram planejados pelo Twitter e pelo Facebook. Mesmo assim essas empresas não quiseram ajudar a China.
Na verdade, os grupos de extremistas não visavam apenas pessoas do povo Han, a maioria étnica da China; eles visavam os uigures que não eram muçulmanos, ou muçulmanos que não concordavam com suas ideologias extremas.
Vários imãs renomados das principais mesquitas de Xinjiang estavam entre as vítimas, como o ex-imã da Mesquita Id Kah, Jume Tayir, que era fortemente contra o radicalismo e foi brutalmente assassinado aos 74 anos em 2014 por um grupo de terroristas em frente à a mesquita depois de terminar as orações matinais.
Em casos semelhantes de ataques terroristas, em mais de um oportunidade, Twitter e Facebook colaboraram em investigações para elucidar ataques terroristas na Europa e nos EUA.
Depois disso, a China até poderia processar os magnatas dessas big techs, como Mark Zuckerberg e os então donos do Twitter. Mas Pequim preferiu não pesar a mão e estabeleceu normas. Se quiser operar na China, siga as regras chinesas.
Dados de cidadãos chineses devem estar hospedados na China e seguir as regras da China. Não quer? Então não vai atuar por lá. Para acessar essas mídias sociais banidas, os chineses e estrangeiros no país usam VPN.
VPN significa Virtual Private Network, em português, Rede Virtual Privada. É uma tecnologia que permite estabelecer uma conexão segura e criptografada entre dispositivos conectados à internet e uma rede privada, como a rede interna de uma empresa ou um servidor remoto.
As VPNs são comumente usadas para proteger a privacidade e a segurança dos dados transmitidos pela internet, especialmente em redes públicas, como redes Wi-Fi em cafés, aeroportos e outros locais públicos, onde os dados podem ser mais vulneráveis a ataques de hackers ou espionagem.
Além disso, as VPNs podem ser usadas para contornar restrições geográficas, permitindo acessar conteúdo bloqueado em determinadas regiões ou países.
Essas plataformas, Twitter, atualmente X, e Facebook, só não operam na China porque não quiseram de adaptar às leis de lá. Por isso que foi criado um ecossistema digital próprio pelos chineses
Companhias como Weibo, WeChat e ByteDance seguem as regras chinesas e operam sem problemas no gigantesco mercado chinês. Aliás, essa é uma das razões pelas quais a China tem o próprio TikTok, o Douyin. O mesmo TikTok que o país que defende a liberdade de expressão irrestrita quer fechar.
Lei chinesa não proíbe redes sociais estrangeiras
A China nunca baniu redes sociais dos EUA. Há desinformação e manipulação. Não existe lei na China que proíba redes sociais dos EUA ou de qualquer país. Todas as regulamentações se aplicam igualmente, independente da nacionalidade. As leis chinesas são claras.
- Empresas devem hospedar servidores na China e manter dados de usuários chineses no país. Isso é viável, como o TikTok prova nos EUA.
- Empresas devem cooperar com autoridades chinesas, o que o Twitter e o Facebook recusaram no passado.
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Como em outros países, a China tem leis de conteúdo. Pornografia é ilegal. Empresas estadunidenses se recusam a obedecer.
O "Grande Firewall" é uma ferramenta de cumprimento da legislação chinesa. Empresas podem entrar no mercado chinês a qualquer momento, desde que sigam as leis locais. Trata-se de soberania digital.
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Combate ferrenho às fake news
Na China, que mantém sua soberania digital em um ecossistema digital que obedece às leis daquele país, o enfrentamento à disseminação de notícias falsas é ferrenho.
A Administração Estatal do Ciberespaço da China (CAC, na sigla em inglês), o principal órgão regulador da internet, fecha o cerco contra a disseminação de notícias falsas no país. Desde abril de 2023, já foram derrubadas mais de 107 mil contas e excluídas 835 mil postagens com fake news. A inspeção de veracidade do conteúdo disseminado pela internet chinesa é feita pelos próprios sites.
Até janeiro deste ano, as autoridades chinesas da internet esclareceram 7,9 milhões de mensagens ilegais, trataram mais de 1,7 milhões de contas de plataformas, encerraram 562 websites e removeram 201 aplicações móveis. Tudo na luta contra a mentira, bandeira da extrema direita mundial.
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Essa verdadeira faxina foi realizada durante uma campanha nacional para esclarecer conteúdos ilegais e prejudiciais em plataformas de serviços de vida, desde conversas e redes sociais, compras online para mecanismos de pesquisa e procura de emprego.
Regulação do cyberespaço
Em novembro de 2022, a China divulgou um 'white paper' no qual apresenta a visão de desenvolvimento e governança da internet na nova era. No documento, o governo chinês compartilha as conquistas na promoção da construção de uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço e descreve as perspectivas de cooperação internacional.
Um white paper é um relatório ou guia que informa de forma concisa sobre um assunto complexo e apresenta a filosofia do órgão emissor sobre o assunto.
Intitulado "Construir conjuntamente uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço", além de problemas como desenvolvimento desequilibrado e regulamentação inadequada, o texto alerta sobre a ameaça do ciber-hegemonismo, no qual certos países usam a internet e a tecnologia da informação para interferir nos assuntos internos de outros países e se envolver em vigilância cibernética em larga escala.
O relatório observa a situação de segurança cibernética cada vez mais complexa e chamou de responsabilidade de toda a humanidade desenvolver, usar e gerenciar bem a internet e torná-la mais benéfica para a humanidade.
Atualmente, indica o livro branco, a governança do ciberespaço enfrenta problemas cada vez mais proeminentes com o rápido desenvolvimento da internet. O texto destaca a urgência de adotar esforços conjuntos vitais na construção de uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço
O white paper ressalta que a China tem o maior número de usuários de internet do mundo e, nessas circunstâncias, entende as tendências subjacentes da era da informação. A potência asiática defende uma abordagem centrada nas pessoas e apoia a governança global baseada em ampla consulta, contribuição conjunta e benefícios compartilhados.
Governança cibernética
Em março de 2023, o governo chinês divulgou outro white papper que também trabalha de questões da internet. Sob o título "Governança do Ciberespaço Baseada na Lei da China na Nova Era"
O documento se concentra em defender o Estado de direito, consolidar o sistema jurídico para a governança do ciberespaço, manter a ordem em um espaço cibernético baseado em regras, defender a igualdade e a justiça, promover a conscientização pública e a competência na governança do setor baseada na lei e aumentar os intercâmbios e a cooperação internacionais na governança do ciberespaço baseada na lei.
A China tornou a governança do ciberespaço baseada na lei uma parte essencial da estratégia geral do Estado de direito e do esforço para aumentar sua força no segmento, diz o texto.
Melhorias significativas foram feitas para garantir a governança do ciberespaço baseada na lei, aponta o estudo, acrescentando que a China impulsionou a governança do ciberespaço desenvolvendo um sistema completo de leis e regulamentos, um sistema de fiscalização altamente eficiente, um sistema de supervisão rigorosa e um sistema de apoio eficaz.
Com uma capacidade nacional mais forte de governança da internet baseada na lei, a China contribuiu com ideias e soluções para a governança global da rede.
"A China está disposta a fazer parceria com todos os países para construir uma comunidade com um futuro compartilhado no ciberespaço e criar um mundo melhor", acrescenta o livro branco.
Mercado brasileiro de carros elétricos
Para além da aplicação de leis sobre dados e internet, há mais razões para os ataques do bilionário às instituições brasileiras. E não tem nenhuma relação com qualquer defesa da liberdade de expressão, é pura e simplesmente disputa de mercado.
Neste domingo (7), o site O Cafezinho reúne dados para desenhar uma das explicações por trás da afronta do bilionário contra uma instituição da república brasileira: o mercado brasileiro para venda de carros elétricos.
Intitulado "Como Xi Jinping e Lula destruíram o sonho de Elon Musk de dominar o mercado brasileiro de carros elétricos" o texto mostra que a BYD, gigante chinesa de fabricação de carros elétricos, consolidou sua posição como líder do mercado de veículos eletrificados no Brasil em março de 2024.
Além disso, a empresa anunciou oficialmente a construção de sua primeira unidade de produção de veículos elétricos no Brasil, durante um evento com o Governo da Bahia, investindo R$ 3 bilhões em um complexo industrial de 4,6 milhões de metros quadrados que espera atingir uma capacidade de produção de aproximadamente 150 mil veículos anualmente em sua primeira etapa.
BYD desbancou empresa de Musk
Não é só no Brasil que a BYD colocou água no chopp do bilionário do X. Desde o início deste ano Musk tem remoído o fato de sua empresa da veículos elétricos, a Tesla, ter sido superada pela gigante chinesa. No último trimestre do ano passado, a fabricante com sede em Shenzhen vendeu 525.409 veículos, superando as 484.507 unidades comercializadas pela Tesla no mesmo período.
Musk já até deixou cair a máscara de defensor do livre mercado para clamar por barreiras comerciais para conter a rival chinesa. Em conversa com investidores em janeiro passado ele afirmou que, sem barreiras comerciais, as montadoras da potência asiática “irão praticamente demolir a maioria das outras empresas no mundo”.