A relação entre Donald Trump, presidente eleito dos Estados Unidos, e Xi Jinping, presidente da China, está destinada a moldar o equilíbrio geopolítico e econômico global nas próximas décadas.
Marcada por uma dinâmica de rivalidade e admiração mútua, essa interação ganha profundidade e complexidade com as análises detalhadas presentes em duas obras recentes: "The Red Emperor: Xi Jinping and His New China", de Michael Sheridan, e "On Xi Jinping: How Xi’s Marxist Nationalism Is Shaping China and the World", de Kevin Rudd.
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Ambas as publicações oferecem insights valiosos sobre a trajetória e a visão de mundo do líder chinês e não têm (ainda), versões em português.
Essas duas recomendações literárias foram feitas pelo jornalista James Kynge em texto publicado no prestigiado jornal econômico britânico Financial Times (FT) no último sábado (4), intitulado "The contradictions of Xi Jinping" (As contradições de Xi Jinping, em tradução livre).
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A força motriz de Xi Jinping
Em "The Red Emperor", Xi Jinping é descrito como uma figura multifacetada, cuja ascensão foi moldada por uma infância traumática durante a Revolução Cultural (1966-1976). Expulso de casa e forçado a trabalhos rurais, o presidente chinês transformou adversidades em resiliência política, consolidando-se como um líder com forte apego à ideologia marxista-leninista.
A obra de Sheridan destaca como essas experiências alimentaram o pragmatismo de Xi, que agora lidera uma China ambiciosa, buscando superar os Estados Unidos em influência global.
Já Rudd, ex-primeiro-ministro australiano, em "On Xi Jinping", descreve a filosofia de Xi como "nacionalismo marxista-leninista". Segundo o autor, o líder chinês centralizou o poder político, reforçou o papel das empresas estatais e adotou uma política externa assertiva, que desafia o status quo internacional.
Rudd argumenta que Xi aprendeu lições fundamentais com a queda da União Soviética em 1991, que atribuiu à perda de respeito pela ideologia marxista. Para Xi, a preservação do Partido Comunista é essencial para evitar o destino soviético.
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Em detalhes, isso significa três grandes coisas. Xi levou a política chinesa à "esquerda leninista" enfatizando a centralização na tomada de decisões. Ele levou a economia à “esquerda marxista”, enfatizando o papel das empresas estatais e da regulamentação. Por fim, a política externa sob Xi mudou-se para a “direita nacionalista”, tornando Pequim mais assertiva.
China chacoalha o mundo
Kynge, que fez a indicação desses dois livros para compreender a figura de Xi, foi chefe do escritório do FT em Pequim e também trabalhou no Japão, Taiwan, Hong Kong, Malásia, Cingapura, repúblicas da Ásia Central e Mongólia. Ele mesmo é autor de uma obra sobre a potência asiática, o "China Shakes the World", lançado em 2006 e traduzido para 19 idiomas.
No seu livro, que embora não seja indicado também deveria entrar na lista de leitura de Trump, Kynge investiga como a ascensão vertiginosa da China que transformou o comércio global e a geopolítica.
A análise dele, que já tem quase 20 anos, abrange desde Pequim até a Europa e o Meio-Oeste dos Estados Unidos e revela como a insaciável demanda chinesa por empregos, matérias-primas, energia e alimentos — juntamente com a exportação de bens, trabalhadores e investimentos — redesenhou as relações econômicas e políticas no século 21.
Kynge foi além dos números convencionais e ofereceu relatos de campo que desmistificaram explicações tradicionais sobre o crescimento da China.
Com histórias envolventes de empreendedores, operários e protagonistas do fenômeno econômico chinês, o autor explorou como o crescimento acelerado foi alcançado, os desafios extraordinários enfrentados pelo país e as implicações de tudo isso para o equilíbrio global.
A abordagem de Trump
Durante a campanha de 2024, Trump reafirmou sua postura imprevisível e agressiva em relação à China. Em entrevista ao The Wall Street Journal no dia 19 de outubro do ano passado, declarou que Xi o respeita porque "sou completamente louco".
Trump também afirmou que, em seu segundo mandato, pretende impor tarifas severas caso Pequim bloqueie Taiwan, além de exigir o cumprimento de um acordo agrícola de US$ 50 bilhões firmado durante sua primeira gestão.
As nomeações de figuras como Marco Rubio, crítico feroz da China, e Mike Waltz, defensor de uma política externa mais rígida, indicam que a nova administração Trump buscará uma abordagem ainda mais dura contra Pequim.
Enquanto isso, Xi alerta que "conter a China é fadado ao fracasso" e reforça sua posição como líder de uma China militarmente moderna e economicamente resiliente.
Um futuro incerto, mas decisivo
Com Trump e Xi em posições de poder, o mundo assiste a uma disputa que não apenas definirá o futuro das relações sino-estadunidenses, mas também impactará a ordem internacional.
Enquanto Trump busca reafirmar a supremacia dos EUA, Xi almeja o "grande rejuvenescimento da nação chinesa". Essa rivalidade reflete um embate de visões que irá moldar o século 21, com implicações profundas para comércio, segurança e alianças globais.
Com informações do Financial Times