Na tentativa de amplificar abordagens da 'ameaça da China' e justificar sua supremacia militar dos Estados Unidos, o Departamento de Defesa da potência há duas décadas publica anualmente seu relatório sobre os desenvolvimentos militares e de segurança da potência asiática.
A edição deste ano destaca uma onda de corrupção nas forças armadas da China, o Exército Popular de Libertação (PLA, da sigla em inglês), que teria prejudicado a modernização militar da potência asiática.
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Durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta quinta-feira (19), o porta-voz Lin Jian comentou a publicação.
“Este relatório, como os que já vimos antes, dá pouca ênfase à verdade. Está repleto de preconceitos e foi projetado para amplificar a narrativa da ‘ameaça da China’, apenas para justificar o desejo dos EUA de manter sua supremacia militar”, afirmou.
O porta-voz destacou que a China está totalmente comprometida em ser uma força de paz, estabilidade e progresso no mundo e igualmente determinada a defender a própria soberania, segurança e integridade territorial.
“Conclamamos os EUA a abandonarem a mentalidade da Guerra Fria e o pensamento hegemônico, a enxergar a intenção estratégica e o desenvolvimento de defesa da China de forma objetiva e racional, a pararem de emitir este tipo de relatório irresponsável ano após ano e a garantirem que suas ações contribuam para uma relação estável entre os dois países e suas forças armadas”, afirmou Lin.
China prioriza combate à corrupção militar
O governo chinês e o Partido Comunista da China (PCCh) têm adotado uma postura firme no enfrentamento de escândalos de corrupção nas Forças Armadas, tratando o tema como uma prioridade nacional e militar.
Sob a liderança do presidente Xi Jinping, a campanha anticorrupção busca fortalecer a prontidão e modernização do PLA e projetar uma imagem de integridade e eficiência.
Xi já descreveu a corrupção como um "câncer" que ameaça a eficácia militar e ressaltou a necessidade de eliminá-la para alcançar as metas de modernização até 2027.
Altos líderes militares, como o ex-ministro da Defesa Li Shangfu, foram destituídos e investigados por práticas corruptas. A remoção de líderes da Força de Foguetes do PLA (PLARF) ilustra a severidade das medidas.
A Comissão Militar Central (CMC) intensificou auditorias e controles sobre aquisições e projetos estratégicos. Além disso, mudanças nas estruturas de comando visam aumentar a supervisão e reduzir abusos de poder.
Oficiais do PLA são constantemente orientados a manter "pureza ideológica e disciplina política". A vigilância sobre a lealdade à liderança central foi ampliada, reforçando as diretrizes de Xi Jinping.
O governo chinês reconhece que a corrupção compromete a eficácia militar e lança mão de investigações internas para assegurar que recursos sejam usados de forma transparente e eficiente. Essa estratégia não só combate irregularidades, mas também consolida o controle do PCCh sobre as forças armadas, fortalecendo a confiança pública na liderança de Xi Jinping.
Embora relatórios externos, como o do Departamento de Defesa dos EUA, sugiram que a corrupção possa expor fragilidades do PLA, a China rebate essas interpretações, apresentando a campanha anticorrupção como um compromisso com a estabilidade e a força nacional. Porta-vozes oficiais afirmam que os avanços refletem o esforço do país para construir um exército "politicamente confiável, militarmente forte e moralmente íntegro".
Ao transformar desafios internos em uma oportunidade para consolidar o controle partidário, o PCCh demonstra sua determinação em atingir as metas de modernização militar. As ações em curso reforçam a disciplina e a integridade no PLA, além de fortalecer a posição da China como potência global em ascensão.
O que diz o relatório dos EUA
O relatório anual do Departamento de Defesa (DoD) dos Estados Unidos sobre o desenvolvimento militar e de segurança envolvendo a China em 2024 destaca casos de corrupção no PLA. Segundo o documento, essas irregularidades ameaçam os objetivos de modernização militar da China até 2027 e abalam a confiança do PCCh na alta hierarquia militar.
O relatório sublinha como esses escândalos expuseram "capacidades falsas de combate," enfraquecendo a credibilidade operacional do PLA e comprometendo sua estabilidade interna. Apesar disso, a China continua avançando em suas capacidades militares, especialmente em tecnologia naval, aérea e nuclear, mantendo sua meta de consolidar o status de potência global até 2049.
A fragilidade dos canais de comunicação militar entre China e Estados Unidos agrava as tensões, enquanto Washington monitora o PLA como um "desafio estratégico" para sua segurança nacional. O documento evidencia como essas dinâmicas internas e externas moldam o equilíbrio global de poder.
Leia aqui o relatório completo em inglês.
O que é o relatório
O relatório anual do Departamento de Defesa dos Estados Unidos sobre os desenvolvimentos militares e de segurança envolvendo a China é intitulado Military and Security Developments Involving the People's Republic of China.
O documento foi publicado pela primeira vez em 2000, conforme exigido pela Lei de Autorização de Defesa Nacional (National Defense Authorization Act, NDAA, de 2000). A edição deste ano é a 25a consecutiva.
A publicação tem como objetivo oferecer ao Congresso dos EUA e ao público daquele país uma análise detalhada das capacidades militares, modernização, estratégias e intenções da China.
Para que serve o relatório
O relatório é um instrumento essencial para a política de contenção dos EUA em relação à China, ajudando a moldar sua estratégia militar, diplomática e econômica frente ao crescimento da influência chinesa no cenário global.
Monitorar o crescimento militar da China: A China tem realizado uma rápida modernização de suas forças armadas, com foco na criação de um exército de "classe mundial" até 2049. O relatório busca acompanhar esse progresso e avaliar seu impacto na segurança global e na ordem internacional.
Informar políticas de defesa e segurança dos EUA: O documento orienta a formulação de estratégias de defesa dos Estados Unidos, especialmente na região do Indo-Pacífico, onde as ações da China desafiam os interesses e a presença militar dos EUA.
Promover transparência e prestação de contas: Ao apresentar um panorama detalhado das capacidades militares da China, o relatório busca justificar os investimentos em defesa dos EUA, além de expor as atividades estratégicas chinesas ao público e aliados.
Avaliar ameaças à estabilidade regional: A expansão militar da China, especialmente no Mar do Sul da China e em relação a Taiwan, é uma preocupação central. O relatório destaca como, na visão dos EUA, as ações chinesas podem desestabilizar a região do Indo-Pacífico.
Fortalecer relações com aliados: A publicação serve como base para dialogar com aliados e parceiros estratégicos, promovendo uma resposta coordenada às iniciativas chinesas no campo militar e econômico.
EUA de olho na defesa do mundo
Além do relatório anual sobre os Desenvolvimentos Militares e de Segurança Envolvendo a China, o Departamento de Defesa dos Estados Unidos e outras agências governamentais produzem uma série de documentos semelhantes que analisam o ambiente de segurança global, as capacidades militares de outras nações e temas estratégicos relevantes.
Esses documentos são destinados a informar o Congresso dos EUA, formuladores de políticas, aliados e o público em geral. Eles fornecem um panorama detalhado do ambiente de segurança global e das capacidades adversárias. Muitos desses documentos também estão disponíveis ao público, com versões não classificadas acessíveis em sites oficiais do Departamento de Defesa.
Relatório Anual sobre Desenvolvimentos Militares e de Segurança Envolvendo a Rússia
Avaliação das capacidades militares, modernização de armas, táticas de guerra híbrida e comportamento estratégico da Rússia. O objetivo é monitorar o papel da Rússia como uma das principais ameaças à segurança dos EUA e da OTAN, especialmente no contexto do leste europeu e do Ártico.
Relatório de Defesa do Indo-Pacífico
Estratégias de defesa dos EUA para a região do Indo-Pacífico, incluindo a presença militar americana, parcerias estratégicas e ameaças regionais, como China e Coreia do Norte. O objetivo é garantir a estabilidade na região e proteger interesses americanos e de seus aliados.
Relatório de Avaliação da Postura Nuclear
Avaliação das capacidades nucleares dos EUA e de outras nações, como China, Rússia, Coreia do Norte e Irã para oferecer uma análise de como os avanços em armamentos nucleares impactam a política de dissuasão e a segurança global.
Relatório de Poder Militar do Irã
Análise das capacidades militares do Irã, incluindo mísseis balísticos, drones, guerra cibernética e atividades de forças proxy no Oriente Médio. O objetivo é avaliar como as ações iranianas afetam a estabilidade regional e a segurança dos aliados dos EUA no Golfo Pérsico.
Relatório de Operações de Guerra no Espaço
Monitoramento das capacidades espaciais de potências como China e Rússia, incluindo satélites militares e sistemas de guerra antissatélite. O objetivo é garantir a superioridade espacial dos EUA em um domínio cada vez mais militarizado.
Relatório de Defesa Cibernética
Capacidades de guerra cibernética de países adversários, como China, Rússia, Irã e Coreia do Norte, e ameaças contra infraestruturas críticas americanas. O objetivo é identificar vulnerabilidades e fortalecer as defesas cibernéticas dos EUA e de seus aliados.
Estratégia de Defesa Nacional (NDS)
Documento estratégico que orienta as prioridades de defesa dos EUA a cada quatro anos, abordando as ameaças globais e os desafios emergentes. Visa estabelecer as principais diretrizes para as forças armadas americanas em resposta ao ambiente de segurança internacional.
Relatórios de Avaliação Regional (Específicos por Área)
- Europa: Concentra-se na segurança da OTAN e na resposta às ameaças russas.
- África: Avalia desafios relacionados ao terrorismo e ao impacto da influência chinesa e russa no continente.
- Oriente Médio: Foca na estabilidade regional, terrorismo e disputas geopolíticas.
Relatórios de Avaliação do Clima e Segurança
Como mudanças climáticas impactam a segurança global, incluindo deslocamentos populacionais, conflitos por recursos e impactos em bases militares. O objetivo é integrar considerações climáticas às estratégias de defesa.