Por décadas, o desenvolvimento econômico da China foi sinônimo de produção em massa e industrialização e o artesanato tradicional ficou relegado às margens dessa economia. Agora, ao lado de seu foco na alta tecnologia, a potência asiática tem impulsionado os saberes tradicionais do povo como forma de reduzir as desigualdades regionais, gerar emprego, estimular o empreendedorismo de jovens e avançar na eliminação da pobreza.
O jornal chinês South China Morning Post (SCMP) deste domingo (25) traz a história de Liu Qinlan, um exemplo de como o renascimento da confiança cultural na China tem gerado oportunidades para empreendedores e preservado o patrimônio cultural do país.
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Liu Qinlan era professora de jardim de infância em Guiyang, capital da província de Guizhou, no sul da China. Em 2023, aos 25 anos, ela decidiu retornar à sua cidade natal, no condado rural de Rongjiang, para abrir um negócio comunitário focado na venda de produtos tradicionais locais, como joias de prata e roupas tingidas com cera – mesmo sem experiência prévia no setor.
No segundo ano de seu empreendimento, Liu já coordena mais de 40 artesãs locais que comercializam seus produtos em sua loja, além de uma equipe de 10 bordadeiras, todas mulheres que anteriormente dependiam exclusivamente da agricultura. Hoje, essas artesãs não apenas ganham uma renda estável como também preservam a herança cultural de sua região.
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Ajuda para empreender
O sucesso de Liu Qinlan foi impulsionado por políticas de apoio do governo local de Rongjiang, que promove o empreendedorismo e a preservação de artesanatos tradicionais da cultura Miao. Liu recebeu mais de 9 mil yuan (cerca de 1.230 dólares) em subsídios governamentais, destinados ao aluguel de sua loja e à expansão de seu negócio.
Além disso, Liu participou de viagens patrocinadas pelo governo para outras regiões da China, onde compartilhou sua experiência e buscou inspiração em negócios similares. Os incentivos também incluíram um pagamento único para empreendedores que, como Liu, deixaram as grandes cidades para investir em suas cidades natais – uma estratégia que visa criar empregos locais e reduzir a migração para centros urbanos.
Liu também aproveitou a crescente popularidade do torneio de futebol local Cunchao (ou “Super Liga das Aldeias”), que combina esportes com apresentações culturais de minorias étnicas, como os Miao – o maior grupo étnico de Guizhou e ao qual Liu pertence.
Essas iniciativas fazem parte de uma política nacional mais ampla que busca revitalizar áreas rurais, proteger o patrimônio cultural e incentivar a sustentabilidade econômica de práticas culturais que poderiam desaparecer sem apoio adequado.
Tradicional e moderno
O governo chinês tem investido em infraestrutura e incentivos para conectar tradições culturais, como artesanatos, aos mercados modernos. Esse esforço não apenas apoia comunidades locais, mas também promove o conceito de "confiança cultural", defendido por Xi Jinping.
Essa confiança cultural foi introduzida em 2012, durante o 18º Congresso Nacional do Partido Comunista da China (PCCh), e é um dos pilares das “Quatro Confianças”, conceito central do pensamento político de Xi Jinping e fundamental para a construção do socialismo com características chinesas.
As Quatro Confianças
- Confiança no Caminho: Refere-se à crença de que o socialismo com características chinesas é o modelo mais adequado para o desenvolvimento do país.
- Confiança na Teoria: Baseia-se na aceitação das teorias socialistas desenvolvidas pelo PCCh, incluindo o "Pensamento de Xi Jinping sobre o Socialismo com Características Chinesas para uma Nova Era".
- Confiança no Sistema: Destaca a estabilidade e a eficácia do sistema político socialista liderado pelo PCCh.
- Confiança na Cultura: Foca na valorização e relevância da cultura tradicional e contemporânea chinesa como pilares da identidade nacional.
Impacto da Iniciativa de Liu
A história de Liu Qinlan é um exemplo concreto de como políticas governamentais estão ajudando a transformar regiões menos desenvolvidas. Além de promover a preservação cultural, iniciativas como a dela demonstram que é possível unir tradição e modernidade para gerar oportunidades econômicas.
Hoje, Liu se orgulha de liderar um negócio que congrega mulheres artesãs e contribui para a autoestima e sustento de dezenas de famílias em Rongjiang.
“Acredito que não podemos deixar nosso patrimônio cultural intangível desaparecer. Se dependermos demais de tecnologias modernas, essas habilidades ancestrais podem ser esquecidas, e as novas gerações deixarão de aprender nossos ofícios tradicionais", contou Liu.
A jovem empreendedora continua dedicada a preservar as tradições Miao, mostrando que o artesanato não é apenas uma ponte para o passado, mas também uma ferramenta poderosa para construir um futuro sustentável e promover a redução da desigualdade e a eliminação da pobreza.
