A Vila Mengwu Miao, localizada no Condado Autônomo Rogshui, na Região Autônoma de Guangxi, no sul da China, recebeu um grupo de jornalistas de 13 nacionalidades durante uma manhã chuvosa de Primavera de março de 2023.
Guangxi, de um modo geral, experimenta uma realidade bem diferente de outras localidades vizinhas, na costa leste da China, a mais rica do país asiático.
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Exemplos como Xangai, o centro financeiro do país, e Shenzhen, centro global em tecnologia, pesquisa, fabricação, negócios e economia, na província de Guangdong (ou Macau para os falantes da língua portuguesa).
Cultura e turismo para aliviar pobreza
Rongshui faz parte do grupo de condados prioritários nas iniciativas nacionais de combate à pobreza. Uma das maneiras de erradicar a miséria foi por meio da cultura e da ancestralidade.
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Desde 2016, aproximadamente 30 mil indivíduos no condado superaram a pobreza graças ao crescimento do setor turístico, o que representa cerca de 25% do total da população que saiu da pobreza no condado.
Uma das estratégias que deram certo foi a criação de um parque cultural autêntico Miao, uma iniciativa para integrar as famílias pobres que foram transferidas para a área urbana e foram alocadas em casas tradicionais restauradas.
O ponto turístico usa os ricos recursos culturais, étnicos e turísticos da região para enfrentar a pobreza e promove o turismo como a espinha dorsal da sua estratégia de alívio da pobreza.
Recepção calorosa do povo Miao
A vila ocupa uma área de cerca de 20 mil metros quadrados e oferece a oportunidade de experimentar vários costumes da cultura étnica Miao.
O local fornece fontes de renda e várias oportunidades de emprego, como a manutenção de espaços verdes, administração de instalações recreativas e realização de apresentações de música e dança tradicionais.
Os visitantes do Brasil, Argentina, El Salvador, Nicarágua, Jamaica, Senegal, Tanzânia, Egito, Jordânia, Bulgária, Tajiquistão, Geórgia e República Tcheca foram recebidos pelo líder do vilarejo acompanhado por um grupo de jovens.
As mulheres dançavam sob o som de instrumentos tocados por homens. Todos vestidos em trajes típicos.
Lusheng, a gaita de boca dos Miao
Entre os instrumentos musicais tocados pelo grupo está o lusheng. A gaita de boca composta por vários tubos de bambu, cada um com uma palheta livre, montados em um tubo de sopro longo feito de madeira é uma herança cultural desse povo.
O lusheng desempenha um papel cultural importante nas comunidades Miao, especialmente em casamentos e cerimônias religiosas.
Durante o festival do lusheng, celebrado anualmente entre os dias 27 e 29 de setembro, os músicos costumam realizar performances enquanto tocam o instrumento.
A arte de fazer e tocar o lusheng foi incluída na Lista de Patrimônio Cultural Imaterial da China em 20 de maio de 2006.
Roupas que contam histórias
Os trajes típicos do povo Miao são marcados por diversidade de estilos e cores vibrantes cuja origem remonta à Dinastia Qin (cerca de 300 a.C.).
As vestimentas das mulheres são marcadas pelo intenso colorido, em especial o uso do vermelho, preto, branco, amarelo e azul e os bordados intrincados.
Essas vestimentas, ricas em detalhes e significados, são tradicionalmente passadas de mãe para filha.
As jovens começam a criar seus próprios trajes desde cedo, um processo detalhado que pode levar até dois anos, refletindo não apenas beleza, mas também a história e as crenças da cultura Miao.
O modo de vestir dos homens é mais simples: uma jaqueta curta, calças de feltro de lã com figuras geométricas nos ombros, cabeças cobertas com um chapéu com bordado e faixas de tecido coloridas amarradas nas panturrilhas.
Os trajes Miao são mais que simples vestimentas; são registros vivos da história e tradições deste povo, contando desde lendas de suas origens até práticas culturais, tudo sem o uso da escrita.
Essas roupas variam conforme a região e a idade. Em geral, um vestido feminino completo pode ser bastante pesado e inclui uma blusa de gola larga e saia plissada, adornada com até 40 camadas de tecido, brocados, bordados minuciosos e batik - uma técnica de tingimento que cria padrões únicos com cera quente.
Arte em prata: tradição entre gerações
Outra característica dos trajes Miao são os acessórios de prata - ornamentos para a cabeça e os cabelos, gargantilhas, colares, anéis, brincos e pulseiras. As técnicas para fazer essas peças em prata à mão foram passadas de geração em geração.
Na vila, os jornalistas estrangeiros assistiram a uma exibição feita por um artesão, que explicou como as peças são produzidas artesanalmente, repletas de detalhes e de uma leveza que chama a atenção.
Cada item pode ser considerado uma obra delicada, com valor artístico e um artigo de coleção. Além disso, cada família guarda técnicas exclusivas herdadas dos antepassados.
Os designs tradicionais de acessórios de prata vêm de mitos e lendas da etnia como coroas luminosas, borboletas, pássaros, moinhos de água e símbolos de santuários familiares.
Para o povo Miao, a prata simboliza status e prosperidade e também é vista como uma proteção contra espíritos malignos.
Alegria, música, ervas e arroz
Outra experiência oferecida aos visitantes foi uma cerimônia na qual mulheres da etnia entoaram canções tradicionais em volta de um fogo de chão para preparar um tipo de chá bastante peculiar.
Um punhado de ervas é refogado em óleo vegetal e depois uma generosa dose de arroz cru é acrescentada e permanece no fogo até ficar crocante. Água e açúcar são acrescidas à mistura.A sensação é de um "chá de pipoca".
O líder da vila Miao revela que todas as mulheres da etnia já nascem sabendo cantar e dançar.
Vários caminhos chineses para a modernidade
A visita à vila Miao permitiu aos jornalistas estrangeiros um vislumbre de como o conceito de modernização chinesa, que passa pelo alívio da pobreza rumo à busca pelo desenvolvimento de alta qualidade, se adapta às realidades e particularidades de um país com dimensões continentais e população multiétnica.
Além do turismo e da cultura tradicional, o povo Miao usa canais de comércio eletrônico para vender produtos feitos pela população tanto para o mercado interno chinês quanto para países vizinhos da Ásia.
Desde 2016, aproximadamente 30 mil pessoas desse condado superaram a pobreza graças ao crescimento do setor turístico, o que representa cerca de 25% do total da população que saiu da pobreza nesta localidade.
Além disso, também desde 2016, o condado retirou 89 vilas da condição de pobreza e ajudou mais de cem mil moradores rurais a superar a condição de pobreza. Entre elas a Vila Mengwu Miao.
* Iara Vidal viajou para a Região Autônoma de Guangxi a convite do Ministério das Relações Exteriores da China