O novo secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, é proibido de entrar na China desde agosto de 2020. Os posicionamentos e declarações dele sobre Xinjiang, Hong Kong e Taiwan deixam à mostra a complexidade da relação entre Washington e Pequim nesta segunda administração de Donald Trump.
Naquele ano, Pequim sancionou o senador republicano da Flórida sob a alegação de "comportamento flagrante" relacionado a questões sensíveis para o governo chinês e que são consideradas assuntos internos da China.
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As sanções são uma forma de retaliação política e simbólica, usadas pela China para demonstrar descontentamento com as ações ou declarações de Rubio, particularmente em questões como direitos humanos em Hong Kong e Xinjiang.
Ao sancionar figuras proeminentes, como Rubio, a China envia uma mensagem de que não tolerará interferências percebidas em seus assuntos internos.
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Xadrez diplomático em andamento
Durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta terça-feira (21), em Pequim, o porta-voz Guo Jiakun foi questionado sobre as complicações ou impedimentos que isso pode representar para uma relação bilateral significativa entre os EUA e a China.
Perguntado se a China consideraria suspender as sanções contra o secretário de Estado de Trump, o diplomata tergiversou.
“A China defenderá firmemente os interesses nacionais. Ao mesmo tempo, é necessário que autoridades de alto nível da China e dos Estados Unidos mantenham contato de maneira apropriada”, afirmou.
Entenda o caso
Em agosto de 2020, a China anunciou sanções contra autoridades dos EUA, incluindo os senadores Marco Rubio, atual secretário de Estado, e Ted Cruz, do Texas.
A decisão foi tomada depois de Washington sancionar um alto representante do Partido Comunista da China (PCCh) e três outras autoridades chinesas sobre supostos abusos de direitos humanos em Xinjiang, onde a potência asiática é reiteradamente acusada de perseguir os uigures, a minoria muçulmana chinesa. O governo chinês nega essas acusações.
À época, a então porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hua Chunying - que hoje é vice-ministra da pasta - falou sobre as sanções aos dois senadores além do então embaixador Sam Brownback, e do representante Chris Smith.
“Xinjiang é assunto interno da China e os Estados Unidos não têm o direito de interferir. Pedimos que os Estados Unidos retirem imediatamente suas decisões erradas, parem de interferir nos assuntos internos da China ou de prejudicar os interesses da China", disse Hua.
O que significam as sanções contra Rubio
Na prática, as sanções impostas pela China ao senador Marco Rubio em 2020 têm implicações principalmente simbólicas e diplomáticas, mas podem trazer restrições específicas que limitam suas interações com o país.
Proibição de entrada na China
Rubio não pode viajar para o território chinês, incluindo Hong Kong e Macau. Isso limita sua capacidade de participar de reuniões, negociações ou eventos presenciais envolvendo o governo ou instituições chinesas.
Congelamento de ativos
Caso Rubio possua ou venha a ter bens ou investimentos em território chinês, esses ativos seriam congelados. Isso inclui contas bancárias, propriedades ou quaisquer interesses financeiros.
Restrições a transações comerciais
Empresas ou indivíduos chineses são proibidos de realizar negócios diretamente com Rubio. Isso pode incluir restrições a contratos ou colaborações envolvendo entidades nas quais ele tenha participação.
Limitações de engajamento diplomático
Embora as sanções não impeçam diretamente conversas diplomáticas formais entre os EUA e a China, elas podem criar um constrangimento em interações envolvendo Rubio, especialmente no contexto de sua nomeação como secretário de Estado. Oficiais chineses podem hesitar em participar de encontros ou negociações onde Rubio esteja presente.
O que Rubio pode fazer na China?
Participar de negociações internacionais
Como secretário de Estado, Rubio ainda pode liderar ou participar de negociações bilaterais e multilaterais com a China, embora de forma limitada pela proibição de entrada no país.
Defender políticas contra a China
Ele pode continuar promovendo legislações nos EUA relacionadas à China, como restrições comerciais, sanções econômicas e medidas de segurança nacional.
Colaborar com aliados
Rubio pode trabalhar com outros países para alinhar estratégias contra ações chinesas, especialmente em áreas como direitos humanos, comércio e segurança cibernética.
Embora as sanções sejam específicas, elas criam um contexto de dificuldade política e diplomática. A posição de Rubio como secretário de Estado pode exigir maior flexibilidade nas interações com a China, algo que será mais difícil sob o peso das sanções.
Sinofobia doentia de Rubio
Rubio é um crítico contumaz contra a China e ataca a potência asiática sobre a contenção de Pequim aos protestos “pró-democracia” em Hong Kong, apresentou projetos para proibir importações associadas ao alegado e reiteradamente negado pelo país asiático de “trabalho forçado” em Xinjiang e apoiou a venda de armas dos EUA para Taiwan.
Proteção de tecnologias dos EUA
Rubio tem alertado que "a China comunista é o adversário mais poderoso que os Estados Unidos enfrentaram em memória recente". Em um relatório de setembro de 2024 intitulado “The World China Made” (O Mundo Feito pela China), Rubio argumenta que o PCCh controla a maior base industrial do mundo por meio de "subsídios que distorcem o mercado" e "roubo desenfreado".
O documento foi retirado do ar, mas é possível ler um resumo no site de notícias da Flórida West Orlando News, em inglês, aqui.
O hoje secretário de Estado defendeu um esforço conjunto de legisladores, CEOs e investidores dos EUA para "reconstruir nosso país, superar o desafio chinês e manter a tocha da liberdade acesa para as próximas gerações."
Rubio tem sido crítico das colaborações de pesquisa entre EUA e China, alegando que fundos públicos foram utilizados inadvertidamente para apoiar experimentos militares chineses em áreas como tecnologia furtiva, semicondutores e cibersegurança.
Em julho de 2024, ele apresentou um projeto de lei para fortalecer a pesquisa dos EUA, incluindo a criação de um banco de dados “TRUST” para rastrear entidades chinesas de alto risco, aumentar a transparência em pedidos de financiamento e impor sanções para financiamentos estrangeiros não divulgados.
Revogação do Status de "Nação Mais Favorecida" da China
Rubio é coautor de um projeto de lei que busca revogar o status de Relações Comerciais Normais Permanentes (PNTR, da sigla em inglês) da China com os Estados Unidos, marcando um movimento em direção a uma estratégia comercial mais protecionista.
A lei visa impor tarifas mais altas às importações chinesas, fortalecer cadeias de suprimentos e reduzir a dependência estadunidense de produtos chineses.
Monitoramento de direitos humanos
Rubio presidiu a Comissão Executiva do Congresso sobre a China (CECC) entre 2017 e 2019 e continua a atuar como comissário. A comissão monitora a conformidade da China com padrões internacionais de direitos humanos e mantém uma lista de supostas vítimas de abusos.
Ele se encontrou com ativistas pró-democracia de Hong Kong e tem sido um defensor fervoroso do movimento. Ele apresentou a Lei de Direitos Humanos e Democracia de Hong Kong, que foi sancionada em 2019.
A China vê essas ações como ataques diretos à sua soberania e rejeita categoricamente qualquer interferência em Hong Kong, que considera uma questão puramente interna. Com Rubio à frente do Departamento de Estado, é esperado que Pequim endureça sua postura contra críticas externas relacionadas à região.
Apoio a Taiwan
Rubio tem defendido relações mais estreitas entre EUA e Taiwan, liderando esforços legislativos como o Taiwan Travel Act, assinado por Trump em 2018, que removeu restrições de viagens para autoridades taiwanesas e americanas.
Em 2024, ele apresentou uma resolução reafirmando o compromisso dos EUA com a “democracia vibrante” de Taiwan e reconhecendo os 45 anos da Lei de Relações com Taiwan.
Rubio continua sendo uma voz crítica contra a coerção econômica, militar e política da China em relação a Taiwan. Ele também é autor de leis para fortalecer a dissuasão no Estreito de Taiwan, garantindo que Taipei tenha recursos para resistir a pressões de Pequim.
Para o governo chinês e o princípio de “Uma Só China” - ao qual os EUA oficialmente adere - Taiwan faz parte da China as ações de Rubio representam uma ameaça direta à sua reivindicação de soberania.
A China rejeita com veemência qualquer gesto de suposto reconhecimento internacional à província insular e tem intensificado sua presença militar no estreito de Taiwan como resposta às medidas de Washington.
Xinjiang: direitos humanos e Uigures
Rubio foi um dos arquitetos da Lei de Política de Direitos Humanos dos Uigures, sancionada em 2020, que impôs sanções a autoridades chinesas acusadas de abusos em Xinjiang.
Ele também liderou iniciativas para banir produtos ligados ao suposto “trabalho forçado” na região. A China rejeitou essas ações como interferências em assuntos internos, descrevendo as acusações de abusos como "infundadas" e justificando suas políticas em Xinjiang como medidas antiterrorismo.
Pequim considera Rubio um dos críticos mais contundentes de sua política em Xinjiang e resiste a qualquer cooperação que envolva relaxamento das sanções ou diálogo sobre direitos humanos. Esse histórico torna improvável uma aproximação na questão, intensificando tensões no diálogo sino-americano.
O que esperar de Rubio na diplomacia
Pequim já indicou, por meio de declarações como as do porta-voz Guo Jiakun nesta terça-feira, que continuará defendendo seus interesses nacionais firmemente, enquanto busca manter contato com autoridades de Washington de maneira apropriada.
No entanto, a presença de Rubio, com seu histórico de críticas e sanções, pode dificultar qualquer tentativa de diálogo substancial. A resistência de ambas as partes em ceder sobre questões centrais, como direitos humanos e soberania, configura um cenário de escalada diplomática e possível intensificação de retaliações econômicas e políticas.
A relação entre China e EUA sob a liderança diplomática de Rubio enfrentará desafios significativos, com Pequim interpretando suas ações como um reforço da postura americana de contenção e confronto estratégico.