CHINA EM FOCO

Nova Era Trump: China vai driblar protecionismo de Washington, aposta Financial Times

Enquanto os EUA intensificam a guerra comercial, a potência asiática supera restrições com tecnologia e estratégias globais

China vai driblar protecionismo de Washington, aposta Financial Times.Donald Trump e Xi Jinping em Buenos Aires, Argentina, em 1º de dezembro de 2018.Créditos: Xinhua
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Nesta segunda-feira (20) começa o segundo mandato de Donald Trump na Casa Branca. Essa nova era Trump deve ser marcada pelo foco em políticas protecionistas para pressionar a China no comércio, na indústria e na tecnologia.

O senso comum desenha uma verdadeira hecatombe global contra o livre mercado e o crescimento da China. 

Na contramão, o redator líder de economia no Financial Times, jornal britânico que é considerado a “Bíblia do liberalismo”, Tej Parikh, avalia que as medidas planejadas por Trump podem ter um impacto menor sobre a economia chinesa do que muitos esperam.

"Compreensivelmente, muitos acham que tarifas e restrições adicionais à China serão ruins para sua economia. Mas os esforços protecionistas de Trump podem causar menos danos do que o esperado. Na verdade, a indústria chinesa pode prosperar apesar (ou até por causa) deles”, escreve Parikh.

No texto, publicado na versão dominical do boletim informativo "Free Lunch", focado no debate sobre políticas econômicas globais, Parikh ressalta que desde o primeiro mandato de Trump, a China diversificou sua economia e reduziu a dependência do mercado estadunidense.

Intitulado “China can outfox Trump’s tariffs” (A China pode driblar as tarifas de Trump, em tradução livre), o artigo informa que, atualmente, a demanda dos EUA por bens chineses representa apenas 2,8% do PIB da China, de acordo com a Capital Economics.

Mesmo em um cenário extremo, no qual as tarifas aumentem de 15% para 60%, o impacto estimado seria uma redução de apenas 1% no PIB da potência asiática.

Além disso, a China tem ampliado suas exportações para mercados emergentes e outras economias desenvolvidas, especialmente as ligadas à Iniciativa do Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, consolidando parcerias econômicas de longo prazo.

Estratégias de adaptação e competitividade

Para contornar as tarifas, empresas chinesas utilizam táticas como transbordo de mercadorias via terceiros países, enquanto investem na construção de fábricas em diversas regiões do mundo. A desvalorização do renminbi, a moeda da China, mais conhecida como yuan, também contribui para manter a competitividade das exportações chinesas, mitigando o impacto econômico das tarifas.

A resiliência da indústria chinesa também se apoia na sua posição de liderança em setores estratégicos, como veículos elétricos, baterias e energias renováveis. A China controla 70% da oferta global de terras raras, essenciais para essas indústrias.

Inovação impulsionada pelo protecionismo

As restrições impostas pelos EUA têm estimulado o avanço tecnológico chinês. Sob a liderança de Xi Jinping, a China direciona investimentos estatais para a inovação científica, fortalecendo a independência tecnológica. 

Empresas como Huawei e SMIC demonstram a capacidade do país de desenvolver tecnologias de ponta, mesmo diante de restrições ocidentais, como a exclusão de cadeias globais de semicondutores.

Estatísticas mostram o crescimento impressionante da China em inovação: entre 2019 e 2023, o país liderou o desenvolvimento de 57 das 64 tecnologias críticas globais, de acordo com o Instituto de Políticas Estratégicas da Austrália.

“Isso significa que os controles de exportação dos EUA podem incentivar empresas chinesas — apoiadas por Pequim — a redobrar esforços na substituição de importações e independência tecnológica por meio de soluções alternativas inovadoras, colaboração doméstica e até mesmo mercados paralelos. Os fabricantes enfrentam ‘competição feroz’ entre si por suporte estatal”, escreve Parikh.

Desafios e incertezas

Apesar de sua resiliência, o jornalista britânico avalia que a China enfrenta desafios internos significativos, como a desaceleração do crescimento econômico e os efeitos prolongados da crise imobiliária. Além disso, a dependência de um modelo de inovação liderado pelo Estado apresenta riscos, incluindo alocações ineficientes de recursos.

Por outro lado, a agenda protecionista de Trump pode criar instabilidade global, reduzindo a demanda e ampliando os impactos econômicos.

“As tarifas de Trump podem não ser tão prejudiciais à supremacia tecnológica e industrial da China quanto o previsto. Pequim tem desafios maiores com que se preocupar”, observa.

O que está em jogo?

Embora as tarifas possam não ser tão prejudiciais quanto esperado, a competição entre EUA e China continua moldando o futuro econômico global.

O fortalecimento das capacidades tecnológicas chinesas, impulsionado pelo protecionismo, reforça sua posição como uma potência industrial e tecnológica.

Com os olhos voltados para o futuro, a interação entre inovação, políticas protecionistas e a busca pela autossuficiência tecnológica continuará a ser um campo de disputa estratégica entre as duas maiores economias do mundo.

Leia aqui o artigo completo no Financial Times (em inglês)

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