CHINA EM FOCO

China tem papel central na geopolítica do mundo multipolar, aponta Fórum Econômico Mundial

Relatório Global de Riscos 2025 da entidade destaca que potência asiática tem crescente importância econômica e política na nova ordem global que se consolida

China tem papel central na geopolítica do mundo multipolar.Relatório Global de Riscos 2025 do Fórum Econômico Mundial destaca que a China tem crescente importância econômica e política na nova ordem global que se consolida.Créditos: Fotomontagem (Canva)
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A China é um país cada vez mais relevante para o mundo. É o que aponta o Relatório Global de Riscos 2025, publicação anual do Fórum Econômico Mundial (WEF, da sigla em inglês).

O documento apresenta a China como uma potência indispensável na mitigação de riscos globais, com influência abrangendo sustentabilidade, economia, geopolítica e tecnologia.

Ao mesmo tempo, o relatório sublinha os desafios associados à dependência global das cadeias de suprimentos chinesas e ao impacto de sua ascensão nas dinâmicas internacionais.

Presença da China no Fórum de Davos

Durante a coletiva regular de imprensa do Ministério das Relações Exteriores da China nesta sexta-feira (17) em Pequim, o porta-voz Guo Jiakun anunciou a participação do país na Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial 2025 em Davos, Suíça, de 20 a 24 de janeiro. 

A China será representada pelo integrante do Comitê Permanente do Bureau Político do Comitê Central do Partido Comunista da China (PCCh) e vice-primeiro-ministro chinês Ding Xuexiang, que também vai fazer uma visita oficial à Suíça e aos Países Baixos nesse período.

O porta-voz informou que a participação da China no evento mundial atenderá a um convite de Klaus Schwab, fundador e presidente do Conselho de Curadores do WEF, e dos governos da Suíça e dos Países Baixos.

“O Fórum Econômico Mundial, conhecido como um termômetro econômico global, é um dos fóruns econômicos não oficiais mais influentes do mundo”, observou Guo.

O porta-voz relembrou que o presidente da China, Xi Jinping, participou do fórum em três ocasiões, onde proferiu importantes discursos. Nessas ocasiões, o líder chinês enviou uma forte mensagem de apoio à globalização econômica, à defesa e à prática do multilateralismo, além de enfatizar a importância da criação conjunta de um mundo melhor.

Guo observou que o evento deste ano terá como tema “Colaboração para a Era Inteligente” e contará com a presença de partes relevantes para discutir como fortalecer a cooperação e aproveitar conjuntamente as oportunidades de desenvolvimento na era da inteligência. O vice-primeiro-ministro Ding Xuexiang fará um discurso especial na sessão plenária de abertura da reunião anual.

“Ao participar da reunião anual, a China espera fortalecer as trocas e a comunicação com outras partes, ampliar o entendimento e a confiança, reunir consenso para a cooperação, defender o verdadeiro multilateralismo, promover um mundo multipolar igualitário e ordenado, além de uma globalização econômica inclusiva e mutuamente benéfica. A China busca contribuir para melhorar a governança econômica global e impulsionar o crescimento econômico mundial”, encerrou o porta-voz.

China no Relatório Global de Riscos 2025

O Relatório Global de Riscos 2025 do Fórum Econômico Mundial destaca a China como um dos atores mais influentes nas dinâmicas globais. O documento explora a relevância do país em áreas como geopolítica, transição energética, cadeias de suprimentos, inovação tecnológica e colaboração internacional. Apesar de seu papel central, o relatório também aponta desafios associados à ascensão chinesa e à dependência global de sua economia.

Relevância geopolítica e econômica

A China é descrita como uma potência em ascensão que está moldando o cenário global. O relatório enfatiza sua influência em um mundo cada vez mais multipolar, no qual grandes potências regionais, como a China, estão desafiando a supremacia de modelos tradicionais liderados pelo Ocidente. A competição estratégica com os Estados Unidos é um elemento chave, afetando áreas como comércio, tecnologia e política externa.

Além disso, a vasta base industrial chinesa e seu papel como centro de cadeias globais de suprimentos são destacados como fatores que solidificam sua posição econômica. No entanto, a dependência de outras economias de produtos e recursos chineses também representa uma vulnerabilidade em um cenário de crescente fragmentação global.

Transição energética e sustentabilidade

A China reafirma seus compromissos climáticos, incluindo o objetivo de atingir o pico de emissões de carbono antes de 2030 e a neutralidade de carbono até 2060. O relatório destaca a liderança do país em energias renováveis, com avanços significativos em energia solar, eólica e armazenamento de energia. Em 2023, produtos chineses nesses setores ajudaram outros países a reduzir emissões substanciais de CO2, evidenciando o impacto global das tecnologias sustentáveis produzidas no país.

A transição energética da China é descrita como um exemplo de como países em desenvolvimento podem liderar o combate às mudanças climáticas. Contudo, o relatório reconhece os desafios de alinhar uma economia baseada em manufatura intensiva ao compromisso de reduzir emissões.

Cadeias de suprimentos e riscos tecnológicos

O domínio da China na mineração e no processamento de materiais críticos, como terras raras, é apontado como estratégico para a produção de tecnologias avançadas. Esses materiais são essenciais para indústrias globais, como a de energia renovável e semicondutores.

Por outro lado, o relatório alerta para os riscos associados à dependência global de semicondutores e outros componentes fabricados na China. Interrupções no fornecimento ou tensões comerciais podem gerar impactos desproporcionais na economia mundial, tornando as cadeias de suprimentos vulneráveis.

Inovações tecnológicas e riscos cibernéticos

O avanço chinês em tecnologias emergentes, como inteligência artificial e redes 5G, é descrito como uma das principais fontes de competitividade do país. A capacidade da China de estabelecer padrões globais em tecnologias inovadoras reforça sua liderança no setor tecnológico.

No entanto, o relatório também aponta preocupações com o uso dessas tecnologias para fins cibernéticos ou de espionagem. A crescente influência tecnológica da China gera tensões em um cenário global já marcado por desconfiança em questões de segurança digital.

Colaboração internacional e cooperação multilateral

A China é retratada como defensora do multilateralismo, promovendo maior igualdade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. O relatório destaca as parcerias estratégicas do país, especialmente em infraestrutura sustentável e transferência de tecnologia, com foco em apoiar economias emergentes.

Ao mesmo tempo, a abordagem chinesa para fortalecer sua posição em fóruns internacionais reflete sua estratégia de consolidar uma ordem global multipolar. A ampliação da cooperação Sul-Sul, liderada pela China, é vista como uma tentativa de equilibrar a influência tradicional das potências ocidentais.

O relatório reconhece a China como um ator indispensável para enfrentar riscos globais. Sua liderança em sustentabilidade, inovação tecnológica e cooperação internacional é central para moldar o futuro global.

Contudo, os desafios associados à dependência de suas cadeias de suprimentos, tensões geopolíticas e competição tecnológica destacam as complexidades de seu papel no cenário mundial. A ascensão da China é tanto uma oportunidade quanto um desafio para a governança global, exigindo respostas coordenadas e multilaterais.

Contradição da emissão de gases de efeito estufa

Ao abordar a meta da China de alcançar o pico de emissões de carbono antes de 2030 e a neutralidade de carbono até 2060, o relatório da WEF considera esses objetivos como cruciais, já que a potência asiática é o maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.

LEIA TAMBÉM: China defende medir emissões de carbono a partir do consumo e não da produção

A liderança da China na emissão de gases de efeito estufa é baseada na Contabilidade Baseada na Produção (PBA, da sigla em inglês). Este método contabiliza as emissões geradas durante a produção de bens e serviços dentro de uma determinada área geográfica, independentemente de onde esses produtos serão consumidos. 

O PBA é tradicionalmente utilizado para inventários nacionais de emissões, como os reportados à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC, da sigla em inglês) e também do WEF.

A China, no entanto, defende a adoção da Contabilidade Baseada no Consumo (CBA, da sigla em inglês). Este método considera as emissões associadas aos bens e serviços consumidos em uma região, independentemente de onde foram produzidos. 

Ao contabilizar as emissões incorporadas nos produtos importados, o CBA revela a verdadeira pegada de carbono de um país, proporcionando uma imagem mais precisa do impacto ambiental do consumo nacional.

Na avaliação dos chineses, a abordagem PBA não leva em conta as emissões resultantes do comércio internacional, o que pode sobrecarregar países produtores com responsabilidades desproporcionais. 

Por exemplo, a China, como maior exportador mundial, gera emissões significativas para produzir bens consumidos em outros países. Ao adotar a CBA, essas emissões seriam atribuídas aos países consumidores, promovendo uma distribuição mais justa das responsabilidades de redução de carbono.

Relatório Global de Riscos 2025

O Relatório Global de Riscos 2025, publicação anual do WEF, traz uma análise abrangente sobre os desafios e ameaças mais críticos que o mundo enfrentará nos próximos anos. Baseado em uma pesquisa com mais de 900 especialistas e líderes globais, o documento classifica os riscos em diferentes categorias, incluindo econômica, ambiental, tecnológica, geopolítica e societal.

O documento fornece uma visão das ameaças que moldarão o futuro global, além de propostas concretas para enfrentá-las. Reafirma a necessidade de colaboração entre governos, empresas e sociedade civil para garantir um futuro mais resiliente e sustentável.

Principais destaques do Relatório

Conflitos e Instabilidade Geopolítica

  • Os conflitos armados entre Estados foram identificados como o principal risco de curto prazo para 2025, com tensões prolongadas na Ucrânia, no Oriente Médio e em regiões da África, como o Sudão.
     
  • A crescente fragmentação global, com o declínio do multilateralismo e a ascensão de potências regionais, também foi apontada como uma preocupação crescente.

Mudanças Climáticas e Impactos Ambientais

  • Eventos climáticos extremos, como enchentes, secas e ondas de calor, continuam a figurar entre os maiores desafios. A perda de biodiversidade e o colapso de ecossistemas são considerados riscos críticos a longo prazo, com impactos profundos esperados até 2035.
     
  • A transição para uma economia de baixo carbono enfrenta obstáculos, incluindo a dependência de combustíveis fósseis em economias emergentes e conflitos em cadeias de suprimentos estratégicas.

Desafios Econômicos e Sociais

  • Apesar de riscos econômicos como inflação e recessão terem perdido força nas projeções de curto prazo, questões como desigualdade social e desaceleração do crescimento econômico permanecem relevantes.
     
  • A polarização social e a desinformação, muitas vezes exacerbadas por tecnologias emergentes como inteligência artificial generativa, foram citadas como riscos críticos para a coesão da sociedade.

Tecnologias Emergentes

  • Inovações tecnológicas, incluindo inteligência artificial e biotecnologia, oferecem oportunidades, mas também geram riscos significativos, como ciberataques, espionagem e impacto ético de aplicações não regulamentadas.
     
  • A competição tecnológica entre grandes potências adiciona uma camada de complexidade às relações geopolíticas e ao desenvolvimento econômico.

Capacidades de Resposta e Governança

  • O relatório destaca a importância de fortalecer instituições globais e sistemas de governança para lidar com crises interconectadas. A necessidade de cooperação internacional para mitigar riscos climáticos e tecnológicos é particularmente enfatizada.

Recomendações do Relatório

O WEF sugere estratégias para abordar os desafios globais, como:

  • Promover o multilateralismo e fortalecer instituições internacionais.
     
  • Investir em tecnologias limpas e inovadoras para acelerar a transição energética.
     
  • Melhorar a resiliência das sociedades por meio de sistemas educacionais robustos e políticas de inclusão social.
     
  • Desenvolver regulação eficaz para tecnologias emergentes, garantindo que seus benefícios sejam amplamente distribuídos.

Leia aqui o Relatório Global de Riscos 2025 do Fórum Econômico Mundial

Sobre o Fórum de Davos

O Fórum de Davos é o nome popular da Reunião Anual do Fórum Econômico Mundial (WEF), um encontro internacional que reúne líderes globais para discutir os desafios econômicos, sociais e ambientais mais urgentes do mundo. O evento acontece anualmente na cidade de Davos, nos Alpes Suíços, geralmente em janeiro.

O Fórum Econômico Mundial foi criado em 1971 por Klaus Schwab, economista e professor alemão. O evento tem o objetivo principal de promover a colaboração entre governos, empresas, organizações internacionais, acadêmicos e sociedade civil para enfrentar problemas globais e buscar soluções multilaterais.

Entre os participantes figuram líderes de Estado e chefes de governo, CEOs de grandes empresas globais, representantes de organizações internacionais, como a ONU e o FMI, além de acadêmicos, jornalistas e figuras da sociedade civil.

Os temas do Fórum incluem economia global, mudanças climáticas, desigualdade, tecnologias emergentes, saúde pública e comércio internacional. Cada edição tem um tema central. Em 2025, por exemplo, o tema será “Colaboração para a Era Inteligente”, focando na cooperação na era da inteligência artificial e outras inovações tecnológicas.

O encontro é organizado em painéis de discussão, sessões privadas, workshops e palestras especiais. Também há espaço para networking entre os participantes.

O Fórum de Davos é considerado uma das principais plataformas para debates sobre o futuro da economia global e a cooperação internacional. Suas discussões influenciam políticas públicas, práticas empresariais e abordagens para lidar com questões globais, como mudanças climáticas e desigualdade social.

Apesar de sua relevância, o Fórum de Davos enfrenta críticas por ser visto como elitista e desconectado das preocupações da população em geral. Críticos também argumentam que as soluções discutidas muitas vezes carecem de implementação prática.

O evento é uma oportunidade única para líderes de diferentes setores se encontrarem e formarem alianças estratégicas. Embora suas decisões não tenham força legal, o Fórum de Davos ajuda a moldar as prioridades da agenda global em várias áreas.

Acesse aqui o site oficial do Fórum Econômico Mundial.

 

 

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