CHINA EM FOCO

Marco Polo leva Giorgia Meloni à China, onde se encontra com Xi Jinping

Primeira-ministra da Itália visita a potência asiática para celebrar o 700º aniversário da morte do comerciante e viajante que influenciou a visão dos europeus sobre a Ásia

Créditos: Xinhua - Xi Jinping recebe Giorgia Meloni em Pequim
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Este ano marca o 700º aniversário da morte de Marco Polo e o 20º aniversário da parceria estratégica abrangente China-Itália. Com esse gancho, a primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, acaba de concluir uma visita oficial à China.

Entre 28 e 31 de julho ela cumpriu uma agenda extensa de compromissos, entre os quais uma visita à exposição "Viagem do Conhecimento: O Milhão de Marco Polo e sua herança entre Oriente e Ocidente", no World Art Museum de Pequim.

A expoente da extrema direita também se encontrou com lideranças da China: o presidente Xi Jinping, o primeiro-ministro Li Qiang e o presidente da Assembleia Popular Nacional, Zhao Leji. Meloni também participou do Fórum de Negócios Itália-China em Pequim, onde presidiu a cerimônia de assinatura de acordos entre Itália e China.

Durante o encontro com Meloni, Xi destacou que China e Itália estão nas duas extremidades da antiga Rota da Seda e que as trocas amigáveis de longa data entre os dois países fizeram contribuições significativas para as trocas e aprendizado mútuo entre as civilizações orientais e ocidentais e o progresso da humanidade.

"O espírito da Rota da Seda de paz e cooperação, abertura e inclusão, aprendizado mútuo e benefício mútuo é um tesouro compartilhado da China e da Itália. Em meio a mudanças globais aceleradas, sem precedentes em um século, os países progredirão juntos por meio de trocas e união, e regredirão em isolamento e divisão", afirmou Xi.

O presidente chinês defendeu ainda que China e Itália devem defender e promover o espírito da Rota da Seda, ver e desenvolver relações bilaterais de uma perspectiva histórica e de longo prazo e altura estratégica, e promover o crescimento estável e sustentado das relações bilaterais.

Marco Polo e a Nova Rota da Seda

Durante sua visita à exposição sobre Marco Polo, Meloni falou sobre a importância desse personagem histórico e seu valor simbólico na construção de pontes entre os povos do ocidente e do oriente.

"Foi um homem que, em sua existência épica, construiu pontes entre o Ocidente e o Oriente, influenciando por séculos a visão que nós, europeus e ocidentais, tivemos da Ásia, particularmente da China. Marco Polo traçou um caminho da Itália para a China e de sua época até a nossa. Penso que a melhor maneira de celebrar essa história, esse evento, esta comemoração de sete séculos de distância é fortalecendo esse vínculo - que é, antes de tudo, um vínculo cultural - que é o que estamos aqui para fazer com nossa visita", concluiu Meloni.

O famoso explorador veneziano do século 13 celebrado por Meloni tem uma uma relação intrínseca com a Rota da Seda, que inspirou a Iniciativa Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda. Assim que assumiu o cargo de primeira-ministra, em 2022, um dos primeiros atos dela foi justamente retirar a Itália do projeto chinês.

Essa ação de Meloni pode ter sido motivada pela intenção de demonstrar que, embora a economia chinesa seja importante para a Itália, o país não estaria disposto a comprometer suas relações transatlânticas e seus valores. A imprensa chinesa sugeriu que a decisão italiana de rescindir o acordo ocorreu sob pressão dos Estados Unidos, o que, de certo modo, tentou diminuir as críticas à própria China e colocou a Itália numa posição de alinhamento mais claro com as políticas ocidentais.

Desde então, apesar desse início conturbado, Meloni tem buscado manter canais de diálogo abertos com a China, reconhecendo a importância de uma relação equilibrada e de respeito mútuo entre os dois países. A complexidade das relações internacionais e a posição estratégica da Itália como um importante player econômico e cultural na Europa fazem com que a relação com a China continue sendo uma questão delicada e estratégica para o governo italiano.

Quem foi Marco Polo

Marco Polo foi um mercador, explorador e escritor veneziano nascido em 1254 em Veneza, que se tornou famoso por suas viagens ao longo da Ásia e, principalmente, por seu prolongado período na China.

Ele partiu de Veneza em 1271 e viajou principalmente através da Rota da Seda com seu pai e tio. Ao chegar à China, que estava sob o domínio do Império Mongol de Kublai Khan, foi recebido na corte e acabou servindo ao Khan por vários anos.

Suas observações detalhadas sobre a geografia, economia, cultura e política dos diversos reinos e territórios por onde passou foram posteriormente compiladas no livro "O Livro das Maravilhas" (também conhecido como "Il Milione").

A jornada de Marco Polo pela Ásia durou cerca de 24 anos, é uma das mais famosas explorações documentadas desta rede histórica de rotas comerciais. A Rota da Seda não era uma única estrada, mas sim uma vasta rede de rotas terrestres e marítimas que ligava o Oriente ao Ocidente, facilitando não só o comércio de seda, mas também de especiarias, metais preciosos, artes e outras mercadorias valiosas. Além disso, permitiu a troca cultural, religiosa e tecnológica entre as civilizações.

As descrições de Marco Polo sobre a Rota da Seda e, especialmente, sobre a China, onde descreveu cidades prósperas, avanços tecnológicos e a riqueza do império mongol, fascinaram a Europa. Seus relatos foram uma das primeiras visões detalhadas que o Ocidente teve sobre a Ásia Central e Oriental.

O interesse despertado pelas narrativas de Marco Polo estimulou a busca por rotas comerciais diretas para a Ásia, culminando em viagens como as de Cristóvão Colombo ao Novo Mundo e de Vasco da Gama à Índia, que eram tentativas iniciais de alcançar as riquezas do Oriente por novos caminhos e evitar os intermediários na Rota da Seda.

Assim, Marco Polo não só documentou uma era de intensa interação intercontinental como também ajudou a moldar o curso subsequente da exploração e do comércio global.

Itália só foi criada no século 19

Em seu discurso, Meloni disse que Marco Polo traçou um caminho da Itália para a China. Mas há uma imprecisão histórica nessa declaração. A Itália como nação só foi unificada como um único Estado-nacional em 1861. Antes disso, a península italiana era composta por vários reinos, ducados, repúblicas e territórios sob controle estrangeiro.

O processo de unificação, conhecido como Risorgimento, começou no início do século 19 e foi impulsionado por movimentos nacionalistas e revolucionários. A proclamação do Reino da Itália em 17 de março de 1861 marcou a oficialização da unificação, com Vítor Emanuel II da Casa de Saboia sendo coroado como o primeiro rei da Itália unificada. A unificação foi completada em 1871, quando Roma foi incorporada ao Reino e se tornou a capital.

Durante a época em que Marco Polo viveu, aproximadamente entre 1254 e 1324, a região que hoje conhecemos como Itália vivenciava frequentemente envolvidos em conflitos entre si e com potências externas, lutando por domínio territorial e comercial na região. A fragmentação política da Itália durante a Idade Média e o Renascimento foi um fator chave que moldou a história e a cultura da região. Confira algumas entidades daquela época:

República de Veneza: Marco Polo era originalmente de Veneza, uma poderosa e próspera república marítima conhecida por seu comércio extensivo e navegação. A República de Veneza foi uma das mais influentes potências comerciais no Mediterrâneo.

República de Gênova: Semelhante a Veneza em sua influência marítima, Gênova era uma república independente conhecida por sua rivalidade com Veneza, especialmente no comércio marítimo.

Estados Papais: Controlados diretamente pela Igreja Católica, os Estados Papais abrangiam uma grande parte do centro da Itália e eram governados pelo Papa, que exercia tanto poder religioso quanto secular.

Reino de Nápoles: O Reino de Nápoles cobria a maior parte do sul da Itália e, em diferentes momentos, esteve sob controle de várias dinastias europeias, incluindo os Anjou e, mais tarde, os Aragoneses.

Reino da Sicília: Originalmente parte do mesmo reino que Nápoles, a Sicília foi, por vezes, uma entidade política separada com sua própria governança.

Ducado de Milão: Milão era um ducado poderoso no norte da Itália, conhecido por sua influência militar e econômica.

República de Florença: Embora no tempo de Marco Polo Florença não fosse tão poderosa quanto viria a ser mais tarde durante o Renascimento, já era um importante centro de comércio e finanças.

Marco Polo na Netflix

A série "Marco Polo" da Netflix é um drama histórico que explora as aventuras do famoso explorador italiano no século 13 na corte de Kublai Khan, o poderoso líder mongol e fundador da dinastia Yuan na China.

A série retrata a complexidade das relações de poder na corte de Khan, a luta de Marco Polo para navegar nesse ambiente estranho e muitas vezes hostil, e os conflitos culturais e militares que definem a expansão do império mongol.

Focando em intrigas políticas, batalhas épicas e a troca cultural entre o Ocidente e o Oriente, "Marco Polo" combina drama, ação e belas paisagens, oferecendo um olhar sobre um período crucial da história mundial.

A produção tem duas temporadas, com um total de 20 episódios. Além disso, existe um especial chamado "Marco Polo: One Hundred Eyes", que foca na história de um dos personagens mais populares da série.

A série foi produzida pela The Weinstein Company e a Electus. A primeira temporada estreou em 12 de dezembro de 2014, e a segunda temporada foi lançada em 1 de julho de 2016. Ficou conhecida por seu alto orçamento, utilização extensiva de locações exóticas e um grande elenco internacional, oferecendo uma representação visualmente rica e detalhada do período histórico retratado

Ficha técnica - criador: John Fusco | Elenco principal: Lorenzo Richelmy como Marco Polo, Benedict Wong como Kublai Khan, Joan Chen como Imperatriz Chabi, Rick Yune como Kaidu, Tom Wu como Cem Olhos, Remy Hii como Príncipe Jingim, Zhu Zhu como Kokachin, Mahesh Jadu como Ahmad, Uli Latukefu como Byamba, Olivia Cheng como Mei Lin, Claudia Kim como Khutulun.

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