CHINA EM FOCO

China quer integrar Organização de Cooperação de Xangai e Nova Rota da Seda

Potência asiática assume presidência do grupo e planeja sincronizar as duas iniciativas para impulsionar o desenvolvimento regional

Créditos: Divulgação OCX (Ulukbex Shambetov) - China assume presidência da OCX para o biênio 2024/2025 e quer integrar iniciativa com a Nova Rota da Seda
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A China acaba de assumir a presidência rotativa da Organização de Cooperação de Xangai (OCX) para o biênio 2024-2025, com planos de sediar uma cúpula no ano que vem.

Durante coletiva de imprensa regular do Ministério das Relações Exteriores da China nesta segunda-feira (22), a porta-voz Mao Ning destacou que desde sua fundação, a OCX tem promovido o "Espírito de Xangai", contribuindo para a confiança política mútua, boas relações de vizinhança e segurança regional, além de fortalecer a cooperação prática. Hoje, a organização inclui 26 países, expandindo significativamente desde os seis membros originais.

"Nos próximos 12 meses, a China trabalhará em estreita colaboração com os parceiros da OCX em áreas políticas, de segurança, econômicas e culturais e desempenhará plenamente o papel da OCX como um escudo de segurança, uma ponte de cooperação, um vínculo de amizade e uma força para o bem na região", observou.

O anúncio da presidência chinesa foi feito durante a Cúpula de Astana, no Cazaquistão, realizada dia 4 de julho passado. Mao ressaltou que durante o mandato, a China planeja implementar iniciativas para fortalecimento da comunicação estratégica e da confiança mútua, aprimoramento dos mecanismos de cooperação em segurança, promoção de atividades focadas no desenvolvimento sustentável e intensificação da diplomacia cultural e entre pessoas.

Mao também enfatizou a importância de sincronizar a Iniciativa do Cinturão e Rota, a Nova Rota da Seda, com as estratégias de desenvolvimento regional e utilizar Qingdao, cidade reconhecida como capital cultural e turística da OCX, como uma plataforma de diálogo entre civilizações. Com isso, a China pretende usar sua presidência para consolidar uma comunidade mais integrada e harmoniosa dentro da OCX, contribuindo para a paz, estabilidade e prosperidade da região e do mundo.

O que é Espírito de Xangai

O "Espírito de Xangai" é um termo que se refere aos princípios fundamentais que norteiam a OCX que encapsula a filosofia e os valores compartilhados entre os países membros da organização para promover a cooperação, a estabilidade e o desenvolvimento regional através de um enfoque cooperativo e de benefício mútuo.

Confiança Mútua: Fortalecer a confiança política entre os países membros para garantir uma cooperação mais efetiva e um ambiente estável.

Benefícios Mútuos: Promover a cooperação econômica, cultural e de segurança que beneficie todos os membros, garantindo que todos os países participantes possam crescer e desenvolver-se juntos.

Consulta Igualitária: Assegurar que todos os membros têm voz igual nas decisões, respeitando a soberania e a integridade territorial de cada um.

Respeito à Diversidade Cultural: Reconhecer e valorizar as diversas tradições e culturas dos países membros, promovendo a harmonia e a aprendizagem mútua.

Busca pela Paz e Desenvolvimento Comum: Comprometer-se com a paz regional e global e com o desenvolvimento compartilhado, evitando alianças militares e blocos políticos que possam intensificar tensões.

O Espírito de Xangai é considerado a base ideológica que permite a colaboração efetiva entre os países membros da OCX, muitos dos quais têm histórias complexas e desafios de relacionamento.

Este conjunto de princípios ajuda a promover um ambiente de trabalho colaborativo que é crucial para o sucesso de iniciativas multilaterais em segurança, comércio, investimento, infraestrutura e mais.

Também serve como um contraponto às abordagens mais competitivas e alinhadas ideologicamente vistas em outras partes do mundo, promovendo em vez disso um modelo de cooperação baseado no pragmatismo e no respeito mútuo.

O que é a OCX

A Organização de Cooperação de Xangai, fundada em 2001, é uma aliança intergovernamental centrada na cooperação regional em aspectos de segurança, política e econômicos entre seus membros. Inicialmente, foi formada pela China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão, originando-se de um grupo conhecido como os "Cinco de Xangai" estabelecido em 1996.

A organização expandiu-se ao longo dos anos, incluindo Índia e Paquistão como membros plenos em 2017. Neste ano, o Irã ingressou no grupo. Entre os objetivos da OCX estão:

Segurança Regional: Combater ameaças como terrorismo, separatismo e extremismo.

Cooperação Econômica: Promover a integração econômica entre os países membros, facilitando o comércio e o investimento.

Desenvolvimento Cultural: Fomentar laços culturais e humanitários, incentivando o intercâmbio e a compreensão mútua entre as nações.

Cooperação Política: Oferecer uma plataforma para diálogo político e para fortalecer a estabilidade regional.

A OCX também é conhecida por sua posição neutra em relação a conflitos internacionais, focando mais na cooperação regional e menos em alinhamentos ideológicos ou militares típicos de outras alianças internacionais.

Além dos membros plenos, a organização inclui vários países observadores e parceiros de diálogo, expandindo seu alcance e influência em assuntos eurasianos e globais. Nenhum país da América Latina participa da organização.

Importância da OCX

A OCX é significativa em vários aspectos, tanto regional quanto globalmente. É uma uma peça-chave na dinâmica de poder e cooperação na vasta região que abrange desde a Europa Oriental até a Ásia Central e o Sul da Ásia, influenciando políticas de segurança, desenvolvimento econômico e relações internacionais. Confira alguns dos principais pontos que destacam a importância desta organização:

Promoção da Segurança Regional - A OCX desempenha um papel crucial na promoção da estabilidade e segurança na região da Ásia Central e além. Ela facilita a cooperação entre os países membros no combate ao terrorismo, separatismo e extremismo. Através de exercícios militares conjuntos e acordos de segurança, a organização ajuda a criar um ambiente mais seguro e estável na região.

Cooperação Econômica - A organização estimula a cooperação econômica, comercial e de investimentos entre seus membros. Isso inclui a facilitação do comércio e do investimento transfronteiriços, bem como a implementação de grandes projetos de infraestrutura que são cruciais para o desenvolvimento econômico dos países membros, muitas vezes sob a iniciativa "Belt and Road" da China.

Diplomacia e Resolução de Conflitos - A OCX oferece uma plataforma para diplomacia e diálogo entre países que, de outra forma, poderiam ter relações bilaterais tensas. Por exemplo, a inclusão da Índia e do Paquistão como membros plenos permite que esses países participem de diálogos em um contexto multilateral, o que pode ajudar a amenizar tensões regionais.

Influência Geopolítica - A OCX serve como um contraponto a outras organizações internacionais dominadas por países ocidentais, como a OTAN e a União Europeia. Ela permite que a China e a Rússia, em particular, exerçam influência na Ásia Central e no Sul da Ásia, estendendo seu alcance geopolítico e fortalecendo suas posições em questões globais.

Cultura e Sociedade - Além de seus objetivos econômicos e de segurança, a OCX também promove intercâmbios culturais e educacionais entre seus membros, o que ajuda a fortalecer os laços sociais e culturais e promover a compreensão mútua entre diversas populações.

Desenvolvimento Sustentável - A organização também tem se envolvido em questões de desenvolvimento sustentável, buscando formas de colaboração em energia, tecnologia e recursos naturais que respeitem os princípios de sustentabilidade e responsabilidade ambiental.

OCX e Nova Rota da Seda

A OCX e a Iniciativa do Cinturão e Rota (BRI, da sigla em inglês), também conhecida como Nova Rota da Seda, são duas iniciativas significativas lideradas pela China que interagem de várias maneiras, embora cada uma tenha seus próprios objetivos e estrutura.

Ambas as iniciativas têm o objetivo comum de promover a estabilidade, o desenvolvimento econômico e a cooperação regional. A OCX foca em segurança, política e cooperação cultural entre seus membros, que incluem países da Ásia Central, Rússia, China, Índia, Paquistão e outros. A BRI, por outro lado, é mais ampla em escopo e visa desenvolver a infraestrutura física e os laços econômicos através de vastas regiões da Ásia, Europa e África.

A infraestrutura é um pilar central da BRI e muitos projetos sob esta iniciativa podem ser beneficiados pela cooperação política e econômica facilitada pela OCX. Muitos membros da OCX são também participantes ativos da BRI, o que facilita a implementação de projetos de infraestrutura transnacionais que necessitam de coordenação política e logística entre países vizinhos.

A OCX promove a integração econômica e a cooperação entre seus membros, que podem ser complementadas pelas oportunidades de investimento e financiamento oferecidas pela BRI. Isso inclui projetos em setores como energia, transporte e telecomunicações, que são essenciais para o desenvolvimento econômico dos países membros da OCX.

A OCX tem um forte componente de segurança que inclui a luta contra o terrorismo, o separatismo e o extremismo. A estabilidade regional fortalecida pela OCX é crucial para o sucesso dos corredores econômicos propostos pela BRI, que dependem de um ambiente seguro e estável para atrair investimentos e garantir a operação contínua das infraestruturas.

A relação entre a OCX e a BRI exemplifica como diferentes iniciativas lideradas pela China podem se complementar. A OCX cria um ambiente político e de segurança mais cooperativo e estável, que é benéfico para a implementação dos ambiciosos projetos de infraestrutura da BRI. Simultaneamente, o sucesso da BRI em desenvolver infraestrutura e promover a cooperação econômica pode ajudar a fortalecer as economias dos países membros da OCX, promovendo objetivos mais amplos de cooperação e desenvolvimento regional.

Enquanto a OCX e a BRI são distintas em suas funções e abordagens, suas atividades são interligadas e mutuamente reforçadas, demonstrando como iniciativas geopolíticas e econômicas podem trabalhar em conjunto para promover interesses comuns em regiões chave.