No dia 15 de junho, centenas de pessoas se reuniram no Action Bar, um espaço cultural da capital chinesa, para participar da primeira festa junina pública da cidade. Chineses, brasileiros e cidadãos de dezenas de outros países passaram pelo local para degustar pratos brasileiros, dançar forró e quadrilha, se divertir com jogos e brincadeiras e conhecer a segunda maior festa popular brasileira.
Organizada pelo Conselho dos Cidadãos Brasileiros de Pequim, em parceria com as empresas chinesas OTH e Action Bar, a festa despertou tanto interesse que os ingressos foram vendidos rapidamente. Para o ano que vem, os organizadores planejam realizar a festa em um local maior.
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“O interesse pela Festa Junina do Conselho dos Cidadãos Brasileiros de Beijing foi muito grande, com vendas superando nossas espectativas, e contando com mais de 400 pessoas ao longo do dia. Os ingressos se esgotaram 5 dias antes da realização do evento e houve muita procura do público tanto chinês quanto brasileiro. Isso mostra um grande interesse em atividades do gênero e um papel importante cumprido pelo Conselho na aproximação entre os povos”, afirma André Quemé, um dos organizadores da festa.
Correio elegante em Pequim
Introduzida no Brasil pelos colonizadores portugueses como uma festa religiosa em homenagem a três santos celebrados no mês de junho, a festa junina foi aos poucos incorporando elementos da cultura caipira brasileira. Como no Brasil colonial a maioria das pessoas vivia no campo, tais festas eram raras ocasiões para reencontrar amigos e conhecer pessoas.
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Essas festas eram especialmente importantes para os jovens brasileiros, pela ocasião de conhecer possíveis parceiros para namoro e casamento. Dessa necessidade nasceu a tradição do correio elegante, um Tinder caipira que mantém sua popularidade nas festas juninas de hoje.
Na festa junina de Pequim, o correio elegante trouxe um sentimento de nostalgia aos brasileiros e foi recebido com entusiasmo por pessoas de outras nacionalidades. Para utilizar o serviço, era necessário desembolsar 5,20 RMB (R$ 3.90), um valor com forte sentido simbólico na cultura chinesa: 520, em chinês, wu er ling, soa parecido com wo ai ni, que quer dizer “eu te amo”.
Os jogos e brincadeiras empolgaram crianças e adultos, e também são passatempos familiares aos chineses: muitos jogos populares nas festas juninas brasileiras estão presentes também no miaohui (feira de templo), evento que acontece durante o ano novo chinês.
A corrida do saco recebeu muita atenção e contou com participação de muita gente, com provas para crianças de diferentes faixas etárias e também para adultos. A distribuição de prendas aos competidores tornou a festa ainda mais divertida e deu-lhes uma recordação tangível do evento.
Assim como o Brasil, também a China teve uma urbanização tardia e por isso tem uma história e cultura muito ligadas ao campo, o que gera uma identificação com o tema da festa. Os chapéus de palha tradicionalmente usados pelos agricultores brasileiros, por exemplo, também são parte do vestuário dos trabalhadores rurais chineses, sendo suas versões mais elegantes usadas também nas cidades.
Outra semelhança entre a festa junina e a celebração do ano novo chinês é o hábito de soltar bombinhas, rojões e fogos de artifício. Foi a China que, na antiguidade, inventou a pólvora e também estes artefatos explosivos, que os senhores de terras do Brasil colonial importavam para se divertir em ocasiões festivas. De acordo com registros antigos, muitos dos primeiros imigrantes chineses no Brasil trabalharam na fabricação de foguetes para atender à demanda local por tais produtos.
Em Pequim, devido a restrições legais, não houve queima de fogos nem fogueira, sendo que esta última seria indesejável no calor do verão. Adaptar a festa para o clima local foi outro desafio, que exigiu a substituição do quentão e do vinho quente, bebidas que aquecem o corpo, pelo gosto refrescante da caipirinha e de outras bebidas geladas servidas no bar.
Divulgação da cultura brasileira
O Conselho de Cidadãos Brasileiros, ao preparar a festa, teve como objetivos estimular o convívio entre os brasileiros residentes na China, integrar as comunidades brasileira e chinesa, promover o intercâmbio cultural entre Brasil e China, divulgar a cultura brasileira e apoiar os brasileiros que empreendem na China, para que possam expor e vender seus produtos.
Para essa primeira edição da festa, barracas foram disponibilizadas sem custo para a Ju’s Homemade, que ofereceu bolos e doces típicos do Brasil, incluindo o pé de moça e a cocada, e para o restaurante brasileiro Latina, que ofereceu salgadinhos, curau e arroz doce. As iguarias brasileiras fizeram tanto sucesso que todo o estoque foi consumido.
Já o Action Bar, que cedeu o espaço para a festa, preparou um menu especial com iguarias chinesas que de algum modo dialogam com o Brasil e com a festa junina, incluindo amendoim e churrasco.
A quadrilha foi uma atração à parte, pois a grande maioria dos presentes não resistiu e acabou entrando na dança, tornando a fila tão longa, que ficou difícil organizar a dança e muita coisa precisou ser feita de improviso. A diversão foi tamanha que logo após a quadrilha já emendaram o forró.
Presente no evento, o embaixador do Brasil em Pequim, Marcos Galvão, inaugurou a festa com um breve discurso no qual enfatizou o cinquentenário das relações diplomáticas entre os dois países e afirmou que a festa é uma celebração da amizade entre Brasil, China e outros povos do mundo presentes na ocasião.