CHINA EM FOCO

Natal na China: uma celebração única de tradições e cultura - Por Rafael Henrique Zerbetto

Um olhar brasileiro sobre como os chineses adaptam e reinventam o espírito natalino com suas próprias cores e sabores

Natal na China: uma celebração única de tradições e cultura.O presente mais peculiar do Natal chinês é a maçã.Créditos: Fotomontagem (Hanfu Photo e Shuttesttock)
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Para quem cresceu em um país como o Brasil, com tradições profundamente enraizadas nos valores cristãos, imaginar o Natal em um lugar como a China, onde a cultura se consolidou ao longo de milênios, pode parecer desafiador.

Entretanto, viver o Natal na China pode ser uma experiência surpreendentemente enriquecedora. Em um mundo cada vez mais marcado pela intolerância, aprender a ver o mundo sob diferentes perspectivas é essencial para desenvolver empatia e valorizar a diversidade das civilizações humanas.

Eventos e decorações

Cheguei à China em outubro de 2015 e desde então passei vários Natais no país. Em dezembro daquele ano, visitei um bazar natalino, uma tradição europeia que se popularizou por aqui. O evento, semelhante a uma quermesse brasileira, reúne barraquinhas que vendem enfeites, comidas e bebidas típicas.

Rafael Henrique Zerbetto - A primeira árvore de Natal quando chegou à China em 2015.

Na China, é fácil notar a fusão entre as tradições ocidentais e as celebrações do Ano Novo Chinês. Papais Noéis e árvores de Natal dividem espaço com lanternas chinesas e animais do horóscopo do país. As luzes "pisca-pisca" permanecem até a Festa das Lanternas, que encerra o Ano Novo Chinês.

Montar árvores de Natal e postar fotos nas redes sociais tornou-se uma atividade popular entre os jovens. Muitos desconhecem a origem dessa tradição, mas têm curiosidade em vivenciá-la. Também é comum ver pessoas decorando suas casas com adesivos e ornamentos natalinos.

O vestuário também chama atenção: gorros e cachecóis com tema natalino fazem sucesso, especialmente entre os jovens, enquanto mulheres gostam de usar tiaras com chifres de rena ou pequenos Papais Noéis. Alguns ainda optam por trajes tradicionais chineses de inverno, que lembram as vestimentas do bom velhinho.

Comida natalina

Xinhua - O panda-gigante, símbolo da China, com gorro de Papai Noel.

Juntar amigos e familiares para uma refeição na véspera de Natal tornou-se moda, principalmente entre os jovens. Inicialmente uma imitação da cultura ocidental, a prática ganhou contornos únicos, misturando elementos chineses e ocidentais.

O vinho quente, comum no Brasil nas festas juninas, é bastante procurado no inverno chinês, especialmente durante a semana do Natal. Este ano, fui convidado para uma ceia com amigos chineses e a bebida foi a estrela da noite.

A culinária natalina na China combina símbolos ocidentais com pratos típicos do Ano Novo Chinês. A macarronada, por exemplo, é popular devido à sua simbologia de vida longa. O jiaozi, que lembra lingotes de ouro, simboliza prosperidade e também aparece com frequência nas ceias.

Presentes e símbolos natalinos

Trocar presentes e cartões ainda não é um hábito tão popular na China como no Brasil. Em anos celebrando o Natal no país, recebi apenas um cartão, e ele não continha mensagem escrita à mão, como costumamos fazer.

O presente mais peculiar do Natal chinês é a maçã. A "Véspera de Natal", em chinês, é chamada de ping’an ye (noite de paz), e a palavra ping’an soa semelhante a pingguo (maçã). Por isso, presentear com maçãs tornou-se um gesto tradicional nessa época do ano.

O sentido do Natal na China

Para os milhões de cristãos chineses, o sentido do Natal é semelhante ao dos cristãos brasileiros. Missas são celebradas em chinês, e a arquidiocese de Pequim oferece celebrações em línguas estrangeiras para expatriados. Igrejas protestantes também promovem cultos em diversas línguas.

Para a maioria dos chineses, especialmente os jovens, o Natal é uma oportunidade de experimentar e entender culturas estrangeiras. Embora tenha um viés comercial explorado por shoppings e restaurantes, há também um desejo genuíno de diálogo com o Ocidente.

Símbolos natalinos acabam sendo reinterpretados, incorporando elementos chineses, como lanternas e reuniões familiares. No final, o sentido do Natal — celebrar a vida e as pessoas queridas — é encontrado, ainda que por caminhos diferentes.

* Rafael Henrique Zerbetto é editor estrangeiro do Centro Ásia-Pacífico do China International Communications Group. Jornalista brasileiro, reside em Pequim, capital nacional da China, há nove anos.

** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum

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