De 9 a 13 de agosto foi realizada a segunda edição da Turnê Energética da Juventude Mundial, que reuniu 16 jovens profissionais e estudantes de 12 países: Brasil, China, El Salvador, Gana, Gales, Malásia, Paquistão, Peru, Rússia, Turcomenistão, Uzbequistão e Venezuela.
A viagem de cinco dias passou pela região autônoma da Mongólia Interior e pela província de Gansu, onde os jovens conversaram com especialistas e visitaram in situ projetos relacionados à transição energética da China. O programa resulta de uma parceria entre a Academia de Estudos sobre a China e o Mundo Contemporâneos (ACCWS, da sigla em inglês) e a empresa CHN Energia.
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A turnê começou na sede da CHN Energia, em Pequim, onde os participantes conheceram a sala de controle da empresa, conversaram por videoconferência com os funcionários nos locais a serem visitados e se reuniram com os diretores para conhecer, em linhas gerais, o trabalho que vem sendo desenvolvido.
Primeira Parada: Ordos
Em Ordos, na Mongólia Interior, os jovens foram recebidos pelo Grupo Guoneng Zhuneng, subsidiária local da CHN Energia que atua nos setores de mineração, geração de eletricidade e economia circular de carvão mineral.
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Com reservas de 3,085 milhões de toneladas de carvão, o grupo produz um “carvão verde”, com alto grau de pureza e baixa emissão de carbono ao longo de sua cadeia produtiva. Os jovens também viram de perto o uso da internet 5G para controlar em tempo real o trabalho coordenado das máquinas gigantes usadas na mineração.
“Esta tecnologia permite integração de sistemas avançados de automação, como maquinário operado à distância, monitoramento em tempo real e análise de grandes volumes de dados, o que otimiza a eficiência operacional e melhora a segurança das minas. Além disso, o 5G facilita a implementação da inteligência artificial e da internet das coisas”, explica a pesquisadora venezuelana Oliger Betancourt, especialista em eletrônica e telecomunicações.
As máquinas atuais podem ser controladas tanto a distância como por um trabalhador na cabine, mas a empresa tem planos de iniciar testes com os primeiros equipamentos sem cabine já no ano que vem.
Olhando as vastas áreas verdes nas proximidades da mina, ninguém suspeita que ali havia um deserto. Desde sua criação, a Guoneng Zhuneng se dedica ao reflorestamento e à recuperação do solo local.
Para Zhang Haiyan, professora de energia, recursos e meio-ambiente da Universidade John Hopkins e da Universidade de Nanquim:
“O compromisso de equilibrar a produção energética com a preservação ambiental e a integração com a comunidade local cria um exemplo para essa indústria. A transformação de terras estéreis num ecossistema próspero através da recuperação do solo e do reflorestamento demonstra o potencial do ’carbono verde’ para o desenvolvimento sustentável.”
Um ponto alto da visita foi a Base para Economia Industrial Circular, onde uma fazenda que produz diversos tipos de fruta foi construída sobre o solo recuperado no local de uma antiga mina de carvão da empresa, dando-lhe uma nova função econômica e ambiental e atraindo diversas espécies da fauna local.
“Abelhas são essenciais para o meio-ambiente e estão desaparecendo no mundo todo. Achar uma abelha onde antes era uma mina de carvão é inspirador”, observa a brasileira Beatriz Rauber, pós-graduanda na Universidade Renmin da China.
Para oferecer lazer à população e melhor proteger a biodiversidade local, ao lado da fazenda foi construído um Parque de Biodiversidade, que conta com um lago, casas para pássaros e toda a estrutura necessária para entreter os visitantes. Esculturas feitas com sucata de equipamentos de mineração completam o ambiente.
Ao lado do parque, velhos caminhões gigantes, cada um capaz de transportar 350 toneladas de carvão, foram convertidos em suítes de um hotel temático, ainda em construção. “É uma forma criativa de dar novo uso a um equipamento obsoleto”, diz a pesquisadora russa Mariia Matveeva, que cursa MBA em Pequim.
Em outro local, caminhões menores e mais antigos, para 120 toneladas, foram convertidos em refeitórios para os funcionários da empresa.
Segunda Parada: Lanzhou
A próxima parada da viagem foi Lanzhou, capital da província de Gansu, onde os jovens experimentaram o tradicional macarrão que leva o nome da cidade antes de visitar museus e aprender mais sobre a cultura e o desenvolvimento da província e do país.
Situada às margens do Rio Amarelo, Lanzhou teve grande importância para a Rota da Seda e para o desenvolvimento da China, conservando um rico patrimônio histórico-cultural ao mesmo tempo que mantém seu espírito jovem e inovador.
Comparando os antigos registros em bambu com as modernas bases de dados, as antigas torres de vigia que se comunicavam por sinais de fogo e fumaça com a telecomunicação de hoje, e os enormes desafios de engenharia para construir a primeira ponte sobre o rio Amarelo com a rapidez e facilidade com que novas pontes são construídas hoje, percebemos a dimensão do progresso tecnológico de Gansu e seu potencial de contribuir ainda mais para o progresso da China no século 21.
“Aqueles que viveram aqui há milênios certamente ficariam orgulhosos de ver a ponte de Lanzhou, que agora é um poderoso símbolo de desenvolvimento para esta e para as próximas gerações”, declara Jesse Guimarães, brasileiro que já esteve na cidade anteriormente.
“Lanzhou passou por grandes mudanças. Quando estive aqui em 2015, a cidade dava sinais de desenvolvimento, mas o que vi hoje me surpreendeu. Um horizonte modesto deu lugar a prédios modernos deslumbrantes, cada um simboliza o rápido progresso da cidade”, completou.
Terceira parada: Yumen
No dia 12 de agosto, os jovens visitaram o mais antigo parque eólico de Gansu, da empresa Yumen Longyuan, outra subsidiária da CHN Energia, conversaram com especialistas e trocaram opiniões a respeito da transição energética chinesa.
Criado em 1997, com quatro geradores eólicos de 300 kW cada, importados da Dinamarca e que ficaram conhecidos como “os quatro pequenos cisnes”, o parque evoluiu com a aquisição de novos geradores cada vez maiores e mais potentes, registrando a evolução das turbinas e da tecnologia chinesa no setor.
“Das pequenas turbinas dos fins dos anos 90 para as enormes turbinas de 6.5MW de hoje, o desenvolvimento é de cair o queixo. A China lidera o mundo em capacidade instalada de energia eólica”, observa Patrick Robertson, engenheiro aeroespacial e CEO da Smart Air, nascido em Gales e radicado na China.
“Também me impressionou o sistema de monitoramento e planejamento do parque eólico de Yumen. Eles conseguem prever a produção de eletricidade para os próximos 15 dias e usam isso para otimizar a manutenção e a gestão de pessoal”, conclui Robertson.
Última Parada: Dunhuang
Após tantos dias de visitas e debates sobre transição energética, os jovens talentos tiveram um programa cultural para relaxar e se encantar com uma das grandes maravilhas da antiga Rota da Seda: as grutas de Mogao, cartão postal de Gansu e patrimônio mundial da Unesco, encerrando o evento com chave de ouro.
“Visitar as grutas de Dunhuang foi uma experiência incrível”, descreve Gracia Sanchez, estudante universitária de El Salvador. “Os antigos murais e esculturas são impressionantes e nos dão uma visão profunda da arte e da cultura histórica”
* Rafael Henrique Zerbetto é editor estrangeiro do Centro Ásia-Pacífico do China International Communications Group. Jornalista brasileiro, reside em Pequim, capital nacional da China, há oito anos.
** Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum