O presidente da China, Xi Jinping, discursou nesta segunda-feira (18), durante a 19ª Cúpula do G20 no Rio de Janeiro (RJ). Em sua fala, ele enfatizou a importância de construir um mundo justo baseado no desenvolvimento comum, na inclusão econômica e na sustentabilidade.
Recebido calorosamente pelo presidente Lula, Xi destacou a necessidade de cooperação global e apresentou ações concretas da China para apoiar o Sul Global.
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Xi Jinping iniciou seu discurso reconhecendo os desafios globais, como fome, pobreza, mudanças climáticas e desigualdades. Ele ressaltou que o G20 deve assumir a liderança em questões econômicas e sociais, colocando o desenvolvimento no centro das políticas globais.
"O mundo não pode prosperar se os ricos ficam mais ricos enquanto os pobres se tornam mais pobres", afirmou Xi, destacando o papel da Cúpula do G20 como plataforma essencial para fortalecer a equidade global e promover uma globalização econômica inclusiva.
Xi elogiou o tema proposto pela presidência brasileira do G20, "Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável", e saudou a criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, promovida por Lula.
China como exemplo de superação da pobreza
Xi apresentou as conquistas da China no combate à pobreza, destacando a retirada de 800 milhões de pessoas da miséria nas últimas décadas. Ele atribuiu o sucesso ao planejamento estratégico, políticas personalizadas e à determinação nacional.
"Nenhuma região ou indivíduo foi deixado para trás", afirmou.
O presidente chinês também enfatizou que a experiência da China pode servir de inspiração para outros países em desenvolvimento. "Se a China conseguiu, outros também podem", declarou, reforçando a importância da resiliência e do esforço conjunto para superar desigualdades.
Oito ações concretas da China para o desenvolvimento global
Xi Jinping anunciou um plano de oito ações para apoiar o desenvolvimento global, com foco no Sul Global:
- Expansão da Iniciativa Cinturão e Rota: Novos aportes financeiros e projetos para conectar regiões por meio de infraestrutura verde e digital.
- Fortalecimento da Iniciativa para o Desenvolvimento Global: Mais de 1.100 projetos em andamento, com fundos adicionais para segurança alimentar, economia digital e redução da pobreza.
- Apoio à modernização da África: Dez novas parcerias e financiamento de RMB 360 bilhões nos próximos três anos.
- Combate à fome e desperdício de alimentos: Participação na Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e promoção de conferências internacionais sobre desperdício de alimentos.
- Cooperação em ciência aberta: Facilitar o acesso do Sul Global a avanços científicos e tecnológicos.
- Parcerias no G20: Implementação de iniciativas para energia limpa, bioeconomia e digitalização de arquivos históricos.
- Combate à corrupção: Reforço da cooperação internacional para recuperação de ativos e combate à corrupção em países em desenvolvimento.
- Abertura econômica: Tarifas alfandegárias zero para produtos de PMDs (Países Menos Desenvolvidos) e importações estimadas em US$ 8 trilhões de países em desenvolvimento até 2030.
Mensagem de otimismo e cooperação
Xi concluiu o discurso com um apelo à união global, destacando a importância de transformar visões em realidade.
"Uma jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo. A China está pronta para caminhar junto com todas as partes na construção de um mundo justo e no fim da pobreza", finalizou.
O discurso reforça a posição da China como liderança no Sul Global e parceira ativa no avanço de políticas globais voltadas à equidade e à sustentabilidade. A presença de Xi Jinping no Rio de Janeiro destaca o papel estratégico das relações China-Brasil no fortalecimento da cooperação internacional.
Discurso de Xi Jinping na íntegra
Construir um Mundo Justo de Desenvolvimento Comum
Discurso de S.E. Xi Jinping
Presidente da República Popular da China
Sobre Combate à Fome e à Pobreza
Na I Sessão da 19ª Cúpula do G20
Rio de Janeiro, 18 de novembro de 2024
Sua Excelência o Senhor Presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
Colegas,
É uma grande satisfação participar da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro. Agradeço ao Presidente Lula e ao governo do Brasil pela acolhida calorosa concedida à delegação chinesa.
Atualmente, transformação de escala nunca vista em um século está acelerando em todo o mundo, e a humanidade enfrenta oportunidades e desafios sem precedentes. Como líderes dos principais países, não podemos deixar que a nossa visão seja bloqueada pelas nuvens. Temos que ver o mundo como uma comunidade com futuro compartilhado, e assumir as responsabilidades pela história, tomar iniciativa histórica e levar adiante a história.
Apontei neste fórum que a prosperidade e a estabilidade não seriam possíveis em um mundo onde os ricos passam a ser mais ricos enquanto os pobres passam a ser mais pobres, e os países devem tornar o desenvolvimento global mais inclusivo, benéfico para todos e mais resiliente. Na Cúpula em Hangzhou, a China colocou o desenvolvimento pela primeira vez no centro da coordenação das políticas macroeconômicas do G20, e a Cúpula adotou o Plano de Ação do G20 sobre a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável e a Iniciativa do G20 sobre o Apoio à Industrialização na África e nos Países Menos Desenvolvidos (PMDs). A Cúpula no Rio este ano escolheu “Construindo um mundo justo e um planeta sustentável” como o seu lema, coloca o “combate à fome e à pobreza” no topo da agenda e decidiu criar a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. De Hangzhou ao Rio, vimos trabalhando para uma mesma meta, isto é, construir um mundo justo de desenvolvimento comum.
Para construir um mundo assim, precisamos canalizar mais recursos às áreas como comércio, investimento e cooperação de desenvolvimento e fortalecer instituições de desenvolvimento. Tem que haver mais pontes de cooperação e menos “pequeno quintal, muros altos”, para que cada vez mais países em desenvolvimento tenham vida melhor e alcancem modernização.
Para construir um mundo assim, precisamos apoiar os países em desenvolvimento a adotar produção e estilo de vida sustentáveis e dar resposta adequada aos desafios como mudanças climáticas, perda da biodiversidade e poluição ambiental, destacando a conservação ecológica e a harmonia entre o homem e a natureza.
Para construir um mundo assim, precisamos criar um ambiente aberto, inclusivo e não discriminatório para a cooperação econômica internacional. Devemos promover uma globalização econômica universalmente benéfica e inclusiva, energizar o desenvolvimento sustentável com novas tecnologias, novas indústrias e novas formas de negócios, e apoiar os países em desenvolvimento a se integrar melhor ao desenvolvimento digital, inteligente e verde e diminuir o fosso entre o Sul e o Norte.
Para construir um mundo assim, precisamos persistir no multilateralismo. Devemos defender o sistema internacional centrado nas Nações Unidas, a ordem internacional alicerçada no direito internacional, e as normas básicas das relações internacionais que se baseiam nos propósitos e princípios da Carta das Nações Unidas.
Colegas!
O desenvolvimento da China é uma parte importante do desenvolvimento comum do mundo. Temos tirado 800 milhões de pessoas da pobreza, e atingimos com antecedência o objetivo de redução da pobreza estabelecida na Agenda 2030 das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável.
Essa conquista não caiu do céu. É fruto dos esforços conjuntos e árduos do governo e povo chineses. Em tudo o que a China faz, o povo é sempre colocado no centro. A China declarou solenemente que “nenhuma região ou indivíduo pobre deve ser deixado para trás”. Para tratar a pobreza, elaboramos políticas direcionadas que se adaptam a cada aldeia, família e pessoa. Facilitamos o crescimento econômico através de canalizar vigorosamente recursos humanos, financeiros e tecnológicos a regiões menos desenvolvidas. Ajudamos as localidades a realizar crescimento por reforçar as indústrias com características distintivas e melhorar a infraestrutura à luz das suas próprias condições. Promovemos a prosperidade comum através de criar pares entre regiões ricas e regiões menos desenvolvidas. Eu tenho trabalhado de aldeia para distrito, município, província e nível central. O alívio da pobreza é sempre uma prioridade e uma grande tarefa que estou determinado a completar.
A história do alívio da pobreza da China prova que os países em desenvolvimento podem eliminar a pobreza, que um pássaro mais fraco pode começar cedo e voar alto, uma vez que tenha resiliência, perseverança e espírito de luta, que água mole pode furar pedra dura, e que planejamentos podem ser tornados em realidade. Conseguiu a China, conseguem os outros países em desenvolvimento. Eis o que significa o combate à pobreza da China para o mundo.
Colegas!
A China é sempre um membro do Sul Global, um parceiro confiável de longo prazo para os países em desenvolvimento e um praticante e empreendedor que trabalha para a causa do desenvolvimento global. Uma só flor não faz a primavera. A China quer ver o desabrochamento de centenas de flores e avançar de mãos dadas com os outros países em desenvolvimento rumo à modernização. Hoje, gostaria de delinear as oito ações da China para apoiar o desenvolvimento global.
Primeiro, promover a cooperação Cinturão e Rota de alta qualidade. Com as janelas de financiamento recém-criadas de RMB700 bilhões de yuan, bem como o Fundo da Rota da Seda com um aporte adicional de RMB80 bilhões de yuan, a China segue construindo a rede multidimensional de conectividade Cinturão e Rota que é orientada para a construção da Rota da Seda verde e empoderamento da Rota da Seda digital.
Segundo, implementar a Iniciativa para o Desenvolvimento Global. Com base em mais de 1.100 projetos de desenvolvimento já em funcionamento, vamos garantir que o centro de pesquisa do Sul Global em construção funcionará como planejado, continuar fazendo bom uso de fundos de desenvolvimento de US$20 bilhões para apoiar os países em desenvolvimento e aprofundar a cooperação prática nas áreas como redução da pobreza, segurança alimentar e economia digital.
Terceiro, apoiar o desenvolvimento na África. Na Cimeira do Fórum de Cooperação China-África nesse setembro, anunciei dez ações de parceria para promover de mãos dadas com a África a modernização nos próximos três anos, bem como o apoio financeiro de RMB360 bilhões de yuan para o efeito.
Quarto, apoiar a cooperação internacional na redução da pobreza e segurança alimentar. A China decidiu aderir à “Aliança Global contra a Fome e a Pobreza”, e apoia o G20 a seguir convocando a Reunião Ministerial de Desenvolvimento. Continuaremos comprometidos com a sediação da Conferência Internacional sobre Perda de Alimentos e Desperdício.
Quinto, a China, junto com o Brasil, a África do Sul e a União Africana, está propondo uma Iniciativa sobre Cooperação Internacional na Ciência Aberta para ajudar o Sul Global a ter melhor acesso a avanços globais em ciência, tecnologia e inovação.
Sexto, apoiar o G20 a levar a cabo cooperação prática para o benefício do Sul Global, fazer bom uso dos resultados como o Roteiro para Aumentar Investimento em Energia Limpa em Países em Desenvolvimento e os Princípios de Alto Nível sobre a Bioeconomia. A China apoia os trabalhos do Centro de Pesquisa do Empreendedorismo sobre as Economias do G20 com sede em Beijing, e apoia a cooperação na educação digital e a digitalização de museus e arquivos antigos.
Sétimo, implementar o Plano de Ação Anticorrupção do G20. Estamos fortalecendo a cooperação com outros países em desenvolvimento nas áreas como repatriação de fugitivos, recuperação de ativos, negação do refúgio de corrupção e capacitação anticorrupção.
Oitavo, a China está aprimorando a abertura de alto padrão e unilateralmente ampliando a abertura aos PMDs. A China anunciou a decisão de oferecer a todos os PMDs que têm relações diplomáticas com a China o tratamento de taxas alfandegárias zero para 100 por cento dos produtos desses países. De agora a 2030, as importações da China dos outros países em desenvolvimento ultrapassarão, provavelmente, US$8 trilhões.
Colegas,
Os chineses costumam dizer que “Uma jornada de mil quilômetros começa com o primeiro passo.” A China está pronta a dar passos junto com todas as partes para construir um mundo justo de desenvolvimento comum, deixar a pobreza no passado e transformar a nossa visão em realidade.
Obrigado!
Chegada calorosa
Na tarde de domingo (17), Xi desembarcou no Rio para participar da 19ª Cúpula do G20 e realizar uma visita de Estado ao Brasil, a convite do presidente Lula. A chegada ocorreu na Base Aérea do Galeão, onde foi recebido com honras militares e saudações de autoridades brasileiras.
Ao desembarcar, Xi foi recebido por altos funcionários do governo brasileiro, com direito a apresentação da guarda de honra e cornetas da Força Aérea Brasileira (FAB). Em um discurso no aeroporto, o presidente chinês enviou cumprimentos ao governo e ao povo brasileiro, ressaltando os laços históricos e estratégicos entre os dois países.
Xi destacou que esta é sua quinta visita ao Brasil, onde observou de perto o progresso do país ao longo de 30 anos. Ele ressaltou a relevância dos dois países como grandes nações em desenvolvimento nos hemisférios oriental e ocidental.
"China e Brasil são bons amigos e parceiros afins, que avançam juntos de mãos dadas. Apesar de estarem separados por vastos oceanos, os dois grandes países em desenvolvimento, localizados nos hemisférios oriental e ocidental, são atraídos um pelo outro e ecoam à distância", disse.
Ele celebrou os 50 anos das relações diplomáticas entre os dois países, comemorados em 2024, e expressou otimismo em fortalecer a cooperação estratégica e promover novos “50 anos dourados” de colaboração.
Nos últimos anos, segundo o presidente chinês, os dois países aprofundaram a confiança política mútua e obtiveram resultados significativos em cooperação prática, cultural e social. Ele também destacou o papel conjunto de China e Brasil na defesa do Sul Global em fóruns internacionais e na promoção da paz mundial.
Expectativas para o G20
Xi manifestou entusiasmo pela 19ª Cúpula do G20, que teve início nesta segunda-feira (18) e prossegue até terça-feira (19) no Rio. Ele afirmou que pretende trabalhar com líderes globais para discutir questões cruciais, como a promoção de um mundo multipolar justo, a globalização econômica inclusiva e o fortalecimento da governança global.
A cúpula de 2024 marca a primeira vez que a União Africana participa como membro pleno do G20, reforçando a voz do Sul Global. Xi elogiou essa inclusão como um marco histórico e reiterou seu compromisso em trabalhar com outros líderes para promover uma ordem global multipolar e uma globalização econômica justa e inclusiva.
O tema do G20 sob a presidência brasileira reflete as prioridades do governo Lula em combater a fome, a pobreza e a desigualdade, avançar no desenvolvimento sustentável e promover reformas na governança global.
Xi enfatizou a importância de colocar o desenvolvimento no centro da cooperação do G20, promovendo reformas no FMI, Banco Mundial e OMC para ampliar a representação e a voz do Sul Global.
Partida do Peru e aclamação popular
Antes de chegar ao Brasil, Xi concluiu uma visita ao Peru, onde participou da 31ª Reunião de Líderes Econômicos da APEC. Em Lima, foi acompanhado por autoridades locais até o embarque, enquanto cidadãos chineses e peruanos acenavam com bandeiras em sinal de apoio à delegação chinesa.
No Brasil, o presidente foi igualmente saudado com entusiasmo. Durante seu trajeto no Rio, moradores e representantes da comunidade chinesa se reuniram ao longo das ruas para acenar à comitiva, reforçando os laços entre os dois países.
A visita de Xi Jinping ao Brasil marca um momento histórico nas relações bilaterais e amplia as expectativas sobre o papel de China e Brasil no cenário global, tanto no âmbito do G20 quanto em iniciativas bilaterais de desenvolvimento e cooperação.
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