O presidente da China, Xi Jinping, chegou neste domingo (17) ao Brasil. Até terça-feira (19) ele participa da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro (RJ) e de lá segue para Brasília (DF) para uma visita de Estado.
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No dia da sua chegada, Xi publicou um artigo na Folha de S.Paulo no qual cita o quanto “as fofinhas capivaras, a bossa-nova, o samba e a capoeira são populares na China".
A referência às capivaras no artigo do líder chinês mostra o poder do soft power. Esses bichinhos são um fenômeno na China. Muito graças ao Capybara Go!, um jogo de RPG roguelike (subgênero inspirado no jogo Rogue, lançado em 1980, que enfatiza desafios estratégicos, exploração de ambientes e alta dificuldade) baseado em texto desenvolvido pela Habby, uma empresa chinesa conhecida por títulos como Archero e Survivor.io.
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Desde seu lançamento este ano, o jogo tem ganhado popularidade na China, especialmente entre o público jovem que aprecia a estética fofa das capivaras.
Capivaras são pop
Essa popularidade foi convertida em mercadorias relacionadas ao jogo em diversos estabelecimentos, como shoppings, máquinas de pegar bichinhos de pelúcia e cafeterias temáticas.
Em Chongqing, uma das quatro municipalidades diretamente subordinadas ao governo central, juntamente com Pequim, Xangai e Tianjin, localizada no sudoeste do país e uma das maiores cidades em área e população na China, há uma cafeteria onde esses roedores circulam livremente entre os clientes.
O lugar se chama Capybara House e, enquanto saboreia um café ou um lanche, a clientela pode interagir com as capivaras.
Jogos com capivaras
O brasileiro Marco Flor mora em Shenzhen, cidade localizada na província de Guangdong, que por aqui chamamos de Cantão, no sul da China, próxima a Hong Kong. É uma das cidades mais importantes do país asiático, especialmente em termos de tecnologia, inovação e comércio.
Flor trabalha como gerente regional na empresa chinesa desenvolvedora de jogos NominoX Games e contou em uma postagem no Linkedin como as capivaras se transformaram em um fenômeno global a partir de jogos. Natural de Curitiba, que tem o roedor como mascote, ele relata que o bichinho ganhou projeção mundial graças às redes sociais.
"É impressionante como as mídias sociais podem transformar uma espécie que até o ano passado era meio desconhecida, em uma sensação mundial. Ver produtos de capivara aqui na China com tanta frequência me lembra da minha cidade natal (quem diria que o que me faria lembrar de casa seria o maior roedor do mundo?)", escreveu.
O animal, comum em parques da capital paranaense, tornou-se um ícone de fofura que conquistou jovens ao redor do mundo, incluindo na China. Por lá, a febre das capivaras está presente em pelúcias, produtos de shoppings, cafeterias temáticas e no comércio digital.
No Taobao, uma das maiores plataformas de e-commerce da China, fundada em 2003 pelo grupo Alibaba, que funciona como um marketplace onde vendedores independentes e pequenas empresas podem oferecer produtos diretamente aos consumidores, as capivaras são uma sensação.
O fenômeno, impulsionado por compartilhamentos online, também encontrou espaço na indústria de games. Desenvolvedores brasileiros incorporaram capivaras em seus jogos, ressoando com a audiência global.
Capivaras são sensação em feira de jogos
Durante a gamescom latam deste ano, realizada de 26 a 30 de junho, no São Paulo Expo, em São Paulo (SP), Flor conta que a presença das capivaras nos jogos foi amplamente elogiada pelos jogadores, especialmente brasileiros, reforçando o impacto cultural do maior roedor do mundo.
Um dos jogos com capivara como protagonista foi divulgado durante o evento pelo Studio Bravarda, o Extremely Powerful Capybaras, um multiplayer cooperativo.
A gamescom latam é a edição latino-americana da gamescom, o maior evento de games do mundo. A próxima edição ocorrerá de 30 de abril a 4 de maio de 2025, no Centro de Convenções do Distrito Anhembi.
Diplomacia das capivaras
A paixão pelas capivaras mundo afora acabou deflagrando uma campanha informal na comunidade brasileira na China para que o Brasil adote o roedor como um símbolo nacional inspirada na diplomacia chinesa dos pandas.
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A "diplomacia dos pandas" é uma prática única da China que utiliza o envio de pandas gigantes como símbolo de amizade e cooperação entre países. Essa estratégia remonta ao século VII, mas ganhou força no século XX, especialmente durante a Guerra Fria. Hoje, os pandas são emprestados a zoológicos em outros países como parte de acordos diplomáticos e programas de conservação.
Assim como os pandas na China, as capivaras têm características únicas que poderiam ser aproveitadas como um símbolo de diplomacia brasileira:
As capivaras são conhecidas por sua convivência pacífica com outras espécies e por sua natureza calma, refletindo valores de harmonia e cooperação. Popular em várias partes do Brasil, as capivaras já são vistas como embaixadoras informais da fauna brasileira em redes sociais e produtos culturais.
A capivara poderia representar o Brasil em diálogos sobre preservação ambiental, especialmente no contexto do Pantanal e Amazônia. Iniciativas poderiam incluir enviar capivaras para zoológicos ou parques internacionais, promovendo a biodiversidade brasileira e atraindo mais atenção para as regiões de origem.
Enquanto a "diplomacia dos pandas" é consolidada e eficaz, uma possível "diplomacia das capivaras" teria potencial de destacar a identidade única do Brasil, promovendo a fauna e flora nacionais, valores culturais e sua conexão com o meio ambiente. A capivara, com seu carisma e simbolismo, poderia se tornar uma embaixadora da diplomacia brasileira no cenário global.
Originárias da América do Sul
As capivaras (Hydrochoerus hydrochaeris) são mamíferos roedores nativos da América do Sul. São os maiores roedores do mundo e pertencem à família Caviidae, a mesma de animais como os porquinhos-da-índia.
Podem pesar de 35 kg a 70 kg e medir até 1,30 metros de comprimento. Têm o corpo robusto, patas curtas e adaptadas para nadar, e pelagem marrom-clara ou avermelhada.
São semiaquáticas, vivendo próximas a corpos d'água como rios, lagos e pântanos. Herbívoras, alimentam-se de gramíneas, plantas aquáticas e cascas de árvores. Vivem em grupos de até 20 indivíduos, com uma hierarquia liderada por um macho dominante.
As capivaras são encontradas em praticamente toda a América do Sul, exceto em áreas desérticas e na alta cordilheira dos Andes. Habitam principalmente regiões de florestas tropicais, como a Amazônia; em savanas, como o cerrado brasileiro; e em pampas e áreas úmidas, como o Pantanal.
Embora nativas da América do Sul, as capivaras foram introduzidas em alguns países fora do continente, como os Estados Unidos, onde vivem em regiões específicas da Flórida e Texas. Isso geralmente ocorre devido à fuga de cativeiros ou importação para criadouros.
Por serem dóceis e facilmente adaptáveis, as capivaras são frequentemente vistas em parques urbanos de cidades sul-americanas, como Brasília e Curitiba, no Brasil. Além disso, elas têm hábitos de vida que chamam a atenção, como o "banho de sol" e a convivência com outros animais.
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