Em discurso durante a 16ª Cúpula do BRICS, realizada em Kazan, na Rússia, o presidente da China, Xi Jinping, abordou temas centrais para o futuro da cooperação entre as principais economias emergentes do mundo.
Durante a fala na quarta-feira (23) no evento com nove dos 10 países membros do grupo, exceto a Arábia Saudita, Xi enfatizou a necessidade de os países do BRICS aproveitarem a oportunidade histórica e trabalharem juntos para fortalecer a solidariedade e a cooperação entre as nações do Sul Global.
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Participaram dessa reunião reduzida o presidente da Rússia, Vladimir Putin, anfitrião da cúpula; o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed; o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi; o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa; o presidente da China, Xi Jinping; o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira; o presidente do Irã, Masoud Pezeshkian; o chanceler dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Mohammed bin Zayed Al Nahyan; e primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi.
Em meio a um cenário internacional de instabilidade, Xi destacou a importância de fortalecer a solidariedade entre os países do Sul Global, promover a paz e impulsionar o desenvolvimento sustentável.
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A expansão do BRICS foi celebrada como um marco histórico, e Xi reforçou o papel do grupo como vanguarda nas reformas da governança global, defendendo um multilateralismo inclusivo e a necessidade de inovação tecnológica para o desenvolvimento de alta qualidade.
"Devemos trabalhar juntos para transformar o BRICS em um canal primário para fortalecer a solidariedade e a cooperação entre as nações do Sul Global e em uma vanguarda para promover a reforma da governança global", declarou Xi em discurso na quarta-feira (23).
O grupo BRICS foi fundado em 2006 por Brasil, Rússia, Índia e China, com a África do Sul ingressando em 2011. Em 1º de janeiro de 2024, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos se tornaram membros plenos.
A Cúpula de Kazan é o primeiro encontro presencial dos líderes do grupo após a expansão. Os países do BRICS agora representam cerca de 30% do PIB global, quase metade da população mundial e um quinto do comércio global.
Medido pelo PIB, os países do BRICS já superaram o G7, que reúne as potências ocidentais Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido.
7 tópicos do discurso de Xi Jinping na Cúpula de Kazan
1. Expansão do BRICS
Xi Jinping celebrou a expansão do BRICS como um marco importante na história do grupo e na evolução da política internacional. Ele destacou que novos países foram convidados para se tornarem parceiros, o que fortalece o grupo e amplia seu impacto global.
Apesar de, segundo o governo russo, existir uma lista com mais de 30 países que pedem adesão ao BRICS, os líderes do grupo decidiram não admitir novos membros neste momento, mas conceder o status de "Estados parceiros" a determinados países.
A futura expansão do BRICS seguirá os critérios definidos pelos países membros de status "Estados parceiros". Será necessário um consenso entre todos os membros para que qualquer país seja admitido no grupo.
Nesta quinta-feira (24) foi anunciada a lista de 13 países convidados a fazer parte do BRICS como "Estados parceiros": Argélia, Bielorrússia, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Indonésia, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Vietnã e Uzbequistão.
2. Fortalecimento da Cooperação no Sul Global
O presidente chinês enfatizou que o BRICS deve servir como um canal essencial para aumentar a solidariedade e cooperação entre os países do Sul Global. O grupo deve liderar as reformas na governança global, ampliando a representação dos países em desenvolvimento.
3. Segurança e Paz Global
Xi chamou os países do BRICS a serem defensores da segurança comum e a trabalharem pela paz mundial. Ele pediu a desescalada imediata da crise na Ucrânia, seguindo três princípios: não expansão do conflito, não escalada dos combates e não provocação. Também pediu cessar-fogo imediato em Gaza e no Líbano, defendendo uma solução justa para o conflito palestino.
Em setembro, China, Brasil e outros países do Sul Global lançaram a plataforma "Amigos da Paz" durante a Assembleia Geral da ONU, para reunir mais vozes pela paz em relação à crise na Ucrânia.
Em novembro de 2023, três meses após a decisão de expansão, o BRICS realizou uma cúpula extraordinária conjunta sobre a situação em Gaza, com líderes dos membros convidados, em um encontro inédito para o grupo.
Esse encontro foi considerado "um bom começo" para uma maior cooperação no BRICS após sua ampliação, disse Xi, já que a reunião coordenou as posições e ações dos membros sobre o conflito entre palestinos e israelenses, iniciado em 7 de outubro de 2023.
4. Inovação e Desenvolvimento de Alta Qualidade
Xi ressaltou a necessidade de o BRICS liderar o desenvolvimento tecnológico e industrial, aproveitando as novas revoluções tecnológicas. Ele anunciou iniciativas como a criação de centros de pesquisa de inteligência artificial e outros projetos de inovação nos países do BRICS, para impulsionar o crescimento e a cooperação.
5. Desenvolvimento Verde e Sustentável
O discurso do presidente chinês destacou o compromisso do BRICS com o desenvolvimento sustentável e a transformação verde. A China propôs maior cooperação em indústrias verdes, como a fabricação de veículos elétricos e energia limpa, e o aumento de investimentos em tecnologias de baixo carbono para elevar a qualidade do desenvolvimento do grupo.
6. Reforma da Governança Global
Xi destacou a urgência de reformar a arquitetura financeira internacional para refletir as mudanças na economia global. Ele defendeu o fortalecimento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), que deve assumir um papel de liderança em promover o crescimento econômico dos países em desenvolvimento e melhorar a conectividade financeira.
A expansão da adesão do banco aumentará seu papel como plataforma de cooperação entre os países do Sul Global e contribuirá para construir uma arquitetura financeira internacional caracterizada pelo multilateralismo e multipolaridade, .
O NDB, o Banco dos BRICS, presidido pela ex-presidenta do Brasil Dilma Rousseff, foi criado em 2014 por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul como o primeiro banco multilateral de desenvolvimento estabelecido por economias emergentes e países em desenvolvimento. Em 2021, expandiu sua adesão para incluir Bangladesh, Emirados Árabes Unidos, Uruguai e Egito.
7. Intercâmbio Cultural e Cooperação em Educação
Xi sublinhou a importância dos intercâmbios culturais e educacionais entre os países do BRICS. Ele anunciou um programa de educação digital que inclui a criação de 10 centros de aprendizagem nos países membros, com o objetivo de capacitar professores e alunos, promovendo um maior intercâmbio cultural e educacional.
O discurso reflete a visão de Xi sobre o papel do BRICS na construção de um mundo multipolar, com maior cooperação entre os países do Sul Global e uma reforma mais justa da governança internacional.
Confira o discurso completo de Xi Jinping em Kazan
Abraçar uma Visão Mais Ampla e Atravessar a Névoa de Desafios Para Promover o Desenvolvimento de Alta Qualidade Para a Cooperação
Sua Excelência o Presidente Vladimir Putin,Colegas,
Antes de mais nada, gostaria de estender as minhas calorosas felicitações pelo sucesso da abertura desta cúpula. Gostaria também de agradecer ao Presidente Putin e à nossa anfitriã Rússia pelos arranjos esmerados e hospitalidade calorosa.
Queria aproveitar esta oportunidade para dar uma vez mais as boas-vindas aos novos membros à nossa família do BRICS. A expansão do BRICS é um grande marco na sua história e um evento marcante na evolução da situação internacional. Nesta cúpula, decidimos convidar vários países para ser países parceiros, que é mais um progresso importante no desenvolvimento do BRICS.
Como nós chineses costumamos dizer, “Um homem de virtude valoriza a justiça como o maior interesse.” É pela nossa busca compartilhada e pela tendência predominante da paz e desenvolvimento que nós, países do BRICS, nos reunimos. Devemos aproveitar ao máximo a cúpula, manter o vigor do BRICS, considerar e elaborar a nossa estratégia para abordar questões que têm impacto global, determinam nossa direção futura e possuem significado estratégico. Devemos nos basear nesta cúpula marcante para embarcar na nova jornada e seguir em frente com um só coração e um só espírito.
No momento em que o mundo entrou em um novo período de turbulência e transformação, estamos confrontados com escolhas cruciais que moldarão o nosso futuro. Será que podemos deixar o mundo descer ao abismo da desordem e caos, ou devemos nos esforçar para conduzi-lo de volta ao caminho da paz e desenvolvimento? Isso me lembra de um romance por Nikolay Chernyshevsky intitulado O que fazer? A determinação inabalável e o impulso entusiasmado do protagonista são exatamente a força de vontade que precisamos hoje. Quanto mais tumultuosos sejam os tempos, mais devemos permanecer na vanguarda com firmeza, exibindo tenacidade e audácia de ser pioneiro e demonstrando a sabedoria de nos adaptar. Devemos trabalhar juntos para transformar o BRICS em um canal principal para fortalecer a solidariedade e a cooperação entre os países do Sul Global e em uma vanguarda para promover a reforma da governança global.Temos de construir um BRICS comprometido com paz, e todos nós devemos atuar como defensores da segurança comum. Nós, seres humanos, somos uma comunidade de segurança indivisível. Somente abraçando a visão de segurança comum, abrangente, cooperativa e sustentável é que podemos abrir o caminho para a segurança universal. A crise na Ucrânia ainda persiste. China e Brasil, em colaboração com outros países do Sul Global, criaram um grupo de Amigos da Paz para abordar a crise. O objetivo é reunir mais vozes que advogam a paz.
Devemos defender os três princípios chaves: não expansão do campo de batalha, não escalada dos combates e não inflamação da situação por qualquer parte, e nos empenhar em promover desescalada célere da situação. Enquanto a situação humanitária em Gaza continua se deteriorando, as chamas da guerra reavivaram no Líbano e os conflitos entre partes envolvidas estão escalando. Devemos promover um cessar-fogo imediato e um fim da matança. Devemos envidar esforços incessantes para encontrar uma resolução abrangente, justa e duradoura da questão palestina.
Temos de construir um BRICS comprometido com inovação, e todos nós devemos atuar como pioneiros de desenvolvimento de alta qualidade. Como a última rodada de revolução tecnológica e transformação industrial está avançando em um ritmo acelerado, devemos acompanhar os passos do tempo e cultivar forças produtivas de nova qualidade. A China lançou recentemente um Centro China-BRICS de Desenvolvimento e Cooperação da Inteligência Artificial. Estamos dispostos a aprofundar cooperação em inovação com todos os países do BRICS para desencadear dividendos do desenvolvimento da IA. A China estabelecerá um Centro de Pesquisa Internacional de Recursos de Mar Profundo do BRICS, um Centro da China para Cooperação em Desenvolvimento de Zonas Econômicas Especiais nos Países do BRICS, um Centro da China para Competências Industriais do BRICS e uma Rede de Cooperação em Ecossistema Digital do BRICS. Damos boas-vindas à participação ativa de todas as partes interessadas para elevar qualidade da cooperação do BRICS.
Temos de construir um BRICS comprometido com desenvolvimento verde, e todos nós devemos atuar como promotores de desenvolvimento sustentável. Verde é a cor que define os nossos tempos. É importante que todos os países do BRICS abracem proativamente a tendência global de transformação verde e de baixo carbono. A capacidade produtiva de alta qualidade da China, a exemplo de fabricação de veículos elétricos, baterias de lítio e produtos fotovoltaicos, proporciona um impulso significativo ao desenvolvimento verde global. A China está disposta a aproveitar as suas vantagens para ampliar a cooperação com países do BRICS em indústrias verdes, energia limpa e mineração verde, e promover desenvolvimento verde em toda a cadeia produtiva para incrementar o “quociente verde” da nossa cooperação e elevar a qualidade do nosso desenvolvimento.
Temos de construir um BRICS comprometido com justiça, e todos nós devemos atuar como pioneiros na reforma da governança global. A correlação das forças nas dinâmicas internacionais está passando por mudanças profundas, mas a reforma da governança global tem estado atrasado há longo tempo. Devemos praticar verdadeiro multilateralismo e aderir à visão da governança global caraterizada por consulta extensiva, contribuição conjunta e benefícios compartilhados. Devemos assegurar que a reforma da governança global seja orientada pelos princípios de equidade, justiça, abertura e inclusão. À luz da ascensão do Sul Global, temos de responder favoravelmente aos pedidos dos países para entrar no BRICS. Temos de levar adiante o processo de expansão do BRICS e de estabelecimento de um mecanismo de país parceiro, e aumentar a representação e a voz dos países em desenvolvimento na governança global.
O contexto atual torna a reforma da arquitetura financeira internacional ainda mais premente. Os países do BRICS devem desempenhar um papel de liderança na reforma. Temos de aprofundar a cooperação fiscal e financeira, promover a conectividade da nossa infraestrutura financeira e aplicar altos padrões de segurança financeira. O Novo Banco de Desenvolvimento deve ser expandido e fortalecido. Devemos garantir que o sistema financeiro internacional reflita de forma mais efetiva as mudanças na conjuntura econômica global.
Temos de construir um BRICS comprometido com intercâmbios entre povos mais próximo, e todos nós devemos atuar como defensores de coexistência harmoniosa entre todas as civilizações. Os países do BRICS possuem patrimônio histórico e cultural profundo e ilustre. É importante promover o espírito de inclusividade e coexistência harmoniosa entre civilizações. Temos de reforçar trocas de experiências sobre governança entre países do BRICS, e explorar o pleno potencial de cooperação em áreas como educação, esportes e artes, para que as diversas culturas nossas se inspirem e iluminem o caminho à frente do BRICS. No ano passado, apresentei uma iniciativa para a cooperação em educação digital do BRICS, e estou muito feliz de ver que essa virou uma realidade. A China implementará um programa de construção de capacidade para educação digital do BRICS. Vamos estabelecer 10 centros de aprendizagem nos países do BRICS nos próximos cinco anos, e proporcionar oportunidades de formação para 1.000 administradores de educação, docentes e discentes locais. Isso será um passo concreto para aprofundar e fortalecer intercâmbios entre povos dos países do BRICS.
Colegas,
A China está disposta a trabalhar com todos os países do BRICS para abrir um novo horizonte no desenvolvimento de alta qualidade para a cooperação BRICS maior e dar as mãos com países do Sul Global para formar uma comunidade com futuro compartilhado para a humanidade.
Obrigado.
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