A reação das potências do Ocidente à Cúpula do BRICS em Kazan, na Rússia, tem sido marcada por preocupações sobre o crescente papel do bloco como uma alternativa à hegemonia liderada pelos EUA e Europa.
A 16ª Cúpula do BRICS, a primeira após a expansão do grupo em 1º de janeiro de 2024, com o ingresso de Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, juntando-se a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul e marcando o início oficial de uma cooperação ainda maior entre os países do grupo.
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Na agenda do encontro que começou nesta terça-feira (22) e prossegue até quinta-feira (24) está a expansão do BRICS, que já conta com uma lista de mais de 30 países interessados. Haverá também debates sobre desdolarização com propostas para criar um sistema de pagamento internacional que reduza a dependência do dólar e do euro, especialmente em resposta às sanções ocidentais.
A pauta inclui ainda cooperação econômica para fortalecer laços comerciais e financeiros entre os países membros e uma Nova Ordem Mundial que vai debater o papel do BRICS na promoção de uma ordem global multipolar, não dominada pelo Ocidente.
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Pesadelo do Império Ocidental
A reunião, que conta com a presença de líderes de potências emergentes como China e Índia, além de novos membros como Irã e Arábia Saudita, é vista como um esforço de países que buscam escapar da influência do dólar e criar um sistema econômico paralelo, menos dependente das potências ocidentais.
Para o Ocidente, particularmente para os EUA, o encontro reforça o desafio que a aliança BRICS representa à ordem financeira global dominada pelo dólar.
A proposta de um sistema de pagamento alternativo ao dólar e o crescente comércio entre os membros do BRICS são vistos como tentativas de minar as sanções e o controle econômico do Ocidente, especialmente contra Rússia e China.
Há também a percepção de que o BRICS enfrenta dificuldades internas devido às diferenças entre seus membros, como as tensões entre China e Índia e entre novos membros como Egito e Etiópia. Isso pode limitar a capacidade do bloco de apresentar uma frente totalmente unificada contra o Ocidente, o que alguns analistas veem como um alívio para os países ocidentais.
A expansão do BRICS é observada de perto pelos EUA e seus aliados, que continuam a ajustar suas políticas para conter o avanço dessa nova configuração geopolítica.
Cúpula do BRICS na mídia ocidental
Diante desses temores, está em marcha a ofensiva das potências ocidentais por meio da imprensa corporativa que pinta um quadro de confronto.
A Reuters, ao registrar o encontro entre Xi Jinping e Vladimir Putin em uma reunião bilateral nesta terça-feira (22), recorda que a Rússia trava uma guerra contra as forças ucranianas apoiadas pela aliança militar ocidental Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan).
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Já a China, sob pressão de um esforço unificado dos EUA para combater seu crescente poderio militar e econômico. Nesse contexto, Pequim e Moscou têm cada vez mais encontrado uma causa geopolítica comum.
Rússia e China, prossegue a agência, em reação ao que consideram ser humilhações do colapso soviético de 1991 e a séculos de domínio colonial europeu sobre a China, têm procurado retratar o Ocidente como decadente e em declínio.
Os Estados Unidos consideram a China seu maior concorrente, e a Rússia, sua maior ameaça de um Estado-nação. O presidente dos EUA, Joe Biden, disse que as democracias enfrentam um desafio de autocracias como a China e a Rússia.
Biden se referiu a Xi como um "ditador" e disse que Putin é um "assassino" e até mesmo um "fdp maluco". Pequim e Moscou repreenderam Biden pelos comentários.
Já a britânica BBC avalia que Putin usa a Cúpula do BRICS para mostrar que a Rússia não está isolada, apesar das sanções ocidentais e do mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional.
Com mais de 20 líderes presentes, incluindo Xi Jinping e Narendra Modi, da Índia, a Rússia busca alternativas ao uso do dólar em pagamentos internacionais.
No entanto, aponta o veículo, as divergências entre membros do BRICS, como China e Índia, e novos integrantes, como Egito e Etiópia, complicam a ideia de uma frente totalmente unida.
O The New York Times destaca que após a invasão da Ucrânia em 2022, o Ocidente impôs sanções econômicas abrangentes à Rússia, cortando seu acesso ao sistema bancário global e buscando isolá-la diplomaticamente.
No entanto, informa o jornal dos EUA, Putin está demonstrando resistência ao reunir países emergentes do grupo BRICS em uma cúpula ampliada para incluir os novos membros Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos que, juntos,representam quase metade da população mundial e mais de 35% da produção econômica global.
O veículo conclui que a cúpula do BRICS busca projetar o poder econômico de países emergentes e atrair novas nações para uma coalizão que visa criar uma nova ordem mundial, não dominada pelo Ocidente. Nesse contexto, o grupo é visto como uma estrutura central dessa nova ordem, com Putin reforçando essa mensagem em reuniões recentes com líderes e empresários em Moscou.
O que dizem os analistas das potências ocidentais
A aproximação estratégia entre Pequim e Moscou tem despertado reações críticas por parte dos EUA e seus aliados, que veem o fortalecimento da relação sino-russa como uma ameaça ao modelo de ordem global liderado pelo Ocidente.
Analistas ocidentais apontam que essa aliança está sendo moldada principalmente por interesses anti-EUA e pelo desejo de construir um mundo multipolar que reduza a influência de Washington.
Como o Atlantic Council, um think tank baseado nos EUA que se concentra em questões de segurança internacional e políticas globais. Um artigo publicano em maio deste ano reúne análises de especialistas sobre a nova era de cooperação entre Xi e Putin.
O texto destaca que a aliança é impulsionada pela hostilidade contra os EUA e visa desafiar a ordem global liderada pelo Ocidente. Alguns analistas veem essa parceria como benéfica para Xi, apesar de trocas econômicas desiguais com a Rússia, enquanto outros ressaltam os perigos de sanções, a evasão econômica e o fortalecimento do eixo autoritário. A relação representa uma nova dinâmica geopolítica que desafia o Ocidente.
Já o United States Institute of Peace (USIP), instituição financiada pelo governo dos EUA focada na resolução de conflitos e na promoção da paz em nível global, em artigo também de maio de 2024, analisa como Xi Jinping e Vladimir Putin reforçaram seus laços estratégicos em meio ao crescente isolamento internacional da Rússia devido à guerra na Ucrânia.
A parceria estratégia entre os dois líderes destaca sua oposição à liderança dos EUA e seu desejo de moldar uma nova ordem global multipolar. Apesar da forte cooperação econômica e política, o artigo ressalta os desafios que a aliança enfrenta, especialmente com as tensões internacionais e os impactos das sanções.
China e Rússia rebatem as análises e críticas
Apesar de contar com a participação de vários países em desenvolvimento, a mira dos descontentes das potências ocidentais tem como alvo Rússia e China. Os dois países respondem com firmeza as críticas ocidentais sobre sua parceria estratégica.
A Rússia defende a cooperação com a China como um contrapeso à hegemonia ocidental, especialmente após a imposição de sanções pela guerra na Ucrânia. O Kremlin descreve a parceria como essencial para criar uma nova ordem mundial multipolar.
Por sua vez, a China argumenta que a aliança com a Rússia é focada no desenvolvimento econômico e cooperação estratégica, e rechaça as críticas ocidentais, afirmando que busca manter a soberania e os interesses nacionais. Ambos países destacam que sua relação não é dirigida contra terceiros, mas sim para promover a estabilidade global.
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