A atual presidenta do BRICS e ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, desembarcou em Kazan no domingo (20) para integrar a 16ª Cúpula dos BRICS, que será realizada nesta terça-feira (22). O presidente Lula, que também compareceria ao evento na Rússia, precisou cancelar a viagem após sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada, e vai participar da reunião através de videoconferência.
Considerada uma das mais importantes reuniões do BRICS de todos os tempos, a cúpula do Brics, que agora conta com a África do Sul e mais quatro novos membros (Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã), realiza sua primeira reunião desde a expansão. São mais de 20 líderes mundiais confirmados e o secretário-geral da ONU, António Guterres.
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“A última reunião de cúpula dos Brics na África do Sul já foi mais importante por conta justamente dessa mudança e ampliação de 10 países, embora nem todos eles já tenham aderido plenamente com os processos de pedidos de ratificação, mas já é uma nova configuração”, afirmou a cientista política e socióloga Ana Prestes no Fórum Café desta segunda (21). Segundo ela, a “desdolarização” já avançou entre os países e a guerra da Ucrânia e no Oriente Médio aceleraram esse processo.
Desdolarização e formação de alianças
“No último período avançou muito na questão da desdolarização, de forma prática muitos países já estão comercializando que não o dólar, com as próprias moedas. A Guerra da Ucrânia acelerou esse processo e a capacidade desses países, principalmente da Eurásia e que comercializam com a Rússia, de estabelecerem novos formatos de comércio dentro do sistema financeiro internacional, porque tiveram que superar as barreiras do Swift e uma série de entraves no comércio internacional que estava sendo gerido desde Bretton Woods por uma aliança ocidental, basicamente EUA e Reino Unido e outros países, que têm esse mecanismo de travar comércio entre países por dominarem todo esse sistema”, disse Ana Prestes.
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Há mudanças concretas, alianças estratégicas por conta também de guerra, por exemplo Rússia e China, com resistência às investidas dos EUA, de acordo com a especialista.
“Há uma série de fatores que fazem que o Brics se estabeleça como um novo pólo de poder na prática no mundo”, destacou.
“Eles têm realmente apresentado alternativas econômicas para vários países, como a região da África, em Sahel, como Burkina Faso. Não é à toa que tem uma fila tão grande para entrar no Brics”
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A fala de Ana Prestes se confirma com a declaração de Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia. Ele declarou que o BRICS e a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), juntamente com outros blocos regionais, têm o potencial de se tornar uma força de equilíbrio frente à influência dos EUA no cenário global.
Em uma publicação no Telegram, Medvedev destacou a importância de construir "um contrapeso integral aos Estados Unidos, semelhante ao que existia na época da União Soviética e do Pacto de Varsóvia". Ele também mencionou que já se vislumbram possibilidades de um novo equilíbrio de poder, citando a OCX, o BRICS e a expansão das parcerias entre os países do Sul Global.
Assista entrevista completa de Ana Prestes
Entrevista exclusiva
Em entrevista coletiva no dia 11 de outubro, o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Ryabklov foi questionado pela Revista Fórum sobre o atual estado das relações entre Moscou e Brasília. O diplomata, que está no cargo desde 2008 e possui atuação focada em relações com o continente americano, afirmou que a gestão Lula tem se esforçado para fortalecer a colaboração entre os países.
"O atual governo no Brasil é um governo muito focado no futuro e de mente aberta com o qual queremos construir um relacionamento ainda mais forte. Uma parceria russo-brasileira altamente desenvolvida é algo que definitivamente apoiamos", afirmou.
Após a Cúpula dos BRICS em Kazan, o Brasil assumirá a presidência da organização e, no ano que vem, deve hospedar o evento dos chefes de estado.
"Nosso comércio atualmente está avançando apesar de todas as restrições. Temos uma série de projetos que estão sendo implementados ou que estão em andamento. E enquanto o Brasil se prepara para nos substituir e assumir o BRICS, faremos o máximo para compartilhar nossa experiência, oferecer nosso apoio e assistência, para garantir que a presidência brasileira seja um grande sucesso", afirmou Ryabkov.
"Só quero sucesso para o povo do Brasil na resolução de problemas, e também na cooperação com parceiros, incluindo a Rússia. O Brasil se torna cada vez mais não somente uma potência regional, mas eu diria uma potência global, muito respeitada e muito importante. Acreditamos que sua força crescerá ainda mais e faremos o máximo para nos beneficiar dela e oferecer nossas capacidades e oportunidades para fazer o mesmo", continuou o diplomata.
Ryabklov também foi questionado sobre a relação entre Rússia e a atual CEO do Novo Banco de Desenvolvimento e ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff. "Com relação ao trabalho da ex-presidente Dilma Rousseff, direi que temos uma interação muito próxima com ela", afirma. "Acho que temos um ouvido atento à Dilma Rousseff quando falamos com ela", afirma.
"O Brics não tem agendas ocultas. O BRICS é muito transparente e esse é um elemento do porquê o BRICS é tão atraente para a ampla comunidade internacional atualmente. Então, o NDB - sob a liderança muito capaz e competente da ex-presidente Dilma Rousseff - também faz parte deste apelo mais amplo do BRICS e nós a apoiamos"
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