FÓRUM CAFÉ

Dilma Rousseff chega para mais importante reunião de Cúpula dos BRICS; entenda

Cientista política Ana Prestes afirma ao Fórum Café que entrada de novos membros fortalece bloco e o consolida na prática como um novo pólo de poder global: "Uma nova configuração"

Dilma no Brics.Créditos: Ricardo Stuckert / PR
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A atual presidenta do BRICS e ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, desembarcou em Kazan no domingo (20) para integrar a 16ª Cúpula dos BRICS, que será realizada nesta terça-feira (22). O presidente Lula, que também compareceria ao evento na Rússia, precisou cancelar a viagem após sofrer um acidente doméstico no Palácio da Alvorada, e vai participar da reunião através de videoconferência.

Considerada uma das mais importantes reuniões do BRICS de todos os tempos, a cúpula do Brics, que agora conta com a África do Sul e mais quatro novos membros (Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Egito e Irã), realiza sua primeira reunião desde a expansão. São mais de 20 líderes mundiais confirmados e o secretário-geral da ONU, António Guterres.

“A última reunião de cúpula dos Brics na África do Sul já foi mais importante por conta justamente dessa mudança e ampliação de 10 países, embora nem todos eles já tenham aderido plenamente com os processos de pedidos de ratificação, mas já é uma nova configuração”, afirmou a cientista política e socióloga Ana Prestes no Fórum Café desta segunda (21). Segundo ela, a “desdolarização” já avançou entre os países e a guerra da Ucrânia e no Oriente Médio aceleraram esse processo.

Desdolarização e formação de alianças

“No último período avançou muito na questão da desdolarização, de forma prática muitos países já estão comercializando  que não o dólar, com as próprias moedas. A Guerra da Ucrânia acelerou esse processo e a capacidade desses países, principalmente da Eurásia e que comercializam com a Rússia, de estabelecerem novos formatos de comércio dentro do sistema financeiro internacional, porque tiveram que superar as barreiras do Swift e uma série de entraves no comércio internacional que estava sendo gerido desde Bretton Woods por uma aliança ocidental, basicamente EUA e Reino Unido e outros países, que têm esse mecanismo de travar comércio entre países por dominarem todo esse sistema”, disse Ana Prestes.

Há mudanças concretas, alianças estratégicas por conta também de guerra, por exemplo Rússia e China, com resistência às investidas dos EUA, de acordo com a especialista.

“Há uma série de fatores que fazem que o Brics se estabeleça como um novo pólo de poder na prática no mundo”, destacou.

“Eles têm realmente apresentado alternativas econômicas para vários países, como a região da África, em Sahel, como Burkina Faso. Não é à toa que tem uma fila tão grande para entrar no Brics”

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A fala de Ana Prestes se confirma com a declaração de Medvedev, vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia. Ele declarou que o BRICS e a Organização para Cooperação de Xangai (OCX), juntamente com outros blocos regionais, têm o potencial de se tornar uma força de equilíbrio frente à influência dos EUA no cenário global.

Em uma publicação no Telegram, Medvedev destacou a importância de construir "um contrapeso integral aos Estados Unidos, semelhante ao que existia na época da União Soviética e do Pacto de Varsóvia". Ele também mencionou que já se vislumbram possibilidades de um novo equilíbrio de poder, citando a OCX, o BRICS e a expansão das parcerias entre os países do Sul Global.

Assista entrevista completa de Ana Prestes 

Entrevista exclusiva

Em entrevista coletiva no dia 11 de outubro, o vice-ministro de Relações Exteriores da Rússia Sergey Ryabklov foi questionado pela Revista Fórum sobre o atual estado das relações entre Moscou e Brasília. O diplomata, que está no cargo desde 2008 e possui atuação focada em relações com o continente americano, afirmou que a gestão Lula tem se esforçado para fortalecer a colaboração entre os países.

"O atual governo no Brasil é um governo muito focado no futuro e de mente aberta com o qual queremos construir um relacionamento ainda mais forte. Uma parceria russo-brasileira altamente desenvolvida é algo que definitivamente apoiamos", afirmou.

Após a Cúpula dos BRICS em Kazan, o Brasil assumirá a presidência da organização e, no ano que vem, deve hospedar o evento dos chefes de estado.

"Nosso comércio atualmente está avançando apesar de todas as restrições. Temos uma série de projetos que estão sendo implementados ou que estão em andamento. E enquanto o Brasil se prepara para nos substituir e assumir o BRICS, faremos o máximo para compartilhar nossa experiência, oferecer nosso apoio e assistência, para garantir que a presidência brasileira seja um grande sucesso", afirmou Ryabkov.

"Só quero sucesso para o povo do Brasil na resolução de problemas, e também na cooperação com parceiros, incluindo a Rússia. O Brasil se torna cada vez mais não somente uma potência regional, mas eu diria uma potência global, muito respeitada e muito importante. Acreditamos que sua força crescerá ainda mais e faremos o máximo para nos beneficiar dela e oferecer nossas capacidades e oportunidades para fazer o mesmo", continuou o diplomata.

 Ryabklov também foi questionado sobre a relação entre Rússia e a atual CEO do Novo Banco de Desenvolvimento e ex-presidente do Brasil Dilma Rousseff. "Com relação ao trabalho da ex-presidente Dilma Rousseff, direi que temos uma interação muito próxima com ela", afirma. "Acho que temos um ouvido atento à Dilma Rousseff quando falamos com ela", afirma.

"O Brics não tem agendas ocultas. O BRICS é muito transparente e esse é um elemento do porquê o BRICS é tão atraente para a ampla comunidade internacional atualmente. Então, o NDB - sob a liderança muito capaz e competente da ex-presidente Dilma Rousseff - também faz parte deste apelo mais amplo do BRICS e nós a apoiamos"

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