O BRICS se tornou o grupo mais dinâmico no cenário internacional com um aumento significativo no número de economias em desenvolvimento que expressam desejo de aderir à plataforma.
Nesta terça-feira (22), durante a 16ª Cúpula do BRICS, em Kazan, na Rússia, a primeira após a expansão do grupo em 1º de janeiro de 2024, com o ingresso de Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos, juntando-se a Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, marcou o início oficial de uma cooperação ainda maior entre os países do grupo.
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Foi anunciada também a possibilidade de adesão de mais 13 países ao BRICS: Argélia, Belarus, Bolívia, Cuba, Indonésia, Cazaquistão, Malásia, Nigéria, Tailândia, Turquia, Uganda, Uzbequistão e Vietnã.
Mesmo que o maior apelo do BRICS no Sul Global seja bem-vindo, questões sobre como essa maior inclusão poderia ser combinada com maior eficiência estão sendo cada vez mais levantadas na comunidade de especialistas.
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A mais proeminente entre as preocupações é que o aumento da adesão poderia dificultar a obtenção de consenso dentro do BRICS. E, embora a mudança para uma maior inclusão seja inexorável, um dos principais desafios na evolução dessa família de países em desenvolvimento é a necessidade de combinar a tendência com maior eficácia nas operações do grupo.
Em artigo publicado na rede chinesa CGTN, o fundador do BRICS+ Analytics, Yaroslav Lissovolik, avalia que nesta busca para atingir um equilíbrio entre inclusão e eficiência, a China tem um papel especial a desempenhar.
Lissovolik observa que a potência asiática iniciou o modelo de cooperação BRICS Plus em 2017 e gerou uma onda de inscrições de economias em desenvolvimento para ingressar no grupo.
Embora a China tenha desempenhado um papel crucial em tornar a evolução do BRICS mais inclusiva, há espaço agora para focar em iniciativas para tornar o grupo mais eficaz, aponta o analista.
"Isso envolve maior priorização da cooperação econômica entre as economias da plataforma expandida, principalmente na esfera do comércio e investimento", escreve.
Outra dimensão sinalizada pelo economista é atingir maior escala que priorize a cooperação econômica pragmática. Uma maneira de fazer isso é criar um "cinturão de parceria" do BRICS Plus para acordos de integração regional dos quais as principais economias do BRICS são membros.
"Isso permitiria uma expansão significativa no círculo de parceria do BRICS por meio dos parceiros regionais das principais economias do grupo", aposta.
Ainda mais importante, frisa, criaria uma plataforma para a liberalização do comércio entre as economias do BRICS Plus, cuja política comercial é cada vez mais determinada por seus blocos de integração regional.
Essa cointegração dos blocos regionais liderados pelas principais economias do BRICS, para Lissovolik, poderia fornecer espaço para as instituições de desenvolvimento regional — principalmente bancos de desenvolvimento regionais/multilaterais, como o Banco Asiático de Investimento em Infraestrutura, o Banco Eurasiano de Desenvolvimento e outros do Sul Global — cooperarem no cofinanciamento de projetos prioritários em todo o mundo em desenvolvimento.
Essa cooperação entre as instituições de desenvolvimento regional poderia ser coordenada pelo Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) do BRICS, presidido pela ex-presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, que tem se tornado um participante cada vez mais ativo nas plataformas econômicas/de investimento globais.
Nesse sentido, prossegue o analista, outra maneira de combinar maior inclusão e eficiência para o BRICS é expandir a associação ao NDB para incluir os parceiros regionais dos principais membros do grupo. Isso ampliaria o escopo para projetos de conectividade e fortaleceria as bases para a integração regional em todo o Sul Global.
Outra possibilidade listada pelo economista é atualizar as capacidades do acordo de reserva contingente do BRICS. Fornecer a essa facilidade os instrumentos para dar suporte às economias do grupo expandido ampliaria significativamente o apelo do BRICS no mundo em desenvolvimento e abordaria os principais desequilíbrios macroeconômicos nos países em desenvolvimento.
A reserva de contingente é um mecanismo utilizado por organizações, governos ou instituições financeiras para disponibilizar uma quantia de recursos destinada a enfrentar situações imprevistas ou emergências.
Esse tipo de reserva atua como um fundo de segurança, preparado para cobrir despesas inesperadas, crises econômicas ou desastres, garantindo a estabilidade financeira em tempos de incerteza. No contexto de organizações internacionais, como o BRICS, a reserva de contingente pode ajudar a estabilizar economias durante crises, fornecendo liquidez e apoio financeiro aos países membros.
De modo mais geral, segundo Lissovolik, atingir um equilíbrio entre eficiência e inclusão exige limitar a expansão adicional no núcleo do BRICS no curto prazo, ao mesmo tempo em que permite uma gama mais ampla de parcerias e modalidades de cooperação econômica dentro do formato BRICS Plus.
"A expansão do núcleo deve permanecer uma possibilidade aberta para economias do "cinturão de parceria" do BRICS que demonstrem avanços na cooperação econômica com seus parceiros do círculo BRICS Plus e adiram aos valores centrais enunciados pelo bloco em sua estratégia de expansão", pontua.
No geral, maior ênfase em iniciativas econômicas concretas (como um roteiro de liberalização comercial) na evolução futura do BRICS em oposição à priorização adicional da expansão do núcleo serviria para reequilibrar as prioridades do BRICS em direção a maior pragmatismo e eficácia econômica, aponta Lissovolik.
Finalmente, na busca para alcançar maior eficiência e alcance, o BRICS precisa mirar em iniciativas globais que abordem alguns dos problemas globais mais urgentes que a comunidade integracional enfrenta hoje, avalia o autor.
Com relação ao comércio internacional, na avaliação de Lissovolik, o BRICS poderia assumir a liderança no lançamento de uma nova rodada de comércio global da Organização Mundial do Comércio (OMC), algo que não acontece há décadas.
Na esfera do sistema monetário internacional, o BRICS, segundo o artigo, poderia apresentar sua visão de uma construção mais eficaz e estável que conecta devidamente os recursos e capacidades dos acordos de financiamento regionais/bancos de desenvolvimento regionais com as instituições financeiras globais, como o FMI e o Banco Mundial.
No final, ao combinar eficiência e inclusão, a plataforma BRICS Plus abriga o potencial de proporcionar a todos os países do Sul Global uma oportunidade de fazer uma contribuição tangível para melhorar a estrutura da economia mundial, encerra.
Sobre Yaroslav Lissovolik
Yaroslav Lissovolik, economista com passagem pelo Fundo Monetário Internacional (FMI )e Deutsche Bank, fundou o BRICS+ Analytics em 2023, após ocupar altos cargos no Banco de Desenvolvimento Eurasiático e no Sberbank.
Lissovolik tem sido uma voz influente em políticas econômicas internacionais, especialmente no contexto da entrada da Rússia na OMC em agosto de 2012, após 18 anos de negociações; e no desenvolvimento do BRICS. Ele também é membro de importantes conselhos internacionais, como o Comitê de Bretton Woods e o Conselho de Assuntos Internacionais da Rússia.
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