O presidente chinês, Xi Jinping, se encontrou nesta quarta-feira (23) com o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, à margem da 16ª Cúpula do BRICS que prossegue até esta quinta-feira (24) em Kazan, na Rússia.
Essa foi uma reunião de enorme importância estratégica, pois a recuperação das relações China-Índia atende não apenas aos interesses de ambos os países, mas também à construção de um mundo multipolar.
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Durante a reunião, Xi pediu que a China e a Índia facilitassem a busca mútua de aspirações de desenvolvimento. O presidente chinês afirmou que os dois lados devem fortalecer a comunicação e a cooperação, administrar adequadamente as diferenças e desacordos
Xi destacou que, como civilizações consagradas, grandes países em desenvolvimento e membros importantes do Sul Global, China e Índia estão em uma fase crucial de seus respectivos esforços de modernização.
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"A melhor maneira de promover os interesses fundamentais dos dois países e dois povos é que ambos mantenham a tendência da história e a direção certa das relações bilaterais", observou Xi.
O presidente chinês pediu que os dois países assumam sua responsabilidade internacional, deem o exemplo no aumento da força e da unidade dos países em desenvolvimento e contribuam para promover um mundo multipolar e maior democracia nas relações internacionais.
"O desenvolvimento é o maior denominador comum entre a China e a Índia", disse Xi.
Ele pediu que ambos os lados sejam parceiros em vez de concorrentes, adiram a um entendimento estratégico correto e busquem um caminho certo para que os países vizinhos vivam em harmonia e se desenvolvam juntos.
De sua parte, Modi disse que manter o desenvolvimento estável das relações Índia-China é de grande importância para ambos os países e seus povos.
"Como duas civilizações consagradas e grandes economias, a cooperação Índia-China é propícia para promover a recuperação econômica e a multipolaridade mundial", observou Modi.
O primeiro-ministro da Índia prometeu aprimorar a comunicação estratégica com a China e expandir a cooperação mutuamente benéfica.
Ambos os lados concordaram em conduzir diálogos entre os ministros das Relações Exteriores e autoridades dos dois países em todos os níveis para levar as relações bilaterais ao caminho do desenvolvimento estável o mais rápido possível.
Também acreditaram que a reunião foi construtiva e de grande importância, e concordaram em ver e lidar com as relações bilaterais de uma perspectiva estratégica e de longo prazo, e não deixar que diferenças específicas afetem o relacionamento geral entre os dois países.
Arestas em fronteiras
Os dois líderes falaram positivamente do progresso recente feito pelos dois lados na resolução de questões relacionadas às áreas de fronteira por meio de comunicação intensiva. Eles concordaram em dar total importância ao papel do mecanismo de reunião entre os representantes especiais dos dois países nesse tema, manter a paz e a tranquilidade e buscar soluções justas e razoáveis.
As disputas fronteiriças entre China e Índia envolvem principalmente a região do Himalaia, com foco nas áreas de Aksai Chin e Arunachal Pradesh.
Aksai Chin é controlada pela China, mas reivindicada pela Índia, enquanto Arunachal Pradesh, controlada pela Índia, é reivindicada pela China.
Esses conflitos levaram a confrontos militares em 1962, 1967 e, mais recentemente, em 2020 no Vale de Galwan, na região de Ladakh. A fronteira, chamada Linha de Controle Real (LAC), permanece não demarcada, o que contribui para tensões.
Parceria sino-indiana em recuperação
Esta é a primeira reunião bilateral entre Xi e Modi desde 2019, quando se encontraram bilateralmente na cidade de Chennai, no sul da Índia, na segunda cúpula informal Índia-China.
A primeira reunião informal entre os dois líderes ocorreu em Wuhan, província de Hubei, na China Central, em abril de 2018. Em 2023, Xi também conversou com Modi à margem da Cúpula do BRICS na África do Sul, a pedido deste último.
Durante coletiva regular de imprensa na terça-feira (22) do Ministério das Relações Exteriores da China, o porta-voz Lin Jian comentou a importância de uma boa relação entre os dois países.
"Ao longo de um período recente, a China e a Índia chegaram a resoluções sobre questões relativas à área de fronteira após comunicação próxima por meio de canais diplomáticos e militares. A China elogia o progresso feito e continuará trabalhando com a Índia para a implementação sólida dessas resoluções", afirmou.
O vice-diretor do Centro de Estudos do Sul da Ásia na Universidade Fudan, Lin Minwang, comentou ao jornal chinês Global Times que a reunião mostra que as relações China-Índia agora estão no caminho da recuperação, já que os dois lados chegaram a resoluções sobre questões relativas à área de fronteira, então o obstáculo que bloqueou a recuperação dos laços bilaterais foi removido.
Construção de um mundo multipolar
O professor da Universidade de Relações Exteriores da China, Li Haidong, comentou que a reunião prova que esta organização internacional formada por economias emergentes é uma plataforma e canal importante para os principais países se coordenarem entre si em questões sensíveis com diplomacia, para consertar laços danificados e chegar a um consenso.
O mundo está entrando em um período de multipolarização, e economias emergentes como China e Índia são participantes cruciais nesse processo, então se elas puderem administrar adequadamente as diferenças e impulsionar a confiança mútua e a unidade, elas poderiam trazer mudanças significativas para melhorar ou reformar a ordem internacional que está enfrentando o impacto do unilateralismo dominado pelo Ocidente e da hegemonia dos EUA, observou Li.
Lin Minwang observou que os formuladores de políticas e tomadores de decisão indianos perceberam que cometeram um erro nos últimos quatro anos ao se desvincular da China e tentar obter apoio dos EUA, e agora precisam corrigir esse erro.
"A política da Índia que visa se desvincular da China não conseguiu atrair apoio significativo do Ocidente liderado pelos EUA para ajudar o 'Made in India' e a modernização e industrialização do país. Isso prova que a Índia não pode lucrar sendo hostil ou se desvinculando da China, e está até mesmo dificultando que a Índia realize seu próprio desenvolvimento", analisoiu Lin Minwang.
Esta é apenas a razão econômica, uma razão fundamental é que o governo Modi pode ter descoberto que os EUA são muito incertos e pouco confiáveis, já que a política externa de Washington pode sofrer uma reviravolta após a eleição presidencial em novembro, então a Índia deve agir primeiro para minimizar os riscos, reforçou o especialista.
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