CIÊNCIA

Descoberta arqueológica: ancestrais humanos criaram ferramentas de osso há 1,5 milhão de anos

Até então, artefatos semelhantes mais antigos tinham meio milhão de anos; segundo pesquisadores, estudo "lança nova luz sobre o mundo quase desconhecido da tecnologia óssea dos primeiros hominídeos"

Ferramenta de osso esculpida no úmero de um elefante datada de 1,5 milhão de anosCréditos: CSIC
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Pesquisadores divulgaram nesta quarta-feira (5), na revista Nature, um estudo relatando a descoberta das ferramentas de osso mais antigas já encontradas.

A equipe encontrou, por meio de escavações no desfiladeiro de Olduvai, na Tanzânia, 27 artefatos de ossos afiados em forma de facas de quase 40 cm de comprimento.

Segundo os arqueólogos, qualquer um dos dois hominídeos fósseis conhecidos por terem vivido no local há cerca de 1,5 milhão de anos, um possível ancestral humano direto chamado Homo erectus ou uma espécie de ramo lateral apelidada de Paranthropus boisei, poderia ter criado os itens.

Há registros de ferramentas de pedra elaboradas há 3,3 milhões de anos, mas, até então, as ferramentas de osso semelhantes mais antigas conhecidas tinham meio milhão de anos, encontradas na Europa e na Ásia.

"A natureza esparsa do registro de ferramentas ósseas lascadas antigas impediu que pesquisadores identificassem consistências comportamentais em sua produção e uso, e estabelecessem o papel que elas tiveram na subsistência e cognição dos primeiros hominídeos", pontua o estudo, observando que a pesquisa "lança nova luz sobre o mundo quase desconhecido da tecnologia óssea dos primeiros hominídeos".

Ossos de mamíferos

Todas as 27 ferramentas ósseas encontradas durante a escavação vêm de ossos atribuídos a mamíferos mais pesados do que duas toneladas. Entre os 16 espécimes identificáveis, oito são de elefante, seis são de hipopótamo e dois de bovinos.

Os artefatos provavelmente foram feitos quebrando as pontas grossas dos ossos da perna, com os hominídeos utilizando uma pedra para arrancar lascas do eixo ósseo restante, de acordo com Ignacio de la Torre, pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa Espanhol (CSIC) e codiretor das escavações com Jackson Njau, da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos.

As ferramentas de osso eram “provavelmente usadas como machado de mão”, ainda segundo De la Torre, usadas para remover carne de carcaças de elefantes e hipopótamos, mas não utilizadas como ponta de lança ou projétil. “Não acreditamos que eles estivessem caçando esses animais. Eles provavelmente estavam se alimentando dos animais já mortos”, disse ele, à NBC News.

“Esta descoberta nos leva a crer que os primeiros humanos expandiram significativamente suas opções tecnológicas, que até então se limitavam à produção de ferramentas de pedra, e agora podiam incorporar novas matérias-primas ao seu repertório de artefatos potenciais”, explica De la Torre. “Por sua vez, essa expansão do potencial tecnológico indica avanços nas capacidades cognitivas e nas estruturas mentais desses hominídeos (hominídeos com locomoção bípede), que foram capazes de incorporar inovações técnicas ao adaptar seus conhecimentos de trabalho com pedras à manipulação de restos ósseos”, acrescenta.

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