ESTADOS UNIDOS

Nasser explica o que difere democratas e republicanos nos EUA

Especialista em Relações Internacionais pontua diferenças entre os dois partidos ao comentar sobre novo governo Trump e sua declaração sobre limpeza étnica na Faixa de Gaza

Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais.Créditos: Iuri Barcelos/Agência Pública
Escrito en GLOBAL el

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia desta quinta-feira (6), o professor de Relações Internacionais Reginaldo Nasser falou sobre o novo governo de Donald Trump nos Estados Unidos e pontuou diferenças entre democratas e republicanos para analisar o novo cenário que se instaura no país. Para Nasser, há pouca diferença, em relação a alguns tópicos, entre os dois grupos políticos dos EUA. O professor defende que uma das principais áreas em que há uma diferença "consistente" entre democratas e republicanos é a Saúde. 

Nasser cita que, durante o primeiro governo de Trump (2017-2020) houve, pela primeira vez em 30 anos, mudanças no apoio da elite americana. Agora, no segundo mandato de Trump, essa mudança é ainda mais intensa. Para Nasser, agora há uma "guerra entre a classe dominante". "As facções de classe estão em luta", diz. 

Em relação à questão humanitária, o professor diz estar "muito assustado" diante do novo cenário. Ele cita um estudo que mostra que a cada US$ 1 de "doação" dos Estados Unidos, o país ganha US$ 3. "E também já foi demonstrado que essas ajudas humanitárias eram um caminho também para golpe de estado, para intervenção. É lógico que ajuda também instituições como a ACNUR, é verdade. Mas eu estou querendo dizer que isso é um projeto de domínio de hegemonia dos democratas", afirma.

"Então há um movimento na sociedade americana nas elites. Ele [Trump] cutucou a elite democrata. A elite democrata estava lá passiva, agora está elétrica porque está vendo que vai perder", diz. 

"Citando o Bernie Sanders, [ele] está dizendo 'olha, pessoal ficou aí achando que não é nada, só um grupo aqui de esquerda é combatendo, vai pegar vocês também'. Então eu entendo que é isso e é óbvio que o que vai atingir mais a população não apareceu ainda, porque uma das diferenças, essa sim tem diferença, entre democratas e republicanos, é a questão da seguridade social e da área de saúde", destaca Nasser.

"Ainda que com todos os problemas que tiveram os Estados Unidos, os democratas seguravam as pontas disso, de um mínimo de participação estatal", afirma o professor. "Então eu acho que essa é a área mais sensível para atingir a população", completa.

O professor ainda pontua que, além da área de Saúde e outras questões como alimentação, também há uma diferença no tratamento de direitos individuais de minorias sociais. "Eu não estou colocando eles [democratas e republicanos] no mesmo barco, de jeito nenhum, senão eu estaria negando a diferença. Tanto que um sinal disso foi quando o Netanyahu visitou os Estados Unidos com o Biden, metade do Partido Democrata não compareceu sob protesto. Então tem ainda, mas uma outra parte a gente sabe que realmente está se lixando [para a questão humanitária]", afirma Nasser.

Governo Biden e o massacre de Gaza

Durante a entrevista, Nasser também pontuou que apesar de Trump demonstrar uma postura mais extremista e adotar políticas de exceção, essa não é uma característica exclusiva do presidente, mas dos Estados Unidos. 

"Ele não é culpado por toda a história dos Estados Unidos montada em cadáveres. Muito antes do Hitler os Estados Unidos fez coisas que eu acho que Hitler deve ter invejado. O genocídio dos indígenas e o horror da escravidão, para não mencionar as inúmeras guerras e intervenções que os Estados Unidos atrás deles. Então, isso tudo não é o Trump", afirma o professor. 

Além disso, Nasser destaca que quem apoiou o genocídio de Israel contra palestinos na Faixa de Gaza desde 7 de outubro de 2023 foi o governo Biden. "Eu não estou falando isso para livrar o Trump, mas para colocá-lo junto com os outros. Quem apoiou o genocídio até um mês atrás foi o Joe Biden. O Trump apoia também, mas há um há um movimento na história dos Estados Unidos e nós não podemos negar isso", diz.

"Eu estou dizendo isso porque a questão é mais grave, não é só tirar o Trump, é combater a elite americana, uma força social política. Então agora os democratas acordaram para o mundo? Pelo amor de Deus", critica o professor. 

"É isso que a gente não pode perder de vista para combater os dois. Vem o Biden, inunda Israel com arma, arrasa Gaza, aí vem o Trump e diz 'vamos sair daí'. É uma piada. Os dois acabam complementando o outro. Essa é a questão. Ele [Trump] não está desvirtuando de nada", afirma. 

"Os democratas não podem lavar essa sujeira criticando o Trump. Seria fechar os olhos. Faz 15 dias que Trump assumiu, o genocídio é de 7 de outubro de 2023 até 20 de janeiro. Nós vamos esquecer isso já? Não pode", finaliza Nasser.

Confira a entrevista completa de Reginaldo Nasser ao Fórum Onze e Meia abaixo: 

 

Reporte Error
Comunicar erro Encontrou um erro na matéria? Ajude-nos a melhorar