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"Pessoas vão morrer": EUA anunciam corte de 90% em programas de saúde global

Governo Trump suspendeu financiamento de cerca de 5,8 mil programas voltados ao tratamento de HIV, pólio, tuberculose, malária, desnutrição e outros

Donald Trump, presidente dos Estados Unidos.Créditos: Gage Skidmore/Wikimedia Commons
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Nesta quinta-feira (27), mais uma onda de e-mails enviados pelos Estados Unidos assustaram autoridades, dessa vez da área da saúde. O Departamento de Estado em Washington encaminhou, para todo o mundo, um comunicado anunciando corte de 90% em ajuda global para o setor, impactando diversos serviços que prestam assistência para tratamento de doenças como pólio, HIV, malária e tuberculose. Além disso, programas de nutrição também sofrerão impacto. 

“Este financiamento está sendo encerrado por conveniência e no interesse do governo dos EUA”, começavam os e-mails, de acordo com o The New York Times

O anúncio promove um corte em cerca de 5,8 mil projetos que eram financiados pela Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), fechado por Donald Trump após recomendação do bilionário Elon Musk

Os e-mails ainda informam que o período dedicado à revisão da presidência acerca dos financiamentos havia chegado ao fim e que qualquer esperança de retorno havia terminado. O comunicado gerou revolta e preocupação em diversas autoridades da saúde, que alertaram que milhares de pessoas estarão correndo risco de vida com a falta de assistência dos programas. 

"As pessoas vão morrer. Mas nunca saberemos, porque até mesmo os programas que contam os mortos foram cortados", afirmou Catherine Kyobutungi, diretora executiva do Centro Africano de Pesquisa em População e Saúde.

"Os cortes de financiamento dos EUA estão desmantelando o sistema. O tratamento do HIV está desmoronando. Os serviços de tuberculose estão entrando em colapso…Vidas estão em jogo”, também declarou Beatriz Grinsztejn, presidente da Sociedade Internacional de AIDS.

A África do Sul, país com as taxas mais altas de infecção por HIV no mundo, contabilizando 8 milhões de pessoas com a doença, será um dos principais afetados pelos cortes. Os programas atendiam principalmente grupos mais vulneráveis.

Alguns dos projetos prejudicados pelo corte de financiamento envolvem imunização contra a pólio, projetos de proteção à infecção por malária, combate à desnutrição no Iêmen, fornecimento de medicamentos para o tratamento de tuberculose, monitoramento de pessoas com Ebola, assistência a mulheres vítimas de violência sexual no Nepal, entre outros.

Corte de Trump em programa de combate ao HIV representa ameaça global, alerta OMS

A Organização Mundial da Saúde (OMS) se manifestou, no dia 29 de janeiro, sobre os cortes anunciados pelo presidente Donald Trump a programas de combate ao HIV com um alerta grave sobre as consequências dessa medida. Em nota, a instituição afirmou que a interrupção de financiamento ao programa representa uma "ameaça global".

Segundo a OMS, mais de 30 milhões de pessoas ao redor do mundo podem ficar em situação de risco de vida com os cortes anunciados. A medida também pode levar o mundo de volta às décadas de 1980 e 1990, quando milhões de pessoas morriam devido ao HIV.

"Uma parada de financiamento para programas de HIV pode colocar os viventes com HIV em risco imediato de doença e morte, além de minar os esforços para prevenir a transmissão em comunidades e países. Essas medidas, se prolongadas, podem levar ao aumento de novas infecções e mortes, revertendo décadas de progresso e possivelmente levando o mundo de volta aos anos 1980 e 1990, quando milhões morriam de HIV a cada ano, incluindo muitos nos Estados Unidos", diz trecho do comunicado.

"Apelamos ao governo dos Estados Unidos para que autorize isenções adicionais para garantir o fornecimento de tratamento e cuidados vitais para o HIV", acrescentou a nota.

O corte de financiamento afeta o Plano de Emergência do Presidente dos Estados Unidos para o alívio da AIDS, que fornece os medicamentos e causa impacto principalmente em países mais pobres, como os do continente africano. 

O Brasil também deve ser afetado com a medida, já que recebe financiamento do programa para baratear os custos com o tratamento da AIDS. Além disso, estudos realizados pela Fiocruz para aumentar a conscientização sobre a doença também podem ser paralisados.

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