Uma firma de advogados argentinos enviou ao Departamento de Justiça dos Estados Unidos e ao Federal Bureau of Investigation (FBI) um "relatório de operações criminosas" sobre as atividades envolvendo a criptomoeda $LIBRA.
O documento destaca a participação do presidente argentino Javier Milei e de sua irmã, Karina Milei, secretária-geral da Presidência. Também menciona Mauricio Novelli e Manuel Terrones Godoy, que já trabalharam com o mandatário no passado, do estadunidense Hayden Mark Davis e do cingapuriano Julian Peh.
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"Solicitamos que o Departamento de Justiça investigue o papel do Presidente da República Argentina, Javier Milei, neste golpe, já que ele o promoveu e no passado promoveu vários empreendimentos que acabaram sendo golpes", disse o advogado do escritório, Mariano Moyano Rodríguez. A Comissão de Valores Mobiliários dos EUA também foi notificada sobre as possíveis atividades criminosas.
Os advogados argumentam que os Estados Unidos teriam jurisdição para realizar a investigação já que cidadãos ou residentes dos EUA foram vítimas dos crimes. Além disso, a plataforma utilizada, chamada Kip Protocol, é desenvolvida nos Estados Unidos e a empresa controladora, Kip Network Inc, está registrada em Kansas City, no Missouri.
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A outra empresa que estaria por trás da operação, a Kelsen Ventures, teria como proprietário Hayden Mark Davis, ambos estadunidenses.
O tamanho do escândalo
Na sexta-feira (14), Javier Milei publicou em sua conta na rede social X uma postagem promovendo um novo token digital chamado $LIBRA. Na publicação, ele afirmava que o projeto serviria para financiar pequenas empresas e empreendimentos locais na Argentina.
Após o endosso do presidente argentino, a capitalização de mercado da nova criptomoeda subiu para US$ 4,6 bilhões, graças a aproximadamente 40 mil compradores. Na sequência, após poucas horas, o valor da criptomeda desabou com um pequeno grupo de carteiras digitais retirando quase US$ 90 milhões.
Empresas de inteligência de criptomoedas identificaram transações suspeitas sugerindo um esquema de rug pull, um tipo de golpe em que os desenvolvedores de um projeto abandonam o empreendimento repentinamente, levando junto os fundos dos investidores, deixando-os com ativos sem valor. Segundo uma publicação do The Solana Post, a operação afetou 74.698 pessoas que perderam mais de 286 milhões de dólares.
Na madrugada do sábado (15), Milei deletou sua postagem e postou uma nova publicação no X. "Há algumas horas publiquei um tweet, como tantas outras inúmeras vezes, apoiando um suposto empreendimento privado com o qual obviamente não tenho ligação. Não conhecia os detalhes do projeto e após me inteirar decidi não continuar divulgando (por isso apaguei o tweet)", disse ele.
Milei deve explicações
O advogado Jonatan Baldiviezo disse à Associated Press que viu uma associação ilícita para cometer “um número indeterminado de fraudes” no escândalo. “Dentro dessa associação ilícita, foi cometido o crime de fraude, no qual a ação do presidente foi essencial”, pontuou.
A oposição se articula para pedir o impeachment do presidente. “Milei é quem deve responder ao Congresso. Queremos saber, passo a passo, quem se beneficiou disso e como. Esta não é a primeira vez que ele se envolve em algo assim, mas é agravado por seu papel atual como presidente”, disse a ex-candidata presidencial Myriam Bregman.
Em seu perfil no X, a ex-presidenta Cristina Fernández de Kirchner também postou sobre o caso. “Você promoveu uma criptomoeda privada da sua conta oficial X, criada por quem sabe quem. Você inflou seu valor aproveitando sua investidura presidencial. E, para completar, você diz que era 'desconhecido'! … De autoproclamado 'líder global' a CRIPTOGOLPEADOR”, afirmou.
Com informações do Pagina12 e La Nacion