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Milei tem que ser punido por usar Presidência para propaganda de empresa privada, diz Sérgio Amadeu

Em entrevista ao Fórum Onze e Meia, sociólogo analisa golpe da criptomoeda do presidente da Argentina

Javier Milei, presidente da Argentina.Créditos: Ministério de Relações Exteriores da Índia
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O sociólogo Sérgio Amadeu participou do Fórum Onze e Meia desta segunda-feira (17) e comentou sobre o golpe da criptomoeda promovido pelo presidente da Argentina, Javier Milei, na última sexta-feira (14). De acordo com Amadeu, Milei deve ser punido por utilizar o cargo da Presidência da República para fazer propaganda de empresa privada.

Amadeu afirma que os responsáveis pelo golpe da criptomoeda deram uma "puxada de tapete" nos investidores que provavelmente já estava acertada com o Milei. "Isso é crime", ressalta. "Essa ideia é a ideia do ganho fácil, e esses caras da extrema direita têm muita credibilidade na sua base, eles se aproveitam disso para ganhar dinheiro. É muito comum acontecer também com esses grandes influenciadores", diz. 

"Isso é uma operação que me parece que está sendo feita em vários lugares. E você precisa ter aquele seguidor cego, aquele cara que acredita piamente. É claro que existe investimento em criptomoedas que têm uma valorização, mas não é o caso, aquilo ali era uma trapaça", completa Amadeu. 

"Você joga dinheiro em um fundo que vai operar de uma maneira dramaticamente contra você. Então, o que você aplicou, você vai perder boa parte e eles vão justificar que é porque teve uma queda no valor do ativo, o que, de fato, deve ter tido, porque eles estavam esperando para vender, aí eles venderam, o preço caiu, e quem ficou lá com o dinheiro, além de não ter a valorização, teve uma perda brutal", ressalta Amadeu. 

O sociólogo acrescenta que essas operações precisam de uma pessoa que faça uma "onda para o ativo subir" e, depois, os responsáveis pela criptomoeda, que já estão esperando essa valorização, derrubam o ativo e fazem o seu lucro, enquanto o investidor fica com seu dinheiro preso e tem uma perda financeira.

Amadeu também destaca que é preciso investigar se essas moedas são, de fato, consistentes. Ele afirma que qualquer ativo financeiro é sujeito à especulação, mas quando um grupo atua em conúbio para "fazer balançar, usar ingenuidade, fazer articulações para poder cair ficcionalmente ou artificialmente subir preços", pode ser considerado até crime. 

"Essas articulações na comissão de valores imobiliários que trata de bolsas têm regras rígidas sobre isso, têm limites. Quando está caindo demais, eles fecham a operação. Esse lugar aqui não. Então, é complicado. Eles usam a ingenuidade, aquela ideia de ganhar muito em pouco tempo e você não consegue sair", diz. "É um novo tipo de golpe".

"Independentemente de ter acontecido esse crime contra as pessoas que perderam dinheiro, eu acho que um presidente da República não pode fazer propaganda de um produto. Eu não sei como é a lei argentina, mas eu acho que ele compromete a imagem da presidência, ele prevarica, tem vários crimes da administração pública que ele cometeu se fosse no Brasil", alerta Amadeu.

O sociólogo também afirma que Milei quer fazer da Argentina uma "plutocracia" assim como nos Estados Unidos, onde a sociedade é governada por pessoas com grandes riquezas. "Eu acho extremamente grave o que está acontecendo e mostra o que é essa onda neoliberal. Eles querem desarticular o estado, fazer com que tudo vire um negócio, tudo é empreendimento, tudo é negociata. É muito perigoso isso", avalia Amadeu.

"Ele [Milei] tem que ser punido por usar a Presidência da República, o cargo de presidente, para fazer propaganda de uma empresa privada ou de um fundo. Eu acho inaceitável isso", finaliza o sociólogo. 

Confira entrevista completa do sociólogo Sérgio Amadeu ao Fórum Onze e Meia

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