GOLPE

Crise da criptomoeda $Libra abala Milei e pode levar a pedido de impeachment

Presidente argentino promoveu moeda digital que colapsou horas depois; oposição articula investigação e acusa governo de golpe financeiro

Crise da criptomoeda $Libra abala Milei e pode levar a pedido de impeachment.Presidente argentino promoveu moeda digital que colapsou horas depois; oposição articula investigação e acusa governo de golpe financeiro.Créditos: Fotomontagem (Canva e Shutterstock)
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O presidente da Argentina, Javier Milei, enfrenta uma grave crise política após ser associado à promoção de uma criptomoeda que sofreu um colapso abrupto, gerando grandes prejuízos a investidores. O caso, considerado um dos maiores escândalos financeiros do governo, levou a oposição a articular um pedido de impeachment contra o autointitulado “libertário”.

A polêmica teve início na sexta-feira (14), quando Milei publicou, em sua conta na rede social X (antigo Twitter), um post celebrando o que chamou de crescimento do liberalismo na Argentina. No mesmo post, promoveu um novo token digital chamado $Libra, afirmando que o projeto serviria para incentivar a economia do país, financiando pequenas empresas e empreendimentos locais.

A publicação incluía um link para o site do projeto, a identificação do token e o contrato da criptomoeda, permitindo que investidores interessados pudessem adquiri-la por meio da plataforma Solana.

Reprodução X

O impacto foi imediato: em poucos minutos, $Libra movimentou milhões de dólares. No entanto, o entusiasmo durou pouco, e a criptomoeda sofreu uma desvalorização repentina, resultando em grandes perdas para investidores.

A cotação da $Libra subiu de 0,3 centavos de dólar para 5,54 dólares logo após a publicação de Milei. No entanto, cinco horas depois, o valor despencou para 0,19 dólares, após uma série de compras e vendas quase instantâneas, gerando forte repercussão nas redes sociais.

O movimento da $Libra pode ser classificado como um "Rug Pull", um golpe comum no mercado de criptomoedas que consiste em inflar artificialmente o valor de um ativo para atrair investidores e, em seguida, retirar o dinheiro antes do colapso, deixando os demais com prejuízo.

A $Libra faz parte dos chamados memecoins, criptomoedas sem lastro real, que se baseiam na popularidade de figuras públicas, movimentos políticos ou fenômenos da internet para atrair investidores. 

Casos semelhantes já ocorreram, como o do token $TRUMP, lançado no início do ano e que, por um breve período, chegou a atingir uma avaliação fictícia de US$ 40 bilhões.

Aliados entram em pânico e oposição pede investigação

Com a derrocada da $Libra, apoiadores de Milei entraram em pânico nas redes sociais. Inicialmente, alegaram que a conta oficial do presidente no X teria sido hackeada. Em seguida, passaram a sugerir que Milei estaria cercado por pessoas sem escrúpulos, que exploram sua popularidade para obter ganhos financeiros.

A oposição reagiu de forma dura e acusou Milei de envolvimento em um possível golpe financeiro. O deputado socialista Esteban Paulón anunciou que apresentará um pedido de impeachment contra o presidente.

"Só para deixar claro. Na segunda-feira, vamos protocolar o pedido de impeachment. O que aconteceu é muito grave", escreveu Paulón nas redes sociais.

O bloco da União Cívica Radical (UCR) também exigiu a criação de uma comissão investigativa para apurar possíveis crimes no caso da $Libra. O deputado Pablo Juliano criticou a conduta de Milei e afirmou que ele foi eleito para “defender os argentinos, não para favorecer interesses inescrupulosos de um grupo de pessoas próximas e de histórico duvidoso”.

A ex-presidenta Cristina Kirchner também se pronunciou, e teceu duras críticas a Milei em uma longa postagem nas redes sociais.

"Da sua conta oficial no X, você promoveu uma criptomoeda privada, criada sabe-se lá por quem. Inflou seu valor aproveitando-se da sua posição como presidente. Milhares confiaram em você, compraram caro e, em poucas horas, perderam milhões, enquanto alguns poucos (e aposto que todos são libertários) fizeram fortunas com informações privilegiadas. Milei… Você mesmo atuou como a isca de um golpe digital!", escreveu Kirchner.

O caso amplia a crise política do governo Milei, que já enfrenta críticas por sua condução econômica e pelo impacto de suas políticas na população argentina.

Recuo e ataque aos críticos

Diante da repercussão negativa e das acusações de que estaria promovendo um ativo de alto risco sem embasamento, Milei apagou o post e tentou se justificar. Em um novo comunicado, afirmou que não possuía qualquer vínculo com o projeto e que decidiu retirar sua publicação após tomar conhecimento dos detalhes do token.

"Há algumas horas, publiquei um tweet apoiando um suposto empreendimento privado do qual, obviamente, não tenho nenhuma ligação. Não estava ciente dos detalhes do projeto e, depois de conhecê-los, decidi não continuar divulgando. Por isso, apaguei o tweet."

Apesar do recuo, Milei atacou seus críticos, chamando as acusações de uma tentativa da “casta política” de prejudicá-lo.

"Aos ratos imundos da casta política que querem se aproveitar dessa situação para me atacar, só digo que confirmam diariamente o quão rasteiros são os políticos, e reforçam nossa convicção de tirá-los à força", declarou.

A empresa Kip Protocol, responsável pelo lançamento da $Libra, também tentou afastar Milei da polêmica. Em comunicado oficial, afirmou que o presidente não esteve envolvido no desenvolvimento da criptomoeda.

"Hoje lançamos o projeto Viva La Libertad. O presidente Milei não esteve nem está envolvido no desenvolvimento deste projeto, como ele mesmo já mencionou. Trata-se de uma empresa totalmente privada."

Histórico de envolvimento com criptomoedas

Essa não é a primeira vez que Milei se vê envolvido em um escândalo relacionado a criptomoedas. Em 2021, quando ainda era deputado, foi criticado por promover a empresa CoinX, que mais tarde foi acusada de operar um esquema de pirâmide financeira.

Em 2023, a empresa foi investigada por suspeita de fraude, teve 23 escritórios fechados e quatro diretores presos. Na época, Milei alegou que apenas havia dado uma “opinião profissional” sobre a companhia e que não enxergava irregularidades.

O episódio com a $Libra reacendeu os debates sobre a influência de figuras públicas na promoção de ativos digitais e levantou dúvidas sobre a postura do governo Milei em relação ao mercado de criptomoedas, que segue sem uma regulamentação clara na Argentina.

Entenda em dois minutos

O jornalista brasileiro Rogério Tomaz Jr., que acompanha a política argentina, produziu um vídeo de dois minutos que explica o esquema fraudulento da $LIBRA que Milei divulgou pelas redes sociais.

 

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