POLIGAMIA NO SÉCULO 21

Filha de ex-presidente da África do Sul será 16ª esposa do rei de Eswatin

Nomcebo Zuma, de 21 anos, herdeira de Jacob Zuma, ficou noiva do monarca Mswati III; poligamia é prática legal e culturalmente aceita na última monarquia absoluta do continente africano

Créditos: Fotomontagem Wikipedia - Filha de ex-presidente da África do Sul ficou noiva do rei de Eswatini
Escrito en GLOBAL el

Nomcebo Zuma, 21, filha do ex-presidente da África do Sul Jacob Zuma, ficou noiva do rei Mswati III de Eswatini em uma cerimônia tradicional realizada na noite da última segunda-feira (2). Ela será a 16ª esposa do monarca.

O rei Mswati III, 56 anos, lidera a antiga Suazilândia desde 1986, quando subiu ao trono dias após seu 18º aniversário. Ele enfrenta críticas por manter um estilo de vida luxuoso em um país onde a maioria da população vive em condições de pobreza.

O país enfrenta uma das maiores epidemias de HIV/AIDS do mundo, com taxas de prevalência excepcionalmente altas.

O anúncio de mais uma jovem noiva do monarca de Eswatini surge após o rei ter revogado uma proibição relacionada a relações sexuais com meninas menores de 18 anos - embora a recém-escolhida tenha 21 anos -, uma medida que ele mesmo havia implementado como parte dos esforços para combater a disseminação do HIV/AIDS, em 2001.

Dois meses depois de impor a proibição inicial, Mswati se autopenalizou com uma vaca por violar sua própria política ao se casar com uma jovem de 17 anos.

O rei, que já tem dezenas de filhos, mais uma vez escolheu uma noiva significativamente mais jovem durante o festival cultural Umhlanga de setembro de 2005. Phindile Nkambule, então com 17 anos, foi anunciada como a 13ª noiva do monarca em uma cerimônia da dança das canas.

Cerca de 27% da população adulta de Eswatini, entre 15 e 49 anos, vive com HIV, uma das maiores taxas globais, segundo dados de 2019 da UNAIDS. A crise impactou profundamente a expectativa de vida e a estrutura demográfica do país.

Poligamia no século 21, o que dizem as mulheres de lá

Opec - Mulheres se dividem sobre apoio à poligamia

Em Eswatini, a questão da poligamia é complexa e vista de maneiras distintas dentro da sociedade, inclusive entre os movimentos de mulheres. O país, que mantém uma estrutura monárquica e profundamente tradicional, também reflete essas tradições em suas práticas matrimoniais, onde a poligamia é legal e culturalmente aceita.

Muitas ativistas dos direitos das mulheres em Eswatini criticam a prática da poligamia por considerá-la uma instituição que perpetua a desigualdade de gênero. Argumentam que a poligamia pode reduzir as mulheres a um status inferior dentro do casamento e restringir sua autonomia econômica e pessoal.

Há também preocupações sobre os impactos na saúde, principalmente em relação ao HIV/AIDS, uma vez que a poligamia pode contribuir para a disseminação do vírus se não houver práticas seguras e transparentes de relacionamento.

Por outro lado, algumas partes da sociedade veem a poligamia como uma parte integrante da cultura suazi. Dentro desse contexto, a prática é defendida como um elemento da identidade cultural e histórica que deve ser preservado.

Em alguns casos, a poligamia é vista como uma forma de estabilidade econômica para as mulheres, especialmente em áreas onde as oportunidades econômicas são limitadas. Alguns argumentam que ser parte de uma família poligâmica pode proporcionar segurança financeira que de outra forma não estaria disponível.

Organizações não governamentais e grupos de defesa dos direitos das mulheres em Eswatini trabalham para educar as mulheres sobre seus direitos e fornecer recursos para o empoderamento econômico e social. Essas ações visam permitir que as mulheres façam escolhas informadas sobre o casamento e outros aspectos de suas vidas.

Alguns movimentos de mulheres também estão envolvidos em diálogos com líderes tradicionais e políticos para reformar as práticas que veem como prejudiciais às mulheres, tentando encontrar um equilíbrio entre respeito pela cultura e promoção da igualdade de gênero.

Zuma, o pai da noiva

Fotomontagem Wikipedia - Nelson Mandela e Jacob Zuma

A jovem noiva é filha de Jacob Zuma, que foi presidente da África do Sul de 2009 a 2018. Ele foi um dos políticos mais controversos do país Ele serviu como presidente do país de 2009 até sua renúncia em 2018, após intensa pressão de seu próprio partido, o Congresso Nacional Africano (ANC), devido a acusações de corrupção.

A trajetória política de Zuma está entrelaçada a de Nelson Mandela tanto pelo envolvimento no ANC quanto a luta contra o apartheid na África do Sul.

Durante os anos do apartheid, ambos compartilharam o compromisso com o fim do regime segregacionista. Zuma, como Mandela, foi preso por suas atividades contra o governo do apartheid, passando um tempo na prisão na Ilha Robben, embora em períodos diferentes.

Após a libertação de Mandela em 1990 e durante a transição da África do Sul para a democracia, Zuma foi um dos vários líderes do ANC que trabalharam sob a liderança de Mandela. Mandela tornou-se o primeiro presidente negro da África do Sul em 1994, e Zuma continuou a ocupar várias posições de liderança dentro do ANC e do governo sul-africano.

Apesar de começarem como companheiros de luta, os legados de Mandela e Zuma na presidência da África do Sul são bem diferentes. Mandela é celebrado como um herói da liberdade e um estadista global, enquanto Zuma tem enfrentado críticas e processos judiciais relacionados à corrupção e má governança.

Protestos em 2021

Em 2021 Eswatini vivenciou uma das mais significativas ondas de agitação civil na história recente do país. Estes eventos começaram em junho de 2021 e foram motivados por demandas por reformas políticas e democráticas mais amplas.

Os protestantes, principalmente jovens, exigiram reformas democráticas, incluindo a legalização de partidos políticos e eleições democráticas diretas para o cargo de primeiro-ministro. Desde 1973, partidos políticos foram proibidos em Eswatini.

Havia também um profundo descontentamento com a pobreza, desemprego e desigualdade econômica, que muitos cidadãos sentiam ser exacerbada pelo governo autocrático e o estilo de vida luxuoso do rei Mswati III.

Os protestos começaram de forma pacífica, mas escalaram rapidamente para confrontos com a polícia. O governo respondeu com medidas repressivas, incluindo o uso de força letal, detenções de manifestantes e um blackout de informações, incluindo cortes de internet.

A violência e a repressão resultaram em críticas internacionais de governos estrangeiros e organizações de direitos humanos, que pediram ao governo de Eswatini que respeitasse os direitos dos cidadãos à livre expressão e protesto pacífico.

Em resposta à pressão, o rei Mswati III fez algumas concessões, como prometer diálogo e considerar algumas reformas. No entanto, as mudanças substanciais e concretas foram limitadas, e muitos ativistas dentro e fora do país continuam a pedir mudanças mais significativas.

Apesar das promessas, os confrontos entre forças de segurança e manifestantes continuaram esporadicamente, destacando a contínua tensão e insatisfação com a estrutura política do país.

Mudança de nome do país

No aniversário de 50 anos de independência da Suazilândia do domínio britânico, em abril de 2018, o rei Mswati III surpreendeu os súditos ao mudar o nome do país africano. O monarca anunciou que a nação abandonaria o nome colonial e voltaria a se chamar eSwatini, nome de origem indígena que significa "Terra dos Suazi".

Mswati III rege Eswatini, uma nação com cerca de 1,2 milhão de habitantes, sob um sistema de monarquia absoluta, onde partidos políticos são proibidos e os oficiais eleitos têm apenas funções consultivas. A governança do rei continua a ser uma questão de debate intenso, tanto dentro quanto fora do país.

Dança das canas

A cerimônia de noivado entre Nomcebo Zuma e o rei incluiu a tradicional dança das canas onde a jovem foi apresentada como a liphovela — termo que designa a noiva real ou concubina — e agora está destinada a se tornar a 16ª esposa do monarca.

A Umhlanga, ou dança das canas, um rito tradicional de feminilidade em Eswatini, reuniu cerca de 5 mil participantes na aldeia real de Ludzidzini, em Lobamba, este ano. Durante o evento, que se estende por vários dias, jovens mulheres executam danças e cantos com o peito descoberto, vestindo trajes coloridos que incluem tornozelos e franjas espessas, e algumas até portam espadas e escudos de brinquedo.

Conhecida por sua beleza estética e significado cultural, a cerimônia é celebrada como uma expressão da "graciosa" cultura de Eswatini, conforme descrito por Bianca Dlamini-Holman, influenciadora suazi, em seu vlog de 2023. O evento não só destaca as tradições locais, mas também serve como uma vitrine do patrimônio cultural do país.

Sobre Eswatini

 Khaiinauy - Onde fica Eswatini no mapa da África

Eswatini, anteriormente conhecida como Suazilândia, é um pequeno país localizado no sul da África, limitado pela África do Sul a norte, sul e oeste, e Moçambique a leste. Eswatini é uma das poucas monarquias absolutas remanescentes no mundo e a última da África e é governada pelo Rei Mswati III desde 1986.

Eswatini é uma monarquia absoluta onde o rei possui poderes abrangentes sobre o governo e o estado. O rei pode nomear ministros e tem autoridade substancial sobre o parlamento e o judiciário. Isso coloca o país em uma posição única em termos de sua estrutura política comparada com a maioria das democracias modernas.

A economia de Eswatini é relativamente pequena e depende fortemente da agricultura, manufatura e mineração. O cultivo de cana-de-açúcar é uma das principais atividades agrícolas, enquanto a indústria do açúcar é um dos maiores contribuintes para o PIB do país. Eswatini também exporta têxteis e produtos de madeira. Além disso, o país tem uma forte dependência econômica em relação à África do Sul, que é o seu principal parceiro comercial e fonte de investimentos diretos.

Eswatini enfrenta desafios significativos em termos de saúde pública, sendo um dos países mais afetados pelo HIV/AIDS no mundo. Esforços contínuos têm sido feitos para combater a epidemia, incluindo programas de tratamento e prevenção. Outros desafios sociais incluem altas taxas de pobreza e desemprego, o que agrava as condições de vida de muitos de seus cidadãos.

A cultura de Eswatini é rica e diversificada, com tradições profundamente enraizadas e festivais culturais que desempenham um papel importante na vida dos suazis. A dança das canas (Umhlanga) e a cerimônia do Marula são dois dos festivais mais importantes, destacando o papel das mulheres e das meninas na sociedade e celebrando a colheita do marula, respectivamente.

O turismo está se desenvolvendo como uma importante fonte de receita para Eswatini, com o país oferecendo uma variedade de atrações naturais, incluindo reservas de vida selvagem como o Parque Nacional Hlane Royal e o Mlilwane Wildlife Sanctuary. Estas áreas atraem visitantes interessados em safáris e na observação da rica biodiversidade do país.

No cenário internacional, Eswatini mantém uma postura relativamente discreta, embora participe de várias organizações regionais e internacionais, como a Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) e as Nações Unidas. Eswatini continua a ser um país de grande interesse cultural e político, embora enfrente desafios significativos que exigem atenção contínua tanto de seus líderes quanto da comunidade internacional.

Poligamia para a ONU

PNUD - ODS 5 visa erradicar o casamento infantil e promover a igualdade de gênero.

A Organização das Nações Unidas (ONU) tem posições claras e firmes tanto em relação à poligamia quanto ao casamento infantil, baseadas em princípios de direitos humanos, igualdade de gênero e proteção de crianças e adolescentes.

A poligamia é frequentemente criticada por organizações de direitos humanos, incluindo várias agências da ONU, e é vista como uma prática que frequentemente perpetua a desigualdade de gênero e a discriminação contra as mulheres. Isso contraria os princípios de igualdade e não discriminação consagrados na Declaração Universal dos Direitos Humanos e em outros tratados internacionais de direitos humanos.

A prática pode limitar os direitos econômicos, sociais e políticos das mulheres, colocando-as em uma posição de dependência e subordinação.

O casamento infantil é explicitamente condenado pelas Nações Unidas que o considera uma violação dos direitos das crianças, privando-as de sua infância, saúde, educação e oportunidades. A prática está frequentemente associada a riscos significativos de saúde, especialmente devido à gravidez e ao parto precoce, que são liderados de causas de morte para meninas jovens em muitas partes do mundo e impede. Ipede o desenvolvimento pessoal e educacional das crianças e limita suas oportunidades de vida.

A ONU promove várias iniciativas e programas para combater tanto a poligamia quando é prejudicial quanto o casamento infantil, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que visam erradicar o casamento infantil e promover a igualdade de gênero (Objetivo 5). A meta 5.3 dos ODS é eliminar todas as práticas nocivas, como o casamento infantil, o casamento precoce e forçado e a mutilação genital feminina até 2030.

Há ainda a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a Mulher (CEDAW), que exige que os países membros tomem todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra mulheres em todas as matérias relacionadas ao casamento e relações familiares e assegure, em condições de igualdade com homens, os mesmos direitos de decidir livremente e com responsabilidade sobre o número e o espaçamento de seus filhos e de ter acesso à informação, educação e meios para poder exercer esses direitos.