IMPERIALISMO EM AÇÃO

Venezuela: EUA reconhecem vitória eleitoral da oposição

Washington emite nota na qual confronta Nicolás Maduro e anuncia Edmundo González Urrutia como vencedor da disputa eleitoral

Créditos: Wikimedia Commons - Edmundo González Urrutia é reconhecido pelos EUA como vencedor das eleições presidenciais da Venezuela
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O governo dos Estados Unidos divulgou nesta quinta-feira (1) nota à imprensa do secretário de Estado, Anthony Blinken, em que reconhece a vitória eleitoral de Edmundo González Urrutia nas eleições presidenciais da Venezuela realizadas no último domingo (28).

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No texto divulgado pelo Departamento de Estado, a administração de Joe Biden elogia a participação massiva dos venezuelanos no pleito eleitoral "apesar dos grandes desafios enfrentados" e destaca a importância do direito ao voto, "um pilar fundamental em qualquer democracia".

No entanto, diz a nota, a gestão dos votos e o anúncio dos resultados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE), sob controle de Nicolás Maduro, foram marcados por falhas graves, comprometendo a representatividade do resultado anunciado.

"A rápida declaração do CNE, nomeando Nicolás Maduro como vencedor das eleições presidenciais, ocorreu sem evidências que a sustentassem. Até o momento, o CNE não publicou os dados desagregados ou quaisquer folhas de totalização dos votos, apesar dos repetidos apelos dos venezuelanos e da comunidade internacional para que o fizesse", diz a nota.

O texto afirma que a rápida proclamação de Maduro como vencedor, sem a divulgação de provas ou dados detalhados dos votos, foi questionada por observadores internacionais, incluindo a missão independente do Centro Carter, que apontou irregularidades significativas e a falta de credibilidade do processo.

Em contrapartida, a oposição democrática divulgou mais de 80% das atas de totalização, indicando que Urrutia, na avaliação dos EUA, obteve a maioria dos votos por uma margem significativa, fato corroborado por observadores independentes e pesquisas de saída.

"Diante das evidências contundentes, é claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia foi o vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela", afirma o documento.

Os EUA também reafirmam na nota o apoio ao restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e instam ao início de discussões sobre uma transição pacífica e respeitosa, alinhada com a lei eleitoral venezuelana e a vontade do povo venezuelano.

Confira aqui a nota na íntegra (em inglês)

O lado obscuro de González

Artigo traduzido e veiculado pelo site progressista Ópera Mundi de autoria de Nidia Díaz, membro da FMLN (Frente Farabundo Martí de Liberación Nacional) da El Salvador revela o passado controverso de Edmundo González Urrutia.

O agora reconhecido vencedor das eleições presidenciais da Venezuela realizada no último domingo, o representante da extrema direita venezuelana tem um histórico de envolvimento em operações violentas em El Salvador durante a década de 1980.

Documentos desclassificados da CIA de 2009 implicam González, então segundo na Embaixada da Venezuela em El Salvador, em ações de contrainsurgência sob o Plano Condor, uma estratégia de repressão apoiada pelos EUA durante a presidência de Ronald Reagan.

Segundo os registros, González, junto com o embaixador Leopoldo Castillo, conhecido como "El Mata Curas", coordenou operações que incluíam os notórios esquadrões da morte, visando comunidades religiosas que promoviam a teologia da libertação.

Durante o período de Castillo e González na embaixada, estima-se que 13.194 civis foram mortos, incluindo figuras como San Oscar Arnulfo Romero e seis jesuítas, além de duas trabalhadoras em 1989, mesmo após González deixar o posto diplomático.

Estas ações são classificadas como "crimes contra a humanidade", sem prescrição. Com o tempo, González poderá ter que responder perante a justiça espanhola e salvadorenha pelos atos de violência que marcaram sua carreira diplomática.

As acusações ainda ressoam nas memórias das comunidades afetadas pelo conflito em El Salvador, destacando a complexidade das relações internacionais e os efeitos duradouros da intervenção estrangeira.

Nota completa dos EUA em português

Os Estados Unidos parabenizam o povo venezuelano por sua participação nas eleições presidenciais de 28 de julho, apesar dos significativos desafios enfrentados. Cerca de 12 milhões de venezuelanos foram às urnas de forma pacífica para exercer um dos direitos mais fundamentais em qualquer democracia: o direito ao voto. No entanto, o processo de contagem dos votos e o anúncio dos resultados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) controlado por Maduro foram profundamente falhos, resultando em um desfecho que não reflete a vontade do povo venezuelano.

A rápida declaração do CNE, nomeando Nicolás Maduro como vencedor das eleições presidenciais, ocorreu sem evidências que a sustentassem. Até o momento, o CNE não publicou os dados desagregados ou quaisquer folhas de totalização dos votos, apesar dos repetidos apelos dos venezuelanos e da comunidade internacional para que o fizesse. Conforme reportado pela missão de observação independente do Centro Carter, a falha do CNE em fornecer os resultados oficiais a nível de seção eleitoral, juntamente com irregularidades durante o processo eleitoral, descredibilizaram completamente o resultado anunciado pelo CNE.

Por outro lado, a oposição democrática publicou mais de 80% das folhas de totalização recebidas diretamente das estações de votação em toda a Venezuela. Essas folhas indicam que Edmundo González Urrutia recebeu a maioria dos votos nesta eleição por uma margem intransponível. Observadores independentes corroboraram esses fatos, e esse resultado também foi suportado por pesquisas de saída e contagens rápidas no dia da eleição. Nos dias subsequentes à eleição, consultamos amplamente com parceiros e aliados ao redor do mundo e, embora os países tenham adotado diferentes abordagens em resposta, nenhum concluiu que Nicolás Maduro recebeu a maioria dos votos nesta eleição.

Diante das evidências contundentes, é claro para os Estados Unidos e, mais importante, para o povo venezuelano, que Edmundo González Urrutia foi o vencedor das eleições presidenciais de 28 de julho na Venezuela.

Além disso, os Estados Unidos rejeitam as alegações infundadas de Maduro contra líderes da oposição. As ameaças de Maduro e de seus representantes de prender líderes da oposição, incluindo Edmundo González e María Corina Machado, representam uma tentativa antidemocrática de reprimir a participação política e manter o poder. A segurança dos líderes e membros da oposição democrática deve ser protegida. Todos os venezuelanos presos enquanto exerciam pacificamente seu direito de participar do processo eleitoral ou de exigir transparência na tabulação e anúncio dos resultados devem ser imediatamente libertados. As forças de segurança não devem se tornar instrumentos de violência política contra cidadãos que exercem seus direitos democráticos.

Parabenizamos Edmundo González Urrutia por sua campanha bem-sucedida. Agora é o momento para as partes venezuelanas iniciarem discussões sobre uma transição respeitosa e pacífica, de acordo com a lei eleitoral venezuelana e os desejos do povo venezuelano. Apoiamos plenamente o processo de restabelecimento das normas democráticas na Venezuela e estamos prontos para considerar formas de reforçá-lo em conjunto com nossos parceiros internacionais.