Uma das principais lideranças da esquerda brasileira, José Dirceu, ex-ministro e ex-presidente do PT, analisou na noite desta terça-feira (30) as eleições na Venezuela.
Na última segunda-feira (29), o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) venezuelano anunciou que o presidente Nicolás Maduro venceu o pleito e se reelegeu para mais um mandato presidencial, com 51,2% dos voto. O principal candidato opositor, Edmundo González Urrutia, ficou em segundo lugar com 44,2%.
Te podría interesar
Ainda antes da divulgação do resultado pelo CNE, a oposição ao chavismo, liderada por Maria Corina Machado, acusou o governo Maduro de fraude e anunciou que o vencedor da eleição, na verdade, teria sido Edmundo González, com quase 70% dos votos – sem, contudo, apresentar qualquer prova para tal alegação.
Em sua análise sobre o caso, José Dirceu relembrou que a tática utilizada pela oposição venezuelana, endossada pelos Estados Unidos e por parte da mídia, incluindo a brasileira, não é nova.
Te podría interesar
"O discurso de desconfiança foi imediato, mas já vimos esse filme antes. Somos experientes em relação à alegação de fraude eleitoral perante a derrota. Com Jair Bolsonaro foi assim, e antes dele Aécio Neves. Em comum a ideia de colocar o órgão eleitoral em suspeição e a própria urna eletrônica. Até Donald Trump apelou para a fraude", escreveu o petista.
Dirceu destaca, ainda, que o voto na Venezuela é impresso e depositado na urna e que, por isso, o sistema eleitoral venezuelano é "seguro e inviolável". Além disso, o político lembra que "há fiscais em todas as sessões e no órgão eleitoral nacional a oposição tem 3 membros".
"Não podemos fazer como setores da mídia brasileira, que parte do princípio de que Maduro não pode vencer, e se venceu é porque houve fraude. Precisamos aguardar a conferência das atas e não dar razão à oposição, muito menos às manifestações violentas", pontua.
"É importante destacar ainda que na oposição há setores golpistas articulados a interesses norte-americanos, que apoiaram as sanções e o sequestro das reservas da Venezuela, isto é, violaram a soberania do país e da lei internacional. Em 2013, Henrique Capriles perdeu a eleição e creditou a derrota à fraude. Mas nunca apresentou provas. Não dá para apontar fraude sem provar e sem a conferência das atas", prossegue o petista.
Dirceu ainda defendeu em sua análise a posição do governo brasileiro, que até o momento não reconheceu oficialmente a vitória de Maduro, mas também não endossou a narrativa de fraude encampada pela oposição venezuelana.
"Eis por que se posicionaram corretamente México, Colômbia e Brasil, a despeito de toda a gritaria da oposição venezuelana e do entusiasmo da mídia brasileira com a tese da fraude", finaliza o ex-ministro.
Posição do Brasil
Em nota divulgada na segunda-feira (29), o governo Lula se pronunciou pela primeira vez sobre as eleições na Venezuela, que reelegeu o atual presidente Nicolás Maduro com 51,2% contra 44,2% de seu principal adversário, o ex-diplomata Edmundo González Urrutia.
"O governo brasileiro saúda o caráter pacífico da jornada eleitoral de ontem na Venezuela e acompanha com atenção o processo de apuração", diz a nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores.
No texto, o Itamaraty "reafirma ainda o princípio fundamental da soberania popular, a ser observado por meio da verificação imparcial dos resultados" e diz que aguarda a publicação de todos os dados eleitorais para "transparência, credibilidade e legitimidade" sobre o resultado, que deu vitória a Maduro.
"Aguarda, nesse contexto, a publicação pelo Conselho Nacional Eleitoral de dados desagregados por mesa de votação, passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado do pleito", diz a nota.
Lula se pronuncia
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva falou nesta terça-feira (30) durante uma entrevista à TV Centro América, afiliada da Globo em Mato Grosso, sobre a situação na Venezuela, que está enfrentando um impasse entre o governo de Maduro e a oposição. Esta acusa o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) de fraudar os votos na eleição realizada no último domingo (28), na qual Nicolás Maduro foi declarado vencedor para um novo mandato.
Para o presidente Lula, o impasse entre a oposição e o governo venezuelano "é um processo normal". "Tem uma briga, como é que vai resolver essa briga? Apresentar a ata, se a ata tiver dúvida entre a oposição e a situação, a oposição entra com recurso e vai esperar na Justiça o processo e vai ter uma decisão, que a gente tem que acatar", disse.
Lula também defendeu que tanto a oposição quanto o governo tenham o direito de defender suas posições em relação ao impasse eleitoral. "Eu estou convencido de que é um processo normal e tranquilo. O que precisa é que as pessoas que não concordam tenham o direito de se expressar, que tenham o direito de provar que não concordam e o governo tem o direito de provar que está certo", declarou o presidente.