Quase quarenta e oito horas depois da Nova Frente Popular, de esquerda, obter o maior bloco de deputados no futuro parlamento francês, o presidente Emmanuel Macron ainda não se manifestou.
Isso levou o deputado eleito Adrien Quatennens a fazer uma ameaça: "Alerta! Macron quer nos roubar a vitória e manobrar para bloquear a aplicação do programa da Nova Frente Popular. O único soberano na República, o povo, deve enfrentá-lo. Por que não uma grande marcha popular na direcção de Matignon?"
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O Hotel Matignon hoje serve como residência oficial do primeiro-ministro Gabriel Attal, que apresentou sua renúncia mas foi mantido provisoriamente no cargo.
As especulações midiáticas dão conta de que aliados de Macron tentam formar uma maioria parlamentar "republicana", que excluiria do governo tanto o movimento França Insubmissa, de Jean-Luc Mélenchon, quanto o partido de extrema-direita de Marine Le Pen.
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Além de tentar salvar sua própria pele, Macron sofre pressão para manter seus compromissos internacionais com a OTAN, especialmente no apoio à Ucrânia.
Embora dividida no tema, a frente de esquerda não exibe o mesmo entusiasmo com Volodymir Zelensky.
Macron prometeu o equivalente a quase R$ 12 bi em ajuda a Kiev antes de chamar novas eleições.
Chegou a cogitar enviar tropas francesas ou assessores militares para lutar com os ucranianos.
GRANDE DERROTADO
Macron foi o grande derrotado no último domingo. Seu bloco político perdeu 80 deputados.
A extrema-direita registrou os maiores avanços. O agrupamento de Marine Le Pen foi o mais votado no segundo turno e só não fez maioria por causa do acordo entre o centro e a esquerda para retirar candidatos que estavam em terceiro lugar.
Apesar disso, a mídia do establishment, tanto na França quanto em outras capitais, espera que Macron tenha fôlego para construir uma coalizão de 289 deputados -- para isso, precisa da adesão de 121 parlamentares de direita e esquerda.
Amanhã Macron desembarca em Washington para celebrar os 75 anos da OTAN, onde sua manobra de antecipar eleições foi saudada por assessores de Joe Biden como tendo "isolado os extremos".
Porém, nas últimas horas a Nova Frente Popular publicou nota de advertência a Macron, pedindo que ele indique um primeiro-ministro da frente de esquerda ainda esta semana.
O pedido foi assinado pelos dirigentes da França Insubmissa, Partido Socialista, Verdes e Partido Comunista.
DANÇA DE BASTIDORES
"Alertamos solenemente o Presidente da República contra qualquer tentativa de sequestro das nossas instituições", escreveu a deputada Mathilde Panot, da França Insubmissa, no X.
Clémence Guetté, que coordenou o programa econômico da Nova Frente Popular, e o socialista Olivier Faure são vistos como fortes candidatos a assumir o posto de primeiro-ministro.
Rachar o bloco de esquerda, isolando Melenchón, seria uma das possibilidades para Macron obter maioria no Parlamento -- mas não há sinais de que isso esteja acontecendo.
O temor dos centristas é que um ministério comandado pelo bloco de esquerda enterre a política neoliberal do presidente, que preserva o interesse dos grandes grupos econômicos do país.
A proposta da Nova Frente Popular inclui aumento do salário mínimo e dos servidores públicos, revogação do aumento da idade para aposentadoria e fortes investimentos sociais.
Como é improvável que qualquer grupo alcance a maioria de 289 votos, o próximo gabinete será frágil politicamente, sujeito a voto de censura no Parlamento.