De LISBOA | A festa foi memorável e a vitória histórica. A coalizão de esquerda Nouvelle Front Populaire (NFP) conseguiu superar os radicais de extrema direita do Rassemblement National (RN) no segundo turno, venceu as eleições legislativas da França e de quebra ainda empurrou o partido de Marine Le Pen e Jordan Bardella para a terceira posição, já que o Ensemble, de centro e do presidente Emmanuel Macron, também os superou e ficou em segundo lugar.
A NFP obteve 182 assentos na Assembleia Nacional, seguida pelo Ensemble, de centro, que conquistou 168, à frente da RN, que de franca favorita e já cantando vitória conseguiu apenas 143 cadeiras, em que pese o fato de isso representar um crescimento muito grande para o partido de extrema direita. Diante destes números, fica uma constatação bem simples: ninguém conseguiu os 289 assentos, formando maioria absoluta, para formar automaticamente um governo. E agora, quem governará a França?
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A situação é inédita neste país europeu e o que virá pela frente, de fato, ninguém sabe dizer até o momento. A França já teve uma eleição legislativa vencida por uma legenda diferente da do presidente da República, no entanto, essa vitória foi por maioria absoluta e as alianças em torno dela, se houvesse a necessidade, seriam, digamos, “possíveis”, algo bem diferente do que temos agora.
O país está literalmente rachado em três, em proporções quase iguais no parlamento. Realmente a esquerda venceu o pleito, uma vez que foi quem conquistou mais cadeiras, mas seu corpo político não forma um bloco que sozinho tenha condições de compor um governo. Então você pode pensar: e as alianças? Pois bem, aí é que está o problema.
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A própria NFP é uma confusão internamente. A coalizão foi fechada em cima da hora, mesmo com divergências gritantes entre os partidos de esquerda que a compõem, e serviu apenas para derrotar os fascistas da RN. Imaginar que o Ensemble, de Macron, segundo colocado, e que vive às turras com os partidos que formam a NFP (La France Insoumise, Parti Socialiste, Les Écologistes e Parti Communiste Français), possa fechar um “acordão” com o campo progressista é inimaginável, e vice-versa. São campos ideológicos muito diversos. Ainda assim, pela lógica, seria bastante natural que a NFP se sinta no direito de nomear um primeiro-ministro, afinal, ela foi a vencedora.
Macron já deu sinais de que vai colocar água na sopa da esquerda. Assim que saiu o resultado das eleições, ainda no início da noite de domingo (7), o primeiro-ministro Gabriel Attal apresentou sua demissão, como era de se esperar diante da derrota. Com os números consolidados, o presidente da República simplesmente não aceitou sua demissão e pediu para que ele “fique até depois da Olímpiada”. Outros quadros do Ensemble também correram para dizer que “o pessoal do France Insoumise” e o “senhor Jean-Luc Mélenchon” (líder do partido de esquerda radical que ‘chefia’ a NFP) não vão sair exigindo que um governo se forme com eles à frente.
Um quadro denominado “paralisação” poderá surgir a partir deste impasse. Tudo estaria paralisado por conta de uma indefinição sem solução. Tal situação é teórica e poderia trazer consequências imprevisíveis para uma nação como a França. Seria uma saída convocar novas eleições legislativas? Há muitas controvérsias em relação a essa hipótese.
Por fim, uma resposta sobre quem governará o país é totalmente inviável até o momento. Restará aguardar as cenas dos próximos capítulos para ver como Macron se comportará, bem como seu partido, e também as “exigências” que serão colocadas pela NFP.