FALIR A RÚSSIA?

Mísseis de longo alcance na Alemanha desatam corrida armamentista

Ronald Reagan usou essa tática quando assumiu o poder

Dinheiro farto.Os EUA testaram uma das versões de seu míssil hipersônico, que pode custar U$ 15 milhões a unidade.Créditos: Reprodução Força Aérea dos EUA
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O anúncio de que os Estados Unidos vão instalar, de maneira "episódica", a partir de 2026, mísseis de longo alcance em território da Alemanha tem um sentido militar e econômico.

De acordo com a nota conjunta, divulgada durante a Cúpula da OTAN em Washington, será a transição para estacionamento permanente das armas, que incluem mísseis SM-6, Tomahawk e "armas hipersônicas em desenvolvimento".

Os SM-6, fabricados pela RTX, ex-Raytheon, são chamados de "três em um" pela capacidade de interceptar mísseis balísticos, disparados de aviões ou da terra.

Os Tomahawk mais sofisticados tem alcance de até 2.500 quilômetros, o que em tese colocaria Moscou ao alcance.

Anatoly Antonov, o embaixador da Rússia em Washington, reagiu:

Estas medidas extremamente desestabilizadoras constituem uma ameaça direta à segurança internacional e à estabilidade estratégica.

Moscou prometeu tomar medidas para neutralizar a ameaça.

DO LIVRO DE REAGAN?

Quando assumiu a Casa Branca, em 1980, Ronald Reagan denunciou a União Soviética como o "império do mal" e autorizou investimento no que foi chamado de Guerra nas Estrelas, copiando o nome do filme que fez sucesso no período.

A ideia era proteger todo o território dos Estados Unidos com um sistema anti-mísseis baseado em órbita.

Ao longo dos anos 70, especialistas dos EUA haviam disseminado a ideia de que a URSS tinha grande vantagem nuclear -- fake news que sustentou o grande aumento nos gastos militares do Pentágono.

Quando a URSS ruiu, no início dos anos 90, os estadunidenses atribuíram o "sucesso" à política armamentista de Reagan, que teria levado Moscou a fazer gastos militares muito além de sua capacidade.

O anúncio de que os EUA vão colocar na Alemanha mísseis com alcance muito superior aos hoje existentes tem o potencial de desatar uma nova corrida armamentista.

MÍSSEIS HIPERSÔNICOS

Em fevereiro deste ano, a Força Aérea dos EUA testou um míssil hipersônico nas ilhas Marshall. Eles podem "planar" e mudar de direção, o que dificulta interceptação.

Uma das versões do míssil, fabricada pela gigante Lockheed Martin e que está em fase de testes, tem preço estimado em U$ 15 milhões a unidade.

A Ucrânia sustenta que a Rússia já usou seu míssil hipersônico Zircon num ataque a Kiev.

O Zircon, que voa a até 9.900 km por hora, é capaz de superar até o sistema anti-mísseis mais sofisticado do arsenal dos EUA, o Patriot.

Mísseis hipersônicos podem carregar ogivas nucleares.

Em 2023 os gastos militares no planeta atingiram U$ 2,44 trilhões. Os países da OTAN, a aliança militar do Ocidente, são responsáveis por 55% do total.

De acordo com o Instituto de Pesquisa para a Paz de Estocolmo (SIPRI), os EUA respondem por 42% do mercado mundial de armamentos.