De volta a Kuala Lumpur, na Malásia, após ordem de extradição emitida pela justiça brasileira, o professor universitário palestino Muslim M. A. Abuumar Rajaa denunciou "interferência sionista" na Polícia Federal para barrar sua entrada no Brasil, país em que vive o irmão e onde já esteve, em setembro de 2023, antes do início do genocídio na Faixa de Gaza.
"Acabo de chegar à minha casa em Kuala Lumpur depois de uma viagem familiar mal sucedida, para visitar o meu irmão no Brasil, que infelizmente foi prejudicada pela intervenção sionista, claramente devido às minhas atividades acadêmicas de apoio à luta palestina", escreveu Rajaa em comunicado nesta terça-feira (25) na rede X.
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Ele, a esposa grávida, o filho e a sogra foram apreendidos pela PF no sábado (22) no aeroporto de Guarulhos (SP), após denúncia da Mossad, serviço secreto de Israel. A alegação é que ele seria membro do Hamas.
Natural da Malásia e perseguido pelo governo sionista de Benjamin Netanyahu, o professor universitário acabou extraditado neste domingo (23), sem conseguir sequer falar com o Ministério de Relações Exteriores do Brasil.
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Ao justificar o pedido de extradição, a Polícia Federal utilizou documentos afirmando que seguiu orientação de um departamento dos EUA.
“Em pesquisas nos bancos de dados disponíveis, foi identificado o palestino Muslim M. A. Abuumar Rajaa, com o visto de turista, emitido pela Embaixada brasileira em Kuala Lumpur, em 12 jun 2024, e validade até 12 jun 2025. Foi identificado em relação ao indivíduo estrangeiro um registro no TSC1 (Terrorist Screening Center). Em apertada síntese, essa base de dados contém informações sobre pessoas com comprovado envolvimento com terrorismo e sobre pessoas sobre as quais recaem fundadas suspeitas, baseadas em informações confiáveis de inteligência, de envolvimento com organizações e/ou atividades terroristas”.
O Terrorist Screening Center (Centro de Triagem de Terroristas) é uma divisão da Seção de Segurança Nacional do Federal Bureau of Investigation (FBI), serviço de inteligência dos Estados Unidos.
Imperialismo
No comunicado, Rajaa denuncia exatamente que a "infeliz decisão" da PF se deu por "ordens de um país estrangeiro imperialista que patrocina ativamente o genocídio israelense em curso em Gaza".
"A polícia apresentou um conjunto de alegações forjadas de apoio ao terrorismo, devido à minha atividade acadêmica em apoio à causa palestina e à minha posição clara de apoio aos direitos palestinos e de denúncia da ocupação terrorista sionista da Palestina", diz.
Rajaa afirmou que ao chegar no país foi abordado pela Polícia Federal que, em interrogatório, centrou as perguntas sobre sua atividade pela causa palestina.
"Fui muito claro ao afirmar que, como académico e como palestiniano, acredito que Israel é um regime de apartheid que está a cometer um genocídio em Gaza e que deve ser levado à justiça, e que isto está em conformidade com o direito internacional e a posição do o próprio governo brasileiro", afirma o professor, que é diretor do Centro de Pesquisa e Diálogo da Ásia, Oriente Médio na Universidade da Malásia.
O ativista ainda sinalizou que processará o governo brasileiro e que a "guerra de narrativas" em torno de seu nome não terminou.
"Infelizmente, o meu advogado de defesa não teve tempo suficiente para refutar estas acusações e alegações infundadas, que simplesmente violam a própria Constituição brasileira, que estipula que o Brasil respeita o direito internacional, e a lei brasileira que não vê a resistência palestina como terrorismo. Para mim e para os ativistas brasileiros que apoiam os direitos palestinos, a batalha ainda não acabou, e continuaremos a busca legal para anular esta decisão injusta e exigir desculpas e indenizações. Estou absolutamente certo de que a justiça prevalecerá no final", conclui.
Sionismo
Em vídeo divulgado pelo deputado bolsonarista José Medeiros (PL-MT) um homem vestido com o uniforme do exército sionista e em frente a uma bandeira de Israel acusa o professor universitário de ser "representante" do Hamas, grupo palestino que promoveu o ataque a Israel em 7 de outubro, mas não é considerado terrorista pelo Brasil e pela ONU.
A "prova", segundo ele, é que "Muslim, um cidadão palestino residente na Malásia", teria sido citado em rede social pelo Hamas.
"No dia 17 de outubro, 10 dias depois do massacre, Muslim foi listado pelo Hamas numa publicação nas redes sociais do grupo terrorista como um contato oficial, que pode falar com jornalistas e dar entrevistas em nome do grupo terrorista", diz.
O homem ainda ecoa o terrorismo propagado pelo sionismo de que "os grupos terroristas não são uma ameaça somente a Israel, mas ao mundo todo".