A administração de Joe Biden resolveu intensificar medidas contra a Rússia e a China e, nesta quarta-feira (12) anunciou uma série de novas sanções financeiras para interromper os crescentes vínculos tecnológicos entre Moscou e Pequim. Na justificativa da Casa Branca, a parceria entre russos e chineses configura "um esforço amplo para reconstruir e modernizar o exército russo durante sua guerra com a Ucrânia".
Ao adotar novas medidas para impedir que a China ajude o Kremlin a sustentar seu esforço de guerra contra a Ucrânia, autoridades dos EUA esperam que as nações europeias tomem medidas semelhantes.
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As ações foram anunciadas justamente quando o presidente Biden embarcava para uma reunião na Itália com o Grupo dos 7 (G7), onde um novo esforço para degradar a economia russa estará no topo de sua agenda.
As medidas foram coordenadas pelos Departamentos do Tesouro, Estado e Comércio, com o objetivo de isolar ainda mais a Rússia do sistema financeiro global e cortar sua capacidade de acessar a tecnologia que alimenta seu arsenal militar.
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O esforço tornou-se muito mais complicado nos últimos seis a oito meses, após a China, que anteriormente ficava em grande parte à margem, aumentar suas remessas de microchips, ferramentas de máquinas, sistemas ópticos para drones e componentes para armamentos avançados, disseram autoridades de Washington.
Até agora, Pequim parece ter atendido ao aviso de Biden contra o envio de armas para a Rússia, mesmo enquanto os Estados Unidos e a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) continuam a armar a Ucrânia.
Ampliação das sanções
Embora as medidas expandam o alcance do programa de sanções dos EUA, a administração Biden até agora se absteve de impor sanções a bancos chineses ou europeus que acredita estarem ajudando a Rússia.
As novas medidas não restringem os bancos de facilitarem transações relacionadas às exportações de energia da Rússia, que a administração Biden permitiu continuar devido à preocupação de que restringi-las poderia alimentar a inflação.
Ao anunciar as sanções, a secretária do Tesouro, Janet Yellen, disse em um comunicado que "a economia de guerra da Rússia está profundamente isolada do sistema financeiro internacional, deixando o exército do Kremlin desesperado por acesso ao mundo exterior."
No cerne das medidas está uma expansão das sanções "secundárias" que dão aos Estados Unidos o poder de colocar na lista negativa qualquer banco ao redor do mundo que faça negócios com instituições financeiras russas já sancionadas. Isso visa dissuadir bancos menores, especialmente em lugares como a China, de ajudarem a Rússia a financiar seu esforço de guerra.
O Departamento do Tesouro também impôs restrições à bolsa de valores de Moscou, na esperança de impedir que investidores estrangeiros sustentem empresas de defesa russas. As sanções atingem várias empresas chinesas acusadas de ajudar a Rússia a acessar equipamentos militares críticos, como eletrônicos, lasers e componentes para drones.
Além das medidas do Departamento do Tesouro, o Departamento de Estado impôs sanções a cerca de 100 entidades, incluindo empresas "envolvidas no desenvolvimento da produção e capacidade de exportação futura de energia, metais e mineração da Rússia."
O Departamento de Comércio anunciou seu próprio conjunto de restrições, proibindo exportações estadunidenses para determinados endereços em Hong Kong que, segundo os Estados Unidos, são usados para criar empresas de fachada para canalizar mercadorias proibidas para a Rússia.
O presidente Biden já tentou antes cortar o suprimento e financiamento para a Rússia, superestimando os efeitos dessa medida. Em março de 2022, pouco depois do início da guerra, ele anunciou uma rodada inicial de ações financeiras e declarou: "Como resultado dessas sanções sem precedentes, o rublo quase imediatamente se reduziu a escombros."
Não foi o caso. Após uma breve queda, ele se recuperou, e embora hoje não esteja tão forte quanto há um ano, a economia russa tem se expandido devido à força do crescimento relacionado à guerra.
Grande parte disso é graças ao esforço da China. Ela tem comprado petróleo russo, muitas vezes com desconto em relação aos preços mundiais. E aumentou suas vendas de bens de uso dual, especialmente microeletrônicos e software necessários para fabricar sistemas de armas, drones e defesas aéreas.
O resultado tem sido a ascensão de uma economia de guerra um tanto paralela envolvendo Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Muitas das empresas sujeitas a sanções estão em Hong Kong ou logo além da fronteira em Shenzhen, o centro de fabricação de tecnologia da China. Ainda assim, autoridades da administração insistem que desta vez podem sufocar o que se tornou uma relação comercial cada vez mais profunda.
Sanções contra empresas chinesas
Ao anunciar novas restrições às empresas chinesas, a administração Biden também espera estimular os governos europeus e possivelmente aliados asiáticos a tomarem medidas semelhantes.
O secretário de Estado, Antony Blinken, discutiu a questão com seus homólogos europeus em uma reunião da OTAN em Praga no mês passado, e autoridades estadunidenses pretendem colocá-la na agenda de uma cúpula de líderes em Washington em julho.
Blinken também alertou o governo chinês de que não pode esperar ter uma relação amigável com os poderes europeus se apoiar a indústria de defesa russa.
Em uma coletiva de imprensa em Praga no dia 31 de maio, Blinken disse que 70% das ferramentas de máquinas que a Rússia está importando vêm da China, assim como 90% das microeletrônicas.
"A China não pode esperar, por um lado, melhorar as relações com os países da Europa, enquanto, por outro lado, alimenta a maior ameaça à segurança europeia desde o fim da Guerra Fria", disse ele.
Ambiente para o G7
A Cúpula do G7 - grupo formado pelos países mais ricos do mundo: Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Itália, Japão e Reino Unido e com participação, como convidada, da União Europeia - deste ano será realizada em Apúlia, no sul da Itália, a partir desta quinta-feira (13) e prossegue até sábado (15).
Este ano, a reunião convidou alguns países do Sul Global, incluindo Índia e Brasil, com foco em questões como inteligência artificial e desafios de desenvolvimento na África.
No topo da agenda de Biden, segundo noticiou a Voice of America (VOA), está convencer os participantes a concordarem com um mecanismo para usar ativos russos congelados para ajudar a Ucrânia, enquanto miram na chamada "supercapacidade chinesa".
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Mas pode ser que a situação na Europa complique os planos da Casa Branca. Afinal, as mudança no clima político europeu, particularmente com o avanço de forças política da extrema direita, dificulta que os países do continente sigam incondicionalmente a liderança dos EUA em questões relacionadas à Rússia-Ucrânia e à China. A tendência é que, em vez disso, os europeus se concentrem mais em seus próprios interesses.
Efeito eleitoral
Outro fator que pode ser um obstáculo para Washington é a política doméstica, com um eleitorado profundamente polarizado e os índices de aprovação desanimadores para o atual presidente antes das eleições presidenciais dos EUA de novembro.
Já os líderes franceses e alemães têm lidado com retrocessos significativos após as recentes eleições parlamentares europeias. Espera-se que os líderes ocidentais continuem enfatizando as chamadas ameaças ou desafios comuns para fortalecer sua unidade nesta cúpula. No entanto, diferenças significativas permanecerão entre a Europa e os EUA em questões específicas.
Dada a guinada à direita no clima político geral do continente, os países europeus precisam considerar mais seus próprios interesses, seja em questões econômicas ou sociais.
Em relação ao conflito Rússia-Ucrânia, há considerável incerteza sobre se os EUA ainda podem contar com o apoio dos dois maiores países da Europa. Na competição econômica liderada pelos EUA com a China, França e Alemanha também têm seus próprios interesses divergentes a considerar.
Sobre a Rússia, Biden está pressionando por um plano para dar a Kiev dezenas de bilhões de dólares antecipadamente, usando os juros de aproximadamente 280 bilhões de dólares em ativos russos imobilizados em instituições financeiras ocidentais, informou a VOA.
Os líderes do G7 também pedirão à China que "pare de permitir e sustentar a guerra da Rússia contra a Ucrânia", informou a Bloomberg nesta quarta-feira, citando um rascunho de declaração.
Perspectiva chinesa
O professor da Academia de Governança Regional e Global da Universidade de Estudos Estrangeiros de Pequim, Cui Hongjian, comentou como Global Times sobre as expectivas do G7 sob a perspectiva chinesa.
“Quando se trata de lidar com os ativos congelados da Rússia, a abordagem dos EUA é direta e brusca, enquanto a Europa ainda precisa considerar os métodos e objetivos para evitar impactos negativos, especialmente as contramedidas da Rússia”, disse.
Cui observou ainda que os ganhos abrangentes obtidos pelos partidos de extrema direita nas eleições parlamentares da UE no fim de semana colocam o apoio à Ucrânia em uma situação mais frágil, à medida que mais legisladores céticos ocupam uma parcela maior de assentos na câmara legislativa.
Embora a eleição para o Parlamento Europeu tenha sido impulsionada principalmente por preocupações domésticas, como imigração, empregos e esforços para combater as mudanças climáticas, a maior guerra terrestre na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, entre Rússia e Ucrânia, foi a principal questão de política externa para os eleitores.
O pesquisador da Academia Chinesa de Ciências Sociais, Lü Xiang, observou ao Global Times que a administração Biden espera manter o estado atual do conflito Rússia-Ucrânia até a eleição. Portanto, ele continuará a instar os países europeus a se unirem aos EUA para pressionar a Rússia,
“No entanto, após as eleições parlamentares europeias, as incertezas em vários países aumentarão, especialmente na França e na Alemanha. Depois de serem forçadamente vinculados ao conflito Rússia-Ucrânia pelos EUA, é incerto se eles poderão continuar a apoiar Washington, já que o público já fez sua escolha.Mesmo que a Europa e os EUA permaneçam juntos, ainda haverá alguns ajustes de política”, finalizou Lü.
Reação da Rússia
A porta-voz oficial do Ministério das Relações Exteriores da Rússia, Maria Zakharova, usou seu canal no Telegram para comentar que a administração do presidente dos EUA, Joe Biden, precisa "fazer a Europa sangrar ainda mais" para permanecer no poder.
"Os países da União Europeia percebem que Washington está os envolvendo em uma confrontação direta com a Rússia sob a bandeira da OTAN?" escreveu.
Zakharova não comentou diretamente ao anúncio da administração de Biden de novas sanções contra Moscou e sim os planos do secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, de tornar obrigatório o fornecimento de armas a Kiev para todos os membros da OTAN.
"O Ocidente está histericamente alimentando seu público com alegações da suposta iminente agressão da Rússia contra os países ocidentais, e isso significa apenas uma coisa - a administração Biden precisa fazer a Europa sangrar ainda mais para evitar o colapso de seu próprio governo e da economia dos EUA", destacou.
Stoltenberg disse que o fornecimento de armas a Kiev se tornará obrigatório para todos os estados membros da OTAN e será coordenado pelo General do Exército dos EUA Christopher Cavoli, comandante do Comando Europeu dos EUA e Comandante Supremo Aliado na Europa.