O fracasso do boicote generalizado à Rússia por parte do Ocidente representa um duro golpe contra a tática dos Estados Unidos de punir a população de países que considera inimigos com embargos econômicos.
Os EUA impõem sanções a milhares de pessoas, empresas, organizações e países, dentre os quais Cuba, Venezuela, Irã, Coreia do Norte, Síria e Rússia.
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O embargo contra Cuba é o mais antigo. Teve início em 19 de outubro de 1960, depois que o governo liderado por Fidel Castro nacionalizou empresas de petróleo sem pagar compensação aos proprietários estadunidenses.
Ele sofreu mudanças ao longo do tempo e foi fortemente ampliado durante o governo de Donald Trump, que impediu totalmente remessas de dinheiro de imigrantes cubanos que moram nos Estados Unidos, proibiu cruzeiros marítimos de ancorar na ilha e criou embaraço a empresas estrangeiras que fazem negócios com Cuba.
A ilha vive um período de grande penúria, com apagões e falta de itens básicos de alimentação.
Washington aplica sanções de maneira unilateral ou em conjunto com seus aliados ocidentais, agindo de acordo com seus interesses políticos, econômicos e diplomáticos.
No Iraque, antes de derrubar Saddam Hussein, os EUA impuseram um embargo que causou a morte de milhares de pessoas por incluir insumos farmacêuticos e drogas contra o câncer.
No caso da Rússia, a intenção era isolar completamente Moscou depois da invasão da Ucrânia, em 2022.
Foi uma ação sem precedentes, uma vez que até atletas russos foram impedidos de identificar sua origem em torneios de tênis.
Recentemente, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, disse que atletas da Rússia e da Bielorússia não serão benvindos nos Jogos Olímpicos da França, independentemente de terem ou não se manifestado sobre o ataque de Moscou à Ucrânia.
O presidente Vladimir Putin argumenta que a guerra da Ucrânia não começou em 2022, mas em 2014, quando um golpe pró-ocidental foi dado em Kiev favorável à adesão do país à aliança militar do Ocidente, a OTAN.
NÚMEROS DO FMI
De acordo com relatório recém-publicado pelo Fundo Monetário Internacional, a economia russa vai crescer 3,2% em 2024, bem mais que os Estados Unidos (2,7%), França (0,7%), Reino Unido (0,5%) e Alemanha (0,3%).
Não por acaso, a Alemanha era o país mais dependente do gás barato fornecido pela Rússia para a sua indústria.
O FMI disse que o sistema bancário da Rússia se mostrou muito mais resiliente do que se esperava, uma vez que quase todas as transações financeiras russas com o Ocidente foram bloqueadas.
O argumento de líderes ocidentais é de que Putin transformou a Rússia numa "economia de guerra", com pesados custos para a população em vidas humanas.
De acordo com o relatório, a Ásia terá o maior crescimento mundial em 2024 (5,2%), com destaque para a Índia (6,8%) e a China (4,6%).
O Brasil, na previsão do FMI, crescerá 2,2%.
PIRUETA PARA A ÁSIA
Um dos motivos pelos quais a Rússia sobreviveu ao bloqueio total do Ocidente foi a guinada eurasiana da economia promovida por Vladimir Putin, com aprofundamento das relações com a China, além da exportação de petróleo com descontos que atraíram até mesmo importadores brasileiros.
Os EUA já haviam anunciado sua "pirueta" em direção à Ásia ("pivot") durante o governo de Barack Obama.
O objetivo não declarado é fazer um cerco econômico, militar e diplomático à China.
A costa oeste dos Estados Unidos já é fortemente integrada às economias do Japão e Coreia do Sul.
Apesar do fracasso relativo do bloqueio à Russia, os EUA continuam jogando todo seu peso econômico para "punir" adversários.
Desde o início do governo Biden, Washington já colocou sob sanções cerca de 500 pessoas, empresas e organizações do Irã, mas prepara uma nova rodada para punir Teerã pelo ataque de drones e mísseis a Israel.
No ataque, o Irã usou os mesmos drones que fornece para a ofensiva da Rússia na Ucrânia.
Israel e os Estados Unidos acusam o Irã de ser o grande mentor do terrorismo internacional, mas Teerã se apresenta a aliados como a maior força contra a presença militar de Washington no Oriente Médio, que tem como um dos objetivos garantir o fluxo de petróleo barato para a economia e os motoristas estadunidenses.
O Ocidente ainda não cogitou qualquer tipo de sanção contra Israel pelos ataques que causaram mais de 30 mil mortos em Gaza, nem condenou o ataque de Tel Aviv à representação consular do Irã em Damasco, na Síria.
As acusações de que o Ocidente age com dois pesos, duas medidas enfraquecem o apoio político a sanções e provocam ações em defesa do multilateralismo, especialmente no chamado Sul Global.