A 60ª edição da Conferência de Segurança de Munique (MSC, da sigla em inglês) será realizada a partir desta sexta-feira (16) e prossegue até domingo (18), no badalado Hotel Bayerischer Hof, em Munique, Alemanha.
O evento, chamado de "Davos para a Defesa" é uma plataforma para discussões de alto nível sobre os desafios de segurança mais prementes do mundo.
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Desde 2015, a MSC divulga o Munich Security Index 2024 (MSR- Relatório de Segurança de Munique), um documento anual que aborda as questões mais relevantes para a segurança global.
Intitulado "Lose-Lose" (perda-perda, em tradução livre), a edição 2024 foi elaborada em um cenário de crescentes tensões geopolíticas e de incerteza econômica em ascensão.
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O relatório inclui o Munich Security Index (Índice de Segurança de Munique - MSI 2024), que apresenta dados exclusivos e inéditos elaborados com a cooperação de diversas instituições, incluindo o Armed Conflict Location & Event Data Project (ACLED), o Global Trade Alert, a International Energy Agency (IEA), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o International Institute for Strategic Studies (IISS).
Qual a percepção de cidadãos do BRICS e do G7 sobre risco?
Desde 2021, o MSI reúne dados para responder a perguntas essenciais que ajudam a entender as percepções globais de risco:
- As pessoas acham que o mundo está se tornando um lugar mais arriscado?
- Existe um consenso global sobre alguns dos riscos graves que a humanidade enfrenta hoje?
- Quão preparadas as sociedades se sentem para enfrentar essas ameaças?
Nesta edição, o MSI apresenta um conjunto de dados para explorar as percepções de risco dos cidadãos nas nações do G7 - Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, Reino Unido e Estados Unidos - e BRICS, exceto a Rússia ("BICS" - Brasil, Índia, China e África do Sul). Uma pesquisa com perguntas selecionadas também foi realizada na Ucrânia.
O índice oferece uma visão aprofundada de como 12 países veem 32 principais riscos ao longo do tempo, apoiado por uma pesquisa com mil pessoas por país, a amostra totaliza 12 mil pessoas.
Ao combinar cinco métricas - risco geral, dano potencial, trajetória esperada, iminência percebida e sentimentos de preparação - o índice central fornece insights anuais sobre como grandes países veem o risco.
A pesquisa foi conduzida entre 24 de outubro e 16 de novembro de 2023, utilizando painéis online líderes do setor. As pesquisas locais foram realizadas por parceiros de trabalho confiáveis e respeitáveis em conformidade com o código da European Society for Opinion and Market Research (Esomar).
Os entrevistados foram selecionados de acordo com cotas estratificadas para gênero, idade, residência, educação formal e renda para garantir representatividade. Os dados finais foram ponderados para corresponder exatamente às cotas. A margem de erro foi de 3,1%.
Quais os temores dos cidadãos do G7 e do BRICS?
Após as percepções de ameaça registrarem um recorde no ano passado, o MSI 2024 apresenta diminuições agregadas em 21 indicadores de risco, enquanto dez indicadores tiveram aumentos gerais.
Quase todos os indicadores relacionados à guerra da Rússia na Ucrânia caíram, incluindo o uso de armas nucleares por um agressor e interrupções no fornecimento de energia.
Enquanto a Rússia ainda era a maior preocupação para cinco países do G7 no ano passado, apenas os cidadãos do Reino Unido e do Japão ainda a consideram assim. Os cidadãos alemães agora veem a Rússia apenas como a sétima maior preocupação, e os italianos a veem como a 12ª.
Outros riscos proeminentes também diminuíram. De maneira notável, cidadãos em todos os países, exceto Brasil, Japão e África do Sul, têm menos ansiedades econômicas do que no ano passado. E tanto o risco percebido da Covid-19 especificamente quanto de uma futura pandemia em geral diminuíram.
O que temem os brasileiros?
O documento apresenta três destaques da pesquisa realizada com mil brasileiros:
- A preocupação com o clima e ameaças ambientais tem aumentado entre os brasileiros. O risco de condições climáticas extremas e incêndios florestais aumentou nove pontos em comparação com o ano passado, substituindo as preocupações com as mudanças climáticas como o principal risco percebido.
- O risco de polarização política caiu duas posições este ano.
- O risco representado pelo crime organizado internacional subiu cinco posições desde o ano passado, agora classificado em 10º lugar no geral. O risco apresentado por robôs autônomos e inteligência artificial subiu oito posições, em consonância com uma tendência crescente entre todos os países pesquisados.
O Munich Security Index 2024 faz parte do MSR 2024 e está disponível, em separado, aqui.
Relatório de Segurança de Munique 2024
Desde sua primeira edição em 2015, o Munich Security Report (MSR) compilou dados, análises e mapas para ilustrar questões atuais de política de segurança.
O relatório anual serve como ponto de partida para discussões na Conferência de Segurança de Munique que este ano será de 16 a 18 de fevereiro e é direcionado a um público especializado, bem como ao público interessado.
Nesse contexto, diz o documento, muitos governos não priorizam mais os benefícios absolutos da cooperação global, mas cada vez mais preocupados em receber menos do que outros.
O Relatório de Segurança de Munique de 2024 explora as dinâmicas de perda-perda que são acionadas quando cada vez mais governos priorizam ganhos relativos em vez de se envolver em cooperação de soma positiva e investir em uma ordem internacional que, apesar de suas falhas evidentes, ainda pode contribuir para o crescimento do bolo proverbial em benefício de todos.
O texto também estimula o debate sobre como os parceiros transatlânticos e estados com mentalidade semelhante podem equilibrar dois requisitos difíceis: se preparar para um ambiente geopolítico muito mais competitivo, onde o pensamento em termos de ganhos relativos é inevitável, e reviver o tipo de cooperação sem a qual um crescimento global mais inclusivo e soluções para os urgentes problemas globais dificilmente podem ser alcançados.
Na atualidade os principais atores na comunidade transatlântica têm sido confrontados pelos países emergentes do chamado Sul Global que se tornaram insatisfeitos com o que percebem como uma distribuição desigual dos benefícios absolutos da ordem internacional.
Do ponto de vista de muitos estados em desenvolvimento, a ordem internacional nunca cumpriu sua promessa de cultivar o bolo para o benefício de todos. No entanto, conforme destacado pelos dados do relatório, um índice anual exclusivo de percepções de risco desenvolvido pelo MSC em parceria com seu parceiro Kekst CNC, até mesmo os guardiões tradicionais da ordem não estão mais satisfeitos, pois veem suas próprias fatias do bolo encolhendo.
À medida que mais e mais estados definem seu sucesso em relação aos outros, ameaça desenrolar um ciclo vicioso de pensamento em termos de ganhos relativos, perdas de prosperidade e crescentes tensões geopolíticas. As dinâmicas resultantes de perda-perda já estão se desdobrando em muitos campos políticos e engolindo várias regiões.
Em seus oito capítulos, a edição deste ano do Relatório de Segurança de Munique (MSR, da sigla em inglês) foca em quatro regiões e três campos políticos onde as dinâmicas de perda-perda são particularmente pronunciadas: Europa Oriental, Indo-Pacífico, Oriente Médio e a região do Sahel; economia, clima e tecnologia.
Os documento destaca que, em vez de serem resolvidos, muitos conflitos e crises regionais são caracterizados por crescentes dinâmicas de soma zero. E em vez de reformar a ordem internacional aberta e baseada em regras para que ela cumpra melhor seus benefícios mútuos prometidos, a comunidade internacional está atualmente se movendo na direção oposta.
Confira o Relatório de Segurança de Munique 2024 (em inglês).
Aniversário de 60 anos
Criada no outono de 1963, a MSC celebra este ano o aniversário de 60 anos. Este marco histórico destaca a contínua importância e relevância desta plataforma de diálogo internacional, reunindo líderes e especialistas para abordar questões cruciais no cenário global de segurança.