CHINA EM FOCO

China foi assunto no G7, mesmo fora da Cúpula de Hiroshima

Diplomacia chinesa rebate críticas do grupo de países ricos sobre assuntos internos do país: questão de Taiwan, Hong Kong, Xinjiang e Tibete, Mar da China Oriental e Mar da China Meridional, economia e uso de armas nucleares 

Créditos: Xinhua - Manifestantes no Parque Funairi Daiichi, em Hiroshima, realizam protesto contra a Cúpula do G7 (19/5/23)
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Embora seja a segunda economia do mundo, com PIB de US$ 11,2 trilhões em 2022, a China não faz parte do Grupo dos Sete nem foi convidada para participar da cúpula realizada em Hiroshima, no Japão, neste sábado (20) e domingo (21).

Mesmo ausente, a China foi um dos principais assuntos do encontro. No sábado (20), o Ministério das Relações Exteriores chinês rebateu as críticas feitas ao país em comunicados divulgados pela Cúpula de Hiroshima do G7.

Documentos adotados no encontro contêm comentários que enfatizam questões relacionadas à China, incluindo a situação no Estreito de Taiwan e acusações em relação ao Mar da China Oriental, Mar da China Meridional, Hong Kong, Xinjiang, Tibete.

No comunicado final emitido na Cúpula de Hiroshima, o G7 também levantou uma série de preocupações sobre as atividades econômicas e militares da China. Mas também procurou manter a porta aberta para a cooperação e evitar mais tensões inflamadas entre a segunda maior economia do mundo e o agrupamento das principais potências ocidentais.

"Estamos preparados para construir relações construtivas e estáveis com a China, reconhecendo a importância de nos envolvermos abertamente e expressarmos nossas preocupações diretamente à China", diz o documento. 

"Nossas abordagens políticas não são projetadas para prejudicar a China nem procuramos impedir o progresso e o desenvolvimento econômico da China", continuou o comunicado, acrescentando que os países do G7 não estão "se separando ou se voltando para dentro".

Repressão ao desenvolvimento de outros países

Em resposta, o Ministério das Relações Exteriores da China emitiu comunicado sobre o assunto durante coletiva de imprensa na noite deste sábado. 

"O G7 faz declarações pomposas sobre 'promover um mundo pacífico, estável e próspero', mas o que ele faz é obstruir a paz internacional, minar a estabilidade regional e reprimir o desenvolvimento de outros países", observou o comunicado.

"Isso simplesmente mostra o quão pouco a credibilidade internacional significa para o G7. Apesar das sérias preocupações da China, o G7 usou questões relacionadas à China para difamá-la, atacá-la e interferir ousadamente em seus assuntos internos. A China deplora veementemente e se opõe firmemente a isso, e já fez sérias gestões ao anfitrião do evento, o Japão, e a outras partes envolvidas", prossegue a nota.

Questão de Taiwan

A diplomacia chinesa reforçou que Taiwan é parte da China e ressaltou se tratar de um assunto para os chineses e que deve ser resolvido pelos chineses. O comunicado destacou que o princípio de Uma Só China é o alicerce sólido para a paz e a estabilidade no Estreito de Taiwan. 

"O G7 enfatiza a paz no Estreito de Taiwan, mas não menciona a necessidade de se opor à 'independência de Taiwan'", afirma o comunicado. 

Na prática, prossegue o porta-voz, esse posicionamento do G7 constitui conivência e apoio às forças separatistas e só terá um impacto sério na paz e na estabilidade do Estreito de Taiwan. 

"Ninguém deve subestimar a determinação, a resolução e a capacidade do povo chinês em defender a soberania e a integridade territorial da China", assinala o porta-voz da diplomacia chinesa.

Hong Kong, Xinjiang e Tibete

Os assuntos relacionados a Hong Kong, Xinjiang e Tibete também são puramente assuntos internos da China, destacou o comunicado.

"A China se opõe firmemente à interferência de qualquer força externa nesses assuntos sob o pretexto de direitos humanos. O G7 precisa parar de apontar o dedo para a China em relação a Hong Kong, Xinjiang e Tibete e analisar seriamente sua própria história e registro de direitos humanos", ressalta o porta-voz.

Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional 

A China é uma defensora firme e contribuinte para a ordem internacional baseada no direito marítimo. O Mar da China Oriental e o Mar da China Meridional têm se mantido globalmente estáveis, pontua o comunicado da chancelaria chinesa. 

"Os países relevantes precisam respeitar os esforços dos países da região em manter a paz e a estabilidade e parar de usar questões marítimas para criar divisões entre os países da região e incitar confrontos entre blocos", destaca o comunicado.

Coerção econômica dos EUA

Em relação às acusações de que a China pratica "coerção econômica", o porta-voz do ministério observou que as massivas sanções unilaterais e atos de desacoplamento e interrupção de cadeias industriais e de suprimentos fazem dos Estados Unidos e não da China o verdadeiro coator que politiza e arma as relações econômicas e comerciais. "Instamos o G7 a não se tornar cúmplice da coerção econômica", pontua o comunicado.

Armas nucleares

O comunicado destaca que a China está firmemente comprometida com uma estratégia nuclear defensiva. 

"Temos cumprido nossa promessa de 'não utilização em primeiro lugar' de armas nucleares e sempre mantido nossas capacidades nucleares no mínimo necessário para a segurança nacional. A China é o único entre os cinco Estados nucleares a ter feito essas promessas. A posição da China é transparente e não deve ser distorcida", ressalta o porta-voz. 

Tendência dos tempos

"Quero deixar claro que os dias em que alguns países ocidentais podiam simplesmente interferir arbitrariamente nos assuntos internos de outros países e manipular os assuntos globais acabaram. Instamos os membros do G7 a acompanharem a tendência dos tempos, concentrarem-se em resolver os diversos problemas que têm em seus próprios países, pararem de formar blocos exclusivos, de conter e ameaçar outros países, de criar e estimular confrontos entre blocos, e retornarem ao caminho certo do diálogo e cooperação",  finaliza o comunicado.

As embaixadas da China no Japão, no Reino Unido e no Canadá também expressaram forte oposição aos comentários do G7 sobre a potência asiática e instaram o grupo a refletir sobre si mesmo e parar de criar confrontos e divisões.

China fora do G7

O encontro anual do G7 inclui as sete democracias mais ricas do mundo - Japão, Estados Unidos, Reino Unido, França, Alemanha, Canadá e Itália. A União Europeia, embora não seja membro oficial do G7, também envia representantes. 

A Cúpula de Hiroshima ampliou a mesa para acomodar Austrália, Índia, Brasil, Coreia do Sul, Vietnã, Indonésia, Comores (representando a União Africana) e as Ilhas Cook (representando o Fórum das Ilhas do Pacífico).

China e Rússia não foram convidados, embora grande parte da conversa durante o encontro tenha sido centrada nesses dois países.