No próximo domingo, 2 de junho, o México passará por eleições presidenciais históricas. Primeiro porque será o processo eleitoral que mais levará pessoas às urnas: cerca de 100 milhões de eleitores. Segundo porque os mexicanos devem eleger sua primeira mulher como presidente: Claudia Sheinbaum e Xóchitl Gálvez são as candidatas que lideram a corrida enquanto Jorge Maynez corre por fora, como ‘terceira via’.
Para além dos 98,5 milhões de eleitores residentes no país, há ainda cerca de 223 mil mexicanos vivendo nos EUA que têm direito ao voto. A eleição definirá três níveis de cargos públicos: presidência da República, 500 deputados e 128 senadores em nível federal; 9 governadores e 1098 deputados em nível estadual; e 1802 prefeitos e 14674 vereadores em nível municipal.
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Há praticamente três forças políticas majoritárias na disputa pelos cargos: a coalizão das direitas representada por Xóchitl Gálvez, a coalizão de centro-esquerda intitulada “Sigamos Haciendo Historia” da candidata Claudia Sheinbaum – ligada ao atual governo de Andrés Manuel Lopez Obrador (AMLO) -, e o jovem candidato Jorge Álvarez Máynez, de 38 anos, que se coloca como uma liderança liberal de centro.
O México é o oitavo parceiro comercial do Brasil. Em 2021 exportamos cerca de 5,6 bilhões de dólares, entre os quais 9,8% dessas exportações foram em soja. O país é considerado uma potência latino-americana, ao lado do Brasil e da Argentina.
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Claudia Sheinbaum e a coalizão “Sigamos Haciendo Historia”
A liderança nas pesquisas é de Sheinbaum, candidata de esquerda e sucessora de AMLO para o cargo. Segundo as intenções de voto, a candidata pode superar as expectativas e até vencer o pleito no primeiro turno. A coalizão é formada pelo Movimento de Regeneração Nacional (MORENA), o Partido do Trabalho (PT) e o Partido Verde Ecologista do México (PVEM).
Claudia Sheinbaum é cientista política e engenheira ambiental. Ela ganhou notoriedade por ser a primeira mulher e a primeira judia a ocupar o cargo de prefeita da Cidade do México. Tem uma longa história de atuação em níveis regionais e nacionais. Ela começou sua carreira política em 2000, quando foi nomeada Secretária do Meio Ambiente do Distrito Federal pelo seu padrinho político, AMLO, quando este governou a Cidade do México.
Depois, em 2018, foi eleita prefeita da capital. Seu principal foco foi a implementação de políticas ambientais e de desenvolvimento sustentável, incluindo a expansão da coleta de água de chuva, a reforma do gerenciamento de resíduos e o início de um programa de reflorestamento.
Em 2023, ela anunciou que deixaria o cargo de prefeita para concorrer às eleições presidenciais de 2024, tornando-se a candidata oficial do partido Morena. A carreira de Sheinbaum é marcada por suas posições progressistas e ambientalistas e é declaradamente uma crítica do modelo econômico neoliberal.
Xóchitl Gálvez e a coalizão de direita
A direita, por sua vez, está representada pela engenheira e empresária Xóchitl Gálvez, de 61 anos. Filiada ao PAN (Partido de Ação Nacional), um partido de centro-direita, mas frequentemente adere a políticas progressistas em questões sociais, como aborto, políticas sobre drogas e gastos sociais.
A coalizão é formada pelo Partido Revolucionário Institucional (PRI), o Partido Ação Nacional (PAN) e o Partido da Revolução Democrática (PRD). Os dois primeiros são os maiores partidos políticos do país e oriundos do sistema político que se formou após a Revolução Mexicana.
O conflito foi marcado por uma busca pela reforma agrária e valorização da cultura indígena e, sob o lema “Tierra y Libertad”, derrotou a ditadura de Porfírio Díaz em 1911. No entanto, nas décadas seguintes as oligarquias locais se reestruturaram para a democracia e criaram nos anos 20 e 30 os seus partidos que dominariam a cena política local.
O PRD, por sua vez, surgiu na segunda metade do século XX como uma alternativa de centro-esquerda aos chamados “dinossauros”, mas está alinhado à direita há muito tempo, sobretudo ao PRI.
O trio de partidos foi protagonista de diversos escândalos nos últimos 30 anos, do governo de Carlos Salinas de Gortari (1988) até o de Enrique Peña Nieto (2018). Com exceção do ex-presidente Vicente Fox, quase todos os demais ex-presidentes se autoexilaram nos Estados Unidos ou na Espanha após os escândalos.
Foi durante essas três décadas que aplicaram o modelo neoliberal, desmantelando o Estado e favorecendo a concentração do poder econômico nas mãos da oligarquia. O aumento da pobreza e da desigualdade social, bem como o crescimento da corrupção como mecanismo de controle social, foram os efeitos disso para a sociedade mexicana. Sobretudo após a entrada em vigor do Plano Mérida, que sob o pretexto de combater o narcotráfico e incluir o México como um parceiro dos EUA na chamada “Guerra às Drogas” produziu uma militarização sem precedentes num país que desde os anos 70 já convivia com massacres, como o Tlatelolco em 2 de outubro de 1968, que deixou centenas de estudantes mortos nas ruas da capital e nunca foram apresentados ou punidos os culpados.
Recentemente o país convive com fortes índices de violência em geral, em especial de violência política. O caso mais notável internacionalmente é o dos 43 estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa, no Estado de Guerrero. Os estudantes foram mortos por milícias locais.
Xóchitl Gálvez costuma acusar AMLO de ser um “ditador autoritário”, “chavista” e “comunista”, fazendo coro ao tipo de discurso e tom da extrema direita internacional representada por Trump, Milei e Bolsonaro.
A ‘terceira via’
Por fim, Jorge Álvarez Máynez é o candidato da chamada ‘terceira via’. Deputado e líder do Movimiento Ciudadano (MC), seu partido, enfoca sua campanha nos setores médios urbanos, principalmente nos estudantes. Ele criticou os partidos da oposição, PAN, PRI e PRD, pedindo que abrissem caminho para lideranças jovens e, ainda que esteja longe de uma vitória, sua candidatura só é viável por conta do apoio da juventude.