REFERENDO DE ABRIL

Depois de atacar o México, Noboa quer esfolar trabalhadores; entenda

O que está por trás da dramática decisão do presidente do Equador?

Bilionário branco.Noboa representa a elite da elite do Equador.Créditos: Reprodução de vídeo
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A dramática decisão do presidente do Equador, Daniel Noboa, de invadir a embaixada do México para prender o ex-vice-presidente Jorge Glas foi tomada dentre outros motivos para fortalecer o governo no referendo constitucional previsto para o próximo dia 21 de abril.

Noboa, o bilionário de 36 anos de idade herdeiro de uma plantation de bananas, invocou o risco de fuga de Glas como justificativa, através de sua chanceler Gabriela Sommerfeld: "Hoje, quando o Equador enfrenta um conflito armado internacional, ficou evidente o abuso da imunidade e dos privilégios que a Convenção de Viena concede a uma missão diplomática". 

Sommerfeld afirmou que seu governo havia esgotado as negociações com o México para a entrega de Glas à Justiça local.

A decisão de Noboa recebeu condenação internacional, inclusive do Departamento de Estado dos Estados Unidos:

Os Estados Unidos condenam qualquer violação da Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas e levam muito a sério a obrigação dos países anfitriões, ao abrigo do direito internacional, de respeitar a inviolabilidade das missões diplomáticas.

PÚBLICO INTERNO

Noboa e seus aliados confundiram por querer a crise de segurança do Equador com o caso do ex-vice-presidente, com o intuito de fortalecer a imagem do governo como combatente do crime organizado e da corrupção.

México e Nicarágua suspenderam relações diplomáticas com Quito, mas Noboa está jogando para o público interno.

Além de enfraquecer o grupo político ligado ao ex-presidente Rafael Correa, que está asilado em Bruxelas, na Bélgica.

Em entrevista à Russia Today, Correa disse que Noboa rompeu com uma instituição planetária, a do direito ao asilo político:

Nunca se viu algo assim em toda a América Latina, nem no mundo. Com isso o Equador se comporta como um pária mundial. O rechaço e repúdio latinoamericano foram unânimes. Entraram numa via sem retorno. Romperam todos os princípios civilizatórios. Não enfrentamos o fascismo, enfrentamos a barbárie.

REFERENDO E CONSULTA POPULAR 

No dia 21 de abril, os equatorianos vão às urnas participar de um referendo e de uma consulta popular que Noboa prometeu durante sua campanha.

São cinco decisões do governo que os eleitores podem referendar e outras seis perguntas de uma consulta popular.

No referendo, as perguntas dizem respeito a questões de segurança pública, como permitir que o Exército atue como polícia e a extradição de equatorianos ligados ao crime organizado, possivelmente para os Estados Unidos.

Porém, há um jabuti que Noboa enfiou no referendo.

Você está de acordo com reformar a Constituição da República e reformar o Código de Trabalho para estabelecer o contrato de trabalho com prazo fixo e por horas, quando se celebre pela primeira vez entre o mesmo empregador e trabalhador, sem afetar direitos adquiridos?

O governo e os empresários alegam que trata-se apenas de mais uma modalidade de contratação.

Prometem criação em massa de empregos, assim como aconteceu na reforma trabalhista de Michel Temer, pós-golpe de 2016 contra Dilma Rousseff.

De acordo com o líder sindical Jose Villavicencio, presidente da Frente Unitária de Trabalhadores, outro argumento pró-reforma é de que os contratos pagariam entre 6 a 12 dólares por hora de trabalho -- a economia do Equador é dolarizada:

Quando dizemos que é um contrato precário, são vários elementos. É um contrato sem estabilidade. Vão dinamizar a jornada. Não será de segunda a sexta, mas de segunda a sábado ou terça a domingo. A ministra do Trabalho mente quando diz que vão pagar de U$ 5,40 até U$ 12 dólares por hora, contando as horas suplementares, as extras e as noturnas, quando sabemos que os adicionais não vão existir. Não haverá direito ao seguro social, que exige um contrato mínimo de seis meses. Vão te contratar por uma semana, um mês, três meses e vão te demitir. Não haverá férias, nem aposentadoria.

CONDOR, O RETORNO

Daniel Noboa é da jovem geração de políticos que estão chegando ao poder na América Latina para implementar o ultraliberalismo, assim como seus congêneres Javier Milei e Nayib Bukele, da Argentina e El Salvador.

Bukele agora está oferecendo cidadania e incentivos fiscais a estrangeiros "capacitados" que queiram viver em El Salvador, deixando claro que trata os próprios salvadorenhos como cidadãos de segunda classe, incapazes de desenvolver o país.

A mini reforma trabalhista no Equador vai beneficiar, dentre outros, o próprio pai do presidente, o "rei da banana" Álvaro Noboa, cuja fortuna estimada supera o R$ 1 bilhão.

Militantes de esquerda da América Latina tem levantado nas redes o tema de uma segunda Operação Condor, que estaria sendo conduzida pelos Estados Unidos através de Milei, Noboa, Bukele e da presidente do Peru, Dina Boluarte.

Eles se referem a concessões feitas por estes governantes aos EUA, de maneira mais escancarada pela Argentina, no que seria um projeto de "reconquista" do quintal estadunidense.

Na Condor original, denunciada inicialmente pelo advogado paraguaio Martín Almada, recentemente falecido, os Estados Unidos organizaram as ditaduras militares do continente nos anos 70 e 80 do século passado para reprimir movimentos de esquerda e dar sustentação a regimes que beneficiavam os interesses econômicos e diplomáticos de Washington.