GUERRA

Irã já tem armas nucleares, mas mantém mistério, afirma deputado iraniano

Estaria Teerã imitando a política de ambiguidade nuclear israelense?

Drones Shahed já são os principais equipamentos militares iranianosCréditos: Reprodução
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O deputado Ahmad Bakhshayesh Ardestani fez uma bombástica declaração na última semana na imprensa iraniana afirmando que o Irã já possui armas nucleares prontas.

O parlamentar da base do governo de Ebrahim Raisi afirmou que Teerã deve ter a tecnologia e o urânio enriquecido suficiente para a criação de uma bomba nuclear de pequeno porte.

Parlamentar Ahmad Bakhshayesh Ardestan

“Na minha opinião, já temos armas nucleares, mas não anunciamos. Significa que a nossa política é possuir bombas nucleares, mas a nossa política declarada está atualmente no âmbito do Acordo com os EUA. Quando os países querem confrontar outros, as suas capacidades devem ser compatíveis, e a compatibilidade do Irã com a América e Israel significa que o Irã deve ter armas nucleares", disse Ardestani.

"Num clima em que a Rússia atacou a Ucrânia e Israel atacou Gaza, e o Irã é um firme apoiante da Frente de Resistência, é natural que o sistema de contenção exija que o Irão possua bombas nucleares. No entanto, se o Irã declarar isso é outra questão”, afirma o político.

Quando Trump jogou o acordo fora

Em 2015, o governo Obama assinou o Plano de Ação Integral Conjunto (JCPOA), também conhecido como Acordo Nuclear Iraniano. 
O tratado foi assinado em 2015 entre o Irã e um grupo de potências mundiais, incluindo os Estados Unidos, Reino Unido, França, Rússia, China e Alemanha, mediado pela União Europeia, que seriam garantidores do documento.

Donald Trump (Foto: Marcos Correa/PR)

O objetivo do JCPOA era limitar o programa nuclear do Irã em troca do alívio das sanções internacionais. Sob o acordo, o Irã concordou em limitar suas atividades nucleares, como o enriquecimento de urânio, em troca da suspensão de sanções econômicas.
No entanto, em 2018, o então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, retirou os EUA do acordo, argumentando que era fraco e não fazia o suficiente para conter as ambições nucleares do Irã. 

Isso levou a uma deterioração das relações entre o Irã e os EUA, com o Irã retomando parcialmente suas atividades nucleares que foram limitadas pelo JCPOA. E talvez a hora tenha chegado.

Uma nova política de ambiguidade

Em janeiro do ano passado, o  subsecretário de política de Defesa dos EUA, Colin Kahl, afirmou em uma audiência no congresso que Teerã poderia produzir material físsil suficiente para uma bomba nuclear em “cerca de 12 dias”.

Ele fez o comentário em uma audiência na Câmara dos Representantes que debatia a retomada do acordo nuclear.

Curiosamente, o que o Irã deve tentar seguir é a política israelense sobre bombas nucleares.

O que é a ambiguidade israelense?

A política oficial de Israel em relação às armas nucleares é conhecida como "ambiguidade nuclear". Isso significa que Israel não confirma nem nega a posse de armas nucleares, mantendo uma política de não proliferação, mas também uma estratégia de dissuasão.

O programa nuclear de Israel começou na década de 1950, sob o primeiro primeiro-ministro do país, David Ben-Gurion. Ele viu a possibilidade de um programa nuclear como um meio de garantir a segurança do Estado recém-criado em uma região instável.

E Israel, em colaboração com a África do Sul do apartheid, fez suas ogivas nucleares, mas nunca as assumiu publicamente.

Poderia o Irã adotar tal política?

Caso o Irã tenha bombas nucleares, não conseguiria entrar de volta no Acordo Nuclear. Se não tem, estaria perto demais da fabricação de uma para reingressar no tratado. Se não está tão perto, está enganando a inteligência estadunidense e israelense sobre o tema.

O fato é: dificilmente o Irã vai abrir suas instalações e revelar se possui uma bomba nuclear.

Mas a realidade muda drasticamente a situação de Israel, seu principal rival na região, garantindo uma política de destruição mútua entre os dois principais players da região.

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