Israel Katz, o chanceler israelense que na segunda-feira (19) aplicou uma reprimenda pública e humilhante no embaixador brasileiro em seu país, em pleno Yad Vashem, o Museu do Holocausto, por conta de uma declaração do presidente Lula (PT), dada em Adis Abeba, na Etiópia, um dia antes, na qual o petista traçou um paralelo entre o morticínio praticado pelos militares do Estado Judeu na Faixa de Gaza nos últimos três meses e as atrocidades cometidas pelos nazistas contra os judeus na Europa durante a 2ª Guerra Mundial, ainda não se deu por satisfeito e voltou a atacar o chefe de Estado brasileiro, desta vez pelas redes sociais e em português.
O governo de Tel Aviv, numa reação desproporcional e escandalosa, já tinha anunciado na segunda (19) que Lula era “persona non grata” em Israel, o que na prática não representa nada para o líder brasileiro, que segue com sua influência internacional intocada.
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“Presidente do Brasil, Lula, milhões de judeus em todo o mundo estão à espera do seu pedido de desculpas. Como ousa comparar Israel a Hitler? É necessário lembrar ao senhor o que Hitler fez? Levou milhões de pessoas para guetos, roubou suas propriedades, as usou como trabalhadores forçados e depois, com brutalidade sem fim, começou a assassiná-las sistematicamente. Primeiro com tiros, depois com gás. Uma indústria de extermínio de judeus, de forma ordeira e cruel. Israel embarcou numa guerra defensiva contra os novos nazistas que assassinaram qualquer judeu que viam pela frente. Não importava para eles se eram idosos, bebês, deficientes. Eles assassinaram uma garota em uma cadeira de rodas. Eles sequestraram bebês. Se não tivéssemos um exército, eles teriam assassinado mais dezenas de milhares. Que vergonha. Sua comparação é promíscua, delirante. Vergonha para o Brasil e um cuspe no rosto dos judeus brasileiros. Ainda não é tarde para aprender História e pedir desculpas. Até então - continuará sendo persona non grata em Israel!”, escreveu o chefe da diplomacia do Estado judeu em seu perfil oficial no 'X' (antigo Twitter).
Na segunda, após o “papelão” com o representante do país sul-americano num púlpito instalado no Yad Vashem, o Brasil já tinha reagido e chamado seu embaixador de volta a Brasília “para consultas”, o que no linguajar diplomático é uma sinalização grave. No mesmo dia, à noite, o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, “determinou a convocação imediata” do embaixador israelense, para que recebesse igualmente uma reprimenda. A reunião aconteceu no Rio de Janeiro e Daniel Zonshine, um extremista afeito e bajulador de Jair Bolsonaro (PL), teve que ouvir as reclamações do chefe do Itamaraty.
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O que chama a atenção na cobertura internacional sobre o episódio é que nenhum Estado ou liderança dos mais diversos países do globo condenou a fala de Lula, tampouco prestou solidariedade a Israel, fato que tem sido amplamente lido como uma espécie de “alívio” para a comunidade internacional, que há um bom tempo está horrorizada com as práticas sanguinárias empregadas pelas IDF (Forças de Defesa de Israel) contra civis da Faixa de Gaza.
Nem mesmo os EUA, os maiores e mais incondicionais aliados de Tel Aviv, bem como os países que compõem a União Europeia, que habitualmente se posicionam a favor de Israel por conta do passado perturbador envolvendo o Holocausto, se pronunciaram sobre a declaração do brasileiro.