GUERRA NAS ESTRELAS?

EUA temem que a Rússia coloque arma nuclear no espaço

Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, conversou sobre o medo de Washington com os chanceleres da China, Wang Yi, e da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, durante a Conferência de Segurança de Munique

Créditos: MSC - Antony Blinken participa da Conferência de Segurança de Munique, na Alemanha
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Quando a Rússia conduziu uma série de lançamentos secretos de satélites militares por ocasião da invasão da Ucrânia no início de 2022, autoridades de inteligência dos EUA começaram a investigar o mistério do que exatamente os russos estavam fazendo.

Posteriormente, as agências de espionagem descobriram que a Rússia estava desenvolvendo um novo tipo de arma baseada no espaço que poderia ameaçar milhares de satélites que mantêm o mundo conectado.

Nas últimas semanas, um novo alerta circulou pelas agências de espionagem estadunidenses: outro lançamento pode estar em andamento, e a questão é se a Rússia planeja usá-lo para colocar uma arma nuclear real no espaço, violando um tratado com meio século de existência.

As agências estão divididas sobre a probabilidade de o presidente russo, Vladimir Putin, ir tão longe, mas, mesmo assim, a inteligência é uma preocupação urgente para a administração de Joe Biden.

Mesmo que a Rússia coloque uma arma nuclear em órbita, os oficiais dos EUA concordam em avaliar que a arma não seria detonada.

Em vez disso, ela permaneceria como uma bomba-relógio em órbita baixa, um lembrete de Putin de que, se fosse pressionado com sanções ou oposição militar a suas ambições na Ucrânia ou além, ele poderia destruir economias sem atingir seres humanos na Terra.

Alerta dos EUA à China e à Índia

Apesar das incertezas, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, levantou a possibilidade da movimentação nuclear russa com seus homólogos,o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, e o da Índia, Subrahmanyam Jaishankar.

Os três conversaram nesta sexta-feira (16) e sábado (17), à margem da Conferência de Segurança de Munique (MSC, da sigla em inglês), que ocorre até domingo (18) na cidade alemã.

A mensagem de Blinken foi direta: Qualquer detonação nuclear no espaço afetaria não apenas os satélites estadunidenses, mas também os de Pequim e Nova Deli. Os sistemas globais de comunicação falhariam, causando impactos em serviços de emergência, telefones celulares e na regulação de geradores e bombas.

Os destroços da explosão se dispersariam pela órbita baixa da Terra, tornando a navegação difícil, se não impossível, para satélites como o Starlink, usado para comunicações via internet, e satélites espiões.

EUA contam com China e Rússia para dissuadir Putin

Uma vez que Putin deixou claro seu desdém pelos Estados Unidos, Blinken disse aos chanceleres que caberia aos líderes da China e da Índia, o presidente Xi Jinping e o primeiro-ministro Narendra Modi, dissuadi-lo do que poderia se tornar um desastre.

Em um comunicado neste sábado, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que, em suas reuniões, Blinken "destacou que a busca por essa capacidade deve ser motivo de preocupação". "Ele continuará levantando essa questão em reuniões adicionais na Conferência de Segurança de Munique", prosseguiu o comunicado.

Não ficou claro quanto da inteligência sobre os testes de satélites russos em 2022, que não foram anteriormente divulgados, Blinken compartilhou ao se encontrar com os colegas da China e da Índia.

Alguns oficiais de inteligência se opuseram a compartilhar muitas informações sobre o que os EUA sabem, pois os detalhes do programa russo ainda são altamente classificados, segundo autoridades estadunidenses.

No entanto, outros argumentaram que os Estados Unidos precisavam compartilhar informações suficientes para convencer China e Índia da gravidade da ameaça.

Durante as reuniões em Munique, os dois homens absorveram as informações, disseram autoridades, e Wang repetiu as posições habituais da China sobre a importância do uso pacífico do espaço sideral.

Blinken estava tentando replicar o que os funcionários dos EUA acreditam ter sido uma série de advertências bem-sucedidas a Putin em outubro de 2022, quando havia grande preocupação em Washington de que a Rússia estivesse se preparando para usar uma arma nuclear tática na Ucrânia.

Putin recuou das ameaças, embora ainda não esteja claro quanto ele estava sob pressão, especialmente do presidente chinês, Xi Jinping, que mantém laços estreitos com Moscou.

Ameaças reveladas por deputado

Publicamente, a Casa Branca descreveu a nova arma russa apenas como tecnologia antisatélite, sem fornecer detalhes. No entanto, os funcionários insistiram que ela não representa uma ameaça direta para as populações humanas.

"Não estamos falando de uma arma que pode ser usada para atacar seres humanos ou causar destruição física aqui na Terra", afirmou John F. Kirby, um oficial sênior de segurança nacional, aos repórteres.

A nova inteligência veio à tona após um aviso público enigmático na última terça-feira (13) pelo deputado Michael Turner, republicano de Ohio e presidente do Comitê de Inteligência da Câmara, de que os EUA tinham novas informações sobre uma "grave ameaça à segurança nacional".

Turner vinha enviando cartas de preocupação sobre a tecnologia antissatélite há semanas. Ele ficou frustrado e temia que a administração não a estivesse levando a sério o suficiente, segundo autoridades estadunidenses, uma alegação que os funcionários da administração negam.

Os comentários de Turner irritaram a Casa Branca e as agências de espionagem devido a seu efeito previsível: repórteres se esforçando para obter mais informações sobre a inteligência começaram a descobrir detalhes sobre a arma antissatélite.

Na quinta-feira (15), Kirby disse que o presidente Biden havia ordenado um esforço diplomático, sem descrever o plano em detalhes.

"Ele ordenou uma série de ações iniciais, incluindo briefings adicionais para líderes do Congresso, envolvimento diplomático direto com a Rússia, com nossos aliados e parceiros também, e com outros países ao redor do mundo que têm interesses em jogo", disse Kirby.