A última grande notícia envolvendo o conflito entre Rússia e Ucrânia veio após uma gafe de Zelensky ao aplaudir um membro da SS no parlamento canadense, ainda em setembro. Desde então, a Ucrânia - que parecia ser a questão central da segurança global até a explosão do conflito entre Israel contra a população palestina - saiu do protagonismo da imprensa e do debate internacional.
O país recebeu grandes quantidades de fundos dos EUA, da OTAN e de países da União Europeia para lançar uma contra-ofensiva contra as regiões de Zaporizhia, Kherson, Donetsk e Luhansk. Porém, nenhum grande avanço foi feito contra a bem estruturada defesa russa nas novas regiões anexadas.
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A Fórum conversou com João Cláudio Platenik Pitillo, doutor em história social, pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (NUCLEAS-UERJ) e um dos principais sovietólogos do Brasil, para entender quais são os próximos passos do conflito.
"Havia uma cobertura midiática extremamente ufanística sobre a Ucrânia e toda aquela carga de informações falsas - que mais eram armas de guerra naquele primeiro momento - caíram por terra", afirma Pitillo, se referindo à notícias de que a Rússia não tinha munições, soldados e que perderia a guerra.
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"Isso não se confirmou, isso se saturou muito. O que se via na prática era a Rússia avançando, destruindo a capacidade ofensiva da Ucrânia e a Ucrânia a todo momento reclamando, pedindo mais armas", afirma.
Ao longo de 2023, Zelensky fez diversas turnês por EUA e Europa pedindo mais apoio militar e promovendo uma vitória na contraofensiva de verão. "Essas armas são enviadas ainda sistematicamente e não há nada de palpável no teatro de operações com relação ao exército ucraniano, não tem vitória para se apresentar", completa o historiador.
Naturalmente, a atenção da imprensa - que saiu em defesa inveterada da Ucrânia desde 2022 - se divergiu da questão a partir de 7 de outubro. "Quando de súbito acontece a questão palestina, é muito mais interessante, é o novo, você corre para lá, porque lá está acontecendo algo que interessa o Ocidente", afirma.
Porém, a incapacidade ucraniana de furar os bloqueios russos acabou tornando a situação insustentável. "Se sabia que uma ofensiva de infantaria, com pouquíssimos tanques e sem nenhum apoio aéreo, isso não seria vitorioso. A palavra vitória nunca esteve ali. Havia toda uma propaganda em torno dessa contra-ofensiva para que ela pudesse trazer alguma vitória ou algumas vitórias pontuais", afirma. Segundo Pitillo, o objetivo seria "criar de novo um arco de solidariedade à Ucrânia."
A solidariedade aos países ocidentais se voltou para Israel. Ao invés da Ucrânia, o próximo pacote militar dos EUA votado no Congresso deve ir para Tel Aviv.
Os próximos passos da guerra
Com a contra-ofensiva declarada um fracasso e com o inverno se aproximando, a tendência é que o conflito siga sem grandes avanços para o lado ucraniano.
"É óbvio que as forças ucranianas não têm condição [de uma contraofensiva no inverno], se ela já não consegue operar na primavera, no outono e no verão, que dirá operar no inverno rigoroso da região", afirma.
Além disso, o apoio dos EUA e da OTAN deve se tornar cada vez mais tímido, afinal, as vitórias militares não vieram e a queda da Rússia também não parece nada próxima.
"Nenhum dos intentos econômicos que a OTAN estipulou contra a Rússia foram vitoriosos, a economia russa cresceu, não houve isolamento da Rússia, não houve comoção contra a Rússia, o mundo entendeu que a Rússia não era esse monstro", disse. "Os objetivos políticos que são os principais da OTAN não se estabeleceram e dificilmente se estabelecerão agora com o desgaste ocorrido nessa contra-ofensiva e com o governo Zelensky em xeque", completou.
Pitillo cita que os avanços russos tem ocorrido em direção a Carcóvia (Kharkov), no Dnieper e uma possibilidade de avançar na direção de Odessa, um dos principais portos do Mar Negro.
"O que a gente pode esperar é que essa movimentação russa já seja o início da ofensiva de inverno. Se comenta extraoficialmente que os russos desejam fazer uma ofensiva de inverno, levando em consideração o colapso das forças ucranianas e o vigor das forças russas para operar no inverno, a expertise dos russos para operar no inverno", completa.