Um documento do Departamento de Estado dos EUA mostra que o órgão, sob o comando de Anthony Blinken e Joe Biden, incentivou políticos paquistaneses a derrubarem o então primeiro-ministro do país, Imran Khan, por conta de sua posição no conflito entre Ucrânia e Rússia.
Khan é a figura política mais popular do Paquistão. Recentemente, tem sido atacado por todos os lados em uma perseguição judicial denunciada como lawfare pela Federação Internacional de Direitos Humanos (FIDH).
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Agora, os documentos revelados pelo The Intercept mostram que o não alinhamento de Imran Khan era um problema para os EUA, que desejava angariar apoio no terceiro mundo contra a invasão.
"Agressivamente neutro"
No documento, se mostra que Asad Majeed Khan, embaixador do Paquistão nos EUA, e funcionários do Departamento de Estado dos EUA, incluindo Donald Lu, secretário para assuntos da Ásia Central e Meridional, se reuniram em 7 de março de 2022.
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No dia 6 de março, em meio à pressão internacional, Imran Khan havia declarado que não iria apoiar a Ucrânia. "O que eles pensam de nós? Que somos escravos deles e que faremos tudo o que eles nos pedirem? Somos amigos da Rússia e também dos EUA. Somos amigos da China e da Europa. Não fazemos parte de nenhuma aliança", disse.
Donald Lu teria, na reunião, reclamado da postura paquistanesa. "As pessoas aqui [nos EUA] e na Europa estão bastante preocupadas com o motivo pelo qual o Paquistão está adotando uma posição tão agressivamente neutra [em relação à Ucrânia]", disse.
O funcionário estadunidense disse que, caso o parlamento paquistanês conseguisse derrubar o primeiro-ministro eleito, "tudo seria perdoado em Washington". E que, caso o governo o ignorasse, o Ocidente não cooperaria com o país e isolaria Khan.
Quatro dias depois, o parlamento votou uma moção de censura e retirou Imran Khan do poder.
Desde então, ele tem denunciado que foi retirado do poder pela classe política paquistanesa de forma ilegal. Considerado um nacionalista, Imran Khan comandou marchas ao redor do país para convocar novas eleições, que foram solenemente ignoradas por Shebazz Sharif, novo primeiro ministro.
Khan sofreu um atentado no início deste ano, quando levou um tiro na perna. Depois, foi preso pelas autoridades paquistanesas antes de ser condenado. Agora, foi condenado por ter, supostamente, recebido joias da Arábia Saudita e guardado elas para si. Como resultado, foi banido por cinco anos da política e preso.
Quem é Imran Khan?
Imran Khan ficou famoso por ser um ótimo jogador de críquete. Ele é considerado um ídolo no país por ter sido o capitão e líder do Paquistão de 1992, que ganhou a primeira e única Copa do Mundo de Críquete de sua história.
Depois de sua carreira como jogador, Khan decidiu entrar para a política. Ele é a principal figura do Pakistan Tehreek Insaf (PTI), um partido populista e nacionalista paquistanês, em favor da criação de um estado social mais justo.
Ele sempre teve uma postura anti-militares (que sempre dominaram a política paquistanesa) e também em favor de uma relação mais próxima do Paquistão com a China.
Em 2013, ele ameaçou bloquear o trânsito de suprimentos para forças da Otan no Afeganistão, na época em que os EUA ainda usavam o solo paquistanês como entreposto para o infernal conflito contra o Talibã.
“Não queremos começar uma disputa com os Estados Unidos, mas temos todo o direito de protestar contra esses ataques ilegais que matam inocentes”, acrescentou o líder do PTI.
Extremamente popular e controverso, Imran Khan é uma figura polarizadora na política paquistanesa.