As Avós da Praça de Maio, organização histórica na luta pelos direitos humanos na Argentina, anunciaram a restituição de identidade do neto 138, filho de Marta Pourtalé e Juan Carlos Villamayor, desaparecidos durante a ditadura militar no país.
A descoberta marca mais um passo na busca por memória, verdade e justiça, especialmente em um momento de ataques às políticas de direitos humanos pelo governo de Javier Milei.
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O anúncio da identidade do bebê sequestrado durante a ditadura militar argentina foi feito nesta sexta-feira (27) durante um ato popular em frente à Escola de Mecânica da Armada (ESMA), conforme relata o correspondente do portal O Cafezinho, Bruno Falci, que fez o registro do momento em vídeo.
A história do neto 138
Marta Pourtalé, grávida de oito meses e meio, foi sequestrada em dezembro de 1976, ao lado de seu companheiro Juan Carlos Villamayor. Ambos foram levados para o centro clandestino de detenção na ESMA, onde Marta deu à luz em condições desumanas. Desde então, seu filho estava desaparecido.
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Quase cinco décadas depois, a Justiça argentina confirmou a identidade do homem, agora advogado, que se tornou o neto 138 encontrado pelas Avós da Praça de Maio. A notícia foi recebida com emoção e esperança pela organização e por familiares das vítimas.
A luta pela identidade
A busca começou em 1988, com uma denúncia sobre a possível origem do neto 138. Em 1999, a Comissão Nacional pelo Direito à Identidade (Conadi) passou a investigar o caso, com apoio do Banco Nacional de Dados Genéticos (BNDG). Após anos de trabalho conjunto entre instituições, uma amostra de DNA confirmou a identidade do homem como filho de Marta e Juan Carlos.
Nesta semana, a juíza María Servini notificou o neto 138, que recebeu a notícia de sua origem durante uma reunião com o juiz Daniel Rafecas. Segundo relatos, a emoção tomou conta do momento, com todos presentes visivelmente comovidos. Diego, irmão do neto 138 e residente na Espanha, também advogado, expressou sua gratidão em um áudio:
"Estou tomado pela emoção. Muito obrigado, Abuelas. Vocês são o orgulho nacional."
A tragédia da ESMA
Durante a ditadura argentina, estima-se que cerca de 30 crianças nasceram na ESMA, em um sistema cruel que incluía partos em condições desumanas, separação forçada dos bebês e substituição de identidade. A descoberta do neto 138 reforça a memória desse período sombrio e a importância da luta pelas restituições.
Estela de Carlotto, presidenta das Avós da Praça de Maio, destacou:
“O crime mais abominável da ditadura é evidente em cada restituição: manter viva uma mulher grávida, submetê-la a torturas, fazê-la dar à luz em condições desumanas e roubar seu bebê para apagar sua identidade. Ainda que tardia, com esta descoberta, esse crime cessa.”
O contexto político
O anúncio ocorre em um momento delicado para as políticas de direitos humanos na Argentina, com o governo de Javier Milei promovendo cortes e desmantelamento de órgãos como a Secretaria de Direitos Humanos. Organizações como as Avós da Praça de Maio enfrentam dificuldades crescentes, mas continuam firmes em sua missão.
Victoria Montenegro, legisladora e neta restituída, reforçou a importância do trabalho das Abuelas:
“Cada encontro é um ato de resistência contra o negacionismo e a destruição. As Avós são um milagre de amor e, neste tempo, milagres são necessários.”
Uma vitória da vida
Em meio às celebrações, Estela de Carlotto colocou o número "8" no contador, marcando 138 netos identificados após 47 anos de luta. Com sorrisos e cânticos, as Avós, familiares e militantes celebraram mais uma conquista da vida sobre a morte, reafirmando o compromisso de nunca esquecer e continuar a busca pela verdade.
Com informações das Avós da Praça de Maio, Página 12 e O Cafezinho