A ativista política Haydeé Vallino de Lemos, uma das fundadoras da organização Avós da Praça de Maio, faleceu nesta sexta-feira (24), aos 100 anos de idade, em Buenos Aires.
No final dos Anos 70, Vallino foi uma das milhares de mães de opositores da ditadura argentina que se manifestavam com panos na cabeça, em frente à Praça de Maio (onde fica a Casa Rosada, sede do governo argentino), para reclamar pelo paradeiro dos seus filhos e netos.
Entre essas mães, ela foi uma das 12 que liderou a conformação de uma entidade criada para lutar pela causa da recuperação da identidade dos netos que foram sequestrados pelo regime, e que se chama Avós da Praça de Maio.
Se estima que, entre 1976 e 1983, a ditadura argentina chegou a sequestrar mais de 500 crianças filhas de militantes opositores. Algumas delas nasceram enquanto suas mães estavam na prisão. Parte dessas crianças foram adotadas ilegalmente por chefes militares argentinos ou pessoas poderosas no país, mas também há registros de menores que foram vendidos a casais no interior do país e até no exterior.
A organização das Avós da Praça de Maio existe desde 1977 – embora só tenham podido ser registradas oficialmente em 1984, após o fim da ditadura. Seu principal trabalho é o da recuperação da identidade das netas e dos netos sequestrados. Até o momento, já são 130 as netas e netos recuperados, desde 1978. O último caso aconteceu em junho de 2019.
Haydeé Vallino de Lemos foi uma das avós que conseguiu recuperar sua neta: María José Lavalle Lemos foi a bebê que sua filha Mónica María Lemos teve em prisão, quando era uma presa política da ditadura argentina, junto com seu companheiro, o também militante peronista Gustavo Antonio Lavalle. A identidade de María José foi recuperada em 1987, e ela foi a neta nº 38 recuperada pelas Avós – atualmente, ela é psicóloga e trabalha na organização, ajudando outros netos recuperados a lidar com a situação de conhecer sua verdadeira identidade.
Com a morte de Haydeé Vallino, apenas 4 das 12 avós fundadoras permanecem vivas. A presidenta da organização, Estela de Carlotto, anunciou que será realizada uma homenagem virtual em sua honra, devido à quarentena estabelecida no país.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, decretou luto oficial. “Haydeé foi uma dessas mulheres argentinas que nos ensinou a lutar pela humanidade”, afirmou o mandatário, em um comunicado oficial.