ALEGRIA DO REENCONTRO

Avós da Praça de Maio “recuperam” 131° neto raptado pela ditadura argentina

Identificação é a primeira nos últimos três anos. Regime comandado pelos genocidas Jorge Rafael Videla e Emílio Eduardo Massera fez do roubo de bebês uma prática sistemática

Estela de Carlotto, anunciando o "encontro" do 131° neto raptado na ditadura argentina.Avós da Praça de Maio encontram mais um neto raptado durante a ditaduraCréditos: C5N/Reprodução
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A organização de Direitos Humanos argentina Avós da Praça de Maio, que se dedica a encontrar filhos de desaparecidos políticos que foram raptados ainda bebês por agentes da ditadura militar autodenominada ‘Processo de Reorganização Nacional’ (1976-1983), anunciou nesta quinta-feira (22) o 131° neto “recuperado”. Trata-se de um homem de 44 anos, filho de Lucía Nadín e Aldo Hugo Quevedo, que foram presos pelos repressores em 1977 e desde então nunca mais foram localizados.

O brutal regime de exceção, que na maior parte de sua duração foi comandado pelos genocidas Jorge Rafael Videla, comandante do Exército, Emilio Eduardo Massera, comandante da Marinha, e Orlando Ramón Agosti, comandante da Força Aérea, fez do roubo de crianças recém-nascidas de pais capturados pela repressão, quase sempre opositores ideológicos, uma prática sistemática. Historiadores e grupos de Direitos Humanos estimam que até 500 bebês tenham sido tomados pelos agentes da ditadura, que adotavam ou doavam essas crianças, para depois executarem seus pais.

As Avós da Praça de Maio, na luta desde a redemocratização, assim como as Mães da Praça de Maio, nos últimos anos, por meio de um banco de DNA, tem conseguido identificar homens e mulheres por todo o país que, por uma desconfiança sobre suas origens, se submetem a testes e descobrem que são filhos de vítimas mortas e desaparecidas naquele horrendo período da história.

O último neto identificado, antes do caso desta quinta, foi um homem, no ano de 2019. Mais de dois mil testes voluntários, além de outros 300 realizados após determinação judicial, já foram realizados na Argentina, para que esses homens e mulheres que vivem sob uma identidade falsa, sem saberem disso, sejam descobertos.

“Hoje reaparecem esses militantes políticos sequestrados, torturados e assassinados porque hoje seu filho sabe quem são e os viu pela primeira vez em uma foto. Esta é a maior conquista que as queridas avós da Plaza de Mayo nos dão a cada neto que recupera sua identidade”, disse o secretário Nacional de Direitos Humanos da Argentina, Horacio Peitragalla numa coletiva de imprensa.

“É um trabalho constante, silencioso e amoroso, mas ainda faltam muitos e o tempo não para. Nestes anos tivemos que nos despedir de nossos queridos colegas e muitos deles não puderam alcançar o merecido abraço”, acrescentou a histórica ativista e líder das Avós da Praça de Maio, Estela de Carlotto, que aos 92 anos segue ativa na busca pelos netos desaparecidos na ditadura.

O homem “encontrado” pelas Avós de Maio, curiosamente, foi parido no centro de detenção clandestino da ESMA (Escola de Mecânica da Armada), o maior cenário de horrores do ‘Processo de Reorganização Nacional’, o imponente edifício que fica dentro de um imenso imóvel que outrora fora militar, no nobre bairro de Nuñez, em Buenos Aires, onde hoje está o Espaço Nacional da Memória e Justiça, justamente onde Carlotto deu a coletiva que anunciou sua identificação nesta tarde.