Nesta quinta-feira (14) começaram os eventos do G20 no Rio de Janeiro, que vai reunir representantes das 19 maiores economias globais mais a União Europeia e a União Africana. Antes da Cúpula de Líderes, que inicia na próxima segunda-feira (18), a cidade recebe outros dois eventos: o G20 Social e o CRIA G20, que vão debater os principais temas do encontro através da participação social de organizações da sociedade civil, ativistas e comunicadores digitais.
Ambos os eventos tiveram início nesta quinta na Praça Mauá, região central da capital carioca, com programações repletas de debates sobre transição energética, combate à fome, crise climática, desigualdades sociais e outros temas centrais à presidência do Brasil no G20. A presença de movimentos sociais foi o destaque da abertura do evento.
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O CRIA G20 tem o objetivo de promover uma abordagem inclusiva e colaborativa através da participação de grandes nomes nacionais e internacionais da política, do ativismo, da comunicação e outros setores que buscam contribuir para a construção de um mundo mais justo e sustentável. Para o primeiro grande painel do evento, que teve como tema a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, iniciativa lançada pelo Brasil, estiveram presentes a primeira-dama e socióloga Janja Lula da Silva, a ex-ministra do Desenvolvimento Social Tereza Campello, a ativista sul-africana Nomzamo Mbatha e a ativista libanesa-venezuelana Surthany Cooks.
As palestrantes debateram sobre a importância de programas sociais voltados ao combate à fome e às desigualdades. O grande destaque da conversa foi o Bolsa Família, um dos programas mais importantes do governo federal para erradicar a fome e a pobreza no país. A ex-ministra Tereza Campello, que participou da criação do programa, ressaltou os avanços significativos promovidos pelo Bolsa Família, como a retirada do Brasil do mapa da fome em 2014.
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A primeira-dama e socióloga Janja da Silva destacou que a questão da fome é a principal causa política do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e que o grande diferencial do lançamento da Aliança Global é o fato de tratar a fome como um problema estrutural que deve ser resolvido pelo Estado. Janja declarou que programas locais e financiados por iniciativas privadas são importantes, mas defendeu que a erradicação total da fome só será possível com iniciativas estatais.
Em relação à Aliança Global, Janja acrescentou que a iniciativa promove uma integração entre diversas políticas públicas para combater a fome, e tem como objetivo principal o financiamento de países mais ricos para permitir que nações em desenvolvimento consigam investigar para erradicar o problema em seus territórios.
Já no G20 Social, os debates foram promovidos principalmente por movimentos sociais. O Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), o Movimento Sem Terra (MST), a União Nacional por Moradia Popular, centrais sindicais e outras organizações marcaram forte presença no evento.
Em entrevista à Fórum, representantes falaram sobre a relevância da presença dos movimentos sociais em debates como o do G20. "É muito importante estarmos aqui, porque estamos debatendo problemas globais que são sentidos nos territórios onde os movimentos sociais atuam. Nós colaboramos para o debate sobre a criação de infraestruturas sustentáveis para que as comunidades não sofram tanto com os impactos da mudança do clima", afirma Alberto Freire, da União Nacional por Moradia Popular.
Maria José Alves, também da organização, acrescenta que é fundamental a troca de conhecimento e experiência entre os movimentos populares brasileiros e estrangeiros, além do diálogo com autoridades. A ativista também destaca que a busca por moradia é uma das lutas centrais dentro do debate sobre mudanças climáticas.
Juraci Padilha dos Santos, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e uma das atingidas pelas enchentes no Rio Grande do Sul no começo do ano, declarou que a presença da organização no G20 tem como objetivo chamar atenção para a situação das comunidades vulneráveis atingidas por eventos extremos. "Estamos aqui devido às mudanças climáticas e queremos reivindicar que as comunidades atingidas sejam visualizadas. Essas pessoas precisam ter moradias e vidas dignas. São direitos", declara a moradora de Estrela, um dos municípios mais atingidos pelas chuvas no estado gaúcho.
Erick de Oliveira, representante do Movimento Sem Terra (MST), afirma que a presença dos movimentos sociais no G20 é fundamental para que as demandas populares não sejam esquecidas. "Se não estivermos aqui, nossas pautas jamais serão debatidas em lugares como esses", diz. Entre as principais demandas, Erick destaca a principal luta do MST, que é a Reforma Agrária, como uma das soluções para o combate à crise climática. "A reforma agrária garante o direito das populações mais pobres de terem acesso a alimentos saudáveis e tira diversas comunidades da miséria. Hoje, estamos aqui para reforçar essa demanda e não sermos esquecidos", acrescenta.
Já representantes das Brigadas Populares declararam que a presença inédita dos movimentos sociais neste G20 permitiu que, pela primeira vez, os problemas das populações vulneráveis fossem debatidas pelas próprias comunidades, e não por empresários e outras autoridades que não tinham lugar de fala. "Os comitês populares são locais de referência política sobre o povo", declara Emily Medeiros. "Nós, a classe trabalhadora, que conhecemos os territórios, sabemos como contribuir para a justiça climática, porque fomos nós que desmascaramos que não é desastre natural, mas negligência climática", acrescenta.
Os eventos paralelos ao G20 continuam com programação durante o final de semana. O CRIA G20 vai até este sábado (16), e o G20 Social continua até domingo (17). Além disso, o Festival Aliança Global, que reúne diversos artistas em três dias de show, acontece desta quinta até sábado, sempre a partir das 18 horas.
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