A Rede Vozes Negras pelo Clima, composta por mulheres negras ativistas de oito estados brasileiros, vai marcar presença nos maiores eventos globais sobre economia e clima na próxima semana: de 11 a 22 de novembro, na COP29, no Azerbaijão, e de 13 a 16, no G20 Social, que antecede a Cúpula de Líderes do G20.
O objetivo é levar as vozes de mulheres atingidas por barragens, enchentes, poluição das águas e pelo racismo ambiental para somar nos debates sobre crise climática.
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A Rede pretende construir, junto aos órgãos multilaterais de governança da questão climática, uma discussão com foco em questões de raça, gênero e luta pelos direitos humanos no enfrentamento às mudanças climáticas.
Para isso, as ativistas partem do conceito de adaptação climática antirracista para apresentar um programa que tem como centro o combate às desigualdades raciais e sociais.
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"COP do financiamento"
Na COP29, que vem sido anunciada como a “COP do financiamento”, a Rede pretende incidir para o reconhecimento das mulheres e comunidades afrodescendentes como pessoas e territórios mais atingidos pela crise climática, bem como lideranças e detentoras de saberes e tecnologias que podem contribuir para conter essa crise.
Além disso, elas também vão defender que a adaptação climática seja um instrumento de combate ao racismo.
As ativistas pedem que a Nova Meta Global de Financiamento Climático seja pública, com recursos adicionais, monitoráveis e de qualidade, garantido que as populações negras e não-brancas sejam o público prioritário das políticas de financiamento, haja visto que é o que mais sofre as consequências da crise climática.
“Colocar as populações afrodescendentes e afroindígenas no centro do debate sobre Financiamento Climático é propiciar a materialização da equidade para quem secularmente precisou se adaptar para continuar sobrevivendo", afirma Luciana Souza, integrante da Rede Vozes Negras pelo Clima e representante da Comissão de Atingidos pela barragem do Fundão.
"Lutamos resilientemente para resistir às constantes tentativas de apagamento histórico e destruição de nossos biomas, tão importantes para nossas Práticas e Saberes Ancestrais”, acrescenta.
G20 Social
No G20 Social, a agenda prioritária da Rede será a defesa da transição energética justa e contra as violações de direitos dos territórios frente aos mega empreendimentos.
Desde a COP28, realizada em 2023, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a rede vem construindo um olhar racializado sobre as políticas climáticas, fundamentado no dossiê Nada sobre nós sem nós - por uma agenda climática antirracista construída por mulheres negras.
O documento identifica contradições na implementação de medidas de transição energética que não levam em consideração aspectos sociorraciais e geopolíticos, provocando graves impactos nos territórios.
O relatório Salvaguardas Socioambientais para Energia Renovável, publicado em janeiro deste ano, revelou como os parques eólicos têm se instalado na região Nordeste, sem diálogo com os territórios, intensificando conflitos e ameaçando a biodiversidade.
“Nós vamos levar para esse espaço as denúncias sobre os casos de violação dos direitos humanos e da natureza que se dão nos territórios. Precisamos aprofundar os debates necessários que nos ajude nos processos de incidência. O que queremos é que nossas vozes ecoem até chegar aos ouvidos dos tomadores de decisão”, afirmou Simone Lourenço.
Simone é representante da Rede na delegação do G20 Social e coordenadora geral da Associação Fórum Suape Espaço Socioambiental, iniciativa que atua junto às comunidades atingidas pela instalação do complexo industrial portuário de Suape, em Pernambuco.
Sobre a Vozes Negras pelo Clima
A Rede Vozes Negras pelo Clima é uma organização independente de mulheres negras ativistas climáticas que surgiu a partir do Programa de Ampliação de Capacidades para Mulheres Negras no âmbito da Justiça Climática, realizado em junho de 2022, pela Anistia Internacional Brasil.
Desde então, além das atuações nos respectivos territórios, a Rede vem incidindo na agenda climática nacional, com participação na elaboração do Plano Clima do Governo Federal, na reformulação do Programa de Defensores e Defensoras dos Direitos Humanos e no Comitê Nacional de construção da COP30, que acontecerá em Belém do Pará no ano que vem.
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