Os últimos acontecimentos no litoral norte paulista que deixaram mais de 60 mortos, e milhares de desalojados e abrigados, só reforçam a importância de debatermos emergência climática e racismo ambiental. Mas, antes de tudo é preciso ter em mente o conceito correto: É emergência climática sim!!!!
Não podemos ter mais a inocência para usar os termos aquecimento global ou alteração climática, pois já passamos desse ponto. Vemos no dia a dia pessoas pobres e racializadas morrendo por eventos extremos.
Mas as pessoas em situação de vulnerabilidade não morrem somente por chuvas e eventos do tipo, a fome e as doenças, por exemplo, aumentam por conta da emergência climática. No Brasil a mudança mais significativa é a mudança do regime de chuvas. Nossas chuvas se formam em grande parte na Amazônia, com a destruição da floresta, tudo aqui embaixo mudou.
Agora o período de estiagem, ou seja, sem chuvas que se concentrava no inverno é mais longo o que culmina em desabastecimento. Já as chuvas de verão ocorrem de forma mais violenta, como a que ocorreu no litoral do Estado, quando houve o maior volume já observado no Brasil num curto período de tempo, chovendo mais de 600 mm em Bertioga e em São Sebastião e em mais de 300 mm em outras localidades como Guarujá, Ilhabela e Ubatuba. Aconteceu o mesmo em Araraquara, interior de São Paulo em janeiro. Portanto, essa é a nova realidade climática do Sudeste: a chuva mata. E o desabastecimento é certeiro.
A primeira coisa a se fazer é defender a Floresta Amazônica! A Amazônia é responsável pelo equilíbrio aqui embaixo. Temos que lutar contra o garimpo ilegal, pelas políticas de proteção, conservação e recomposição da floresta. Bolsonaro tem culpa, o governo dele provocou aumento de 60% no desmatamento por lá. E por aqui o reflexo chega logo. Não podemos esquecer que o céu de São Paulo ficou preto por conta das queimadas da floresta.
O segundo ponto é investir em saneamento básico integral, incluindo coleta e tratamento de esgoto, abastecimento de água, drenagem de águas da chuva e coleta de lixo. Mas o interesse do mercado faz cada um desses setores serem tratados por concessões e empresas privadas diferentes que não se comunicam. Como consequência, o lixo não coletado tapa o bueiro, o lucro da água não é investido em infraestrutura para drenagem de água de chuva, o não tratamento de esgoto polui o Rio Tietê e outros que poderiam abastecer as pessoas na época de estiagem.
A terceira tarefa, sendo uma das mais importantes, é investir em alertas. Temos que aceitar, esses fenômenos climáticos vão acontecer com frequência. Portanto, é preciso que o Brasil desenvolva um sistema para avisar pessoas que estão em áreas de risco. A defesa civil já faz o monitoramento, mas a informação não chega aos principais interessados. Eventos como ocorreram no litoral norte são previstos com 10 dias de antecedência. Governos são avisados, mas as pessoas não. Em países desenvolvidos, as pessoas recebem alertas de terremotos e orientações de como se proteger pelo celular. O Brasil necessita de um sistema semelhante.
Um quarto aspecto é o reparo das vítimas. Nós, ambientalistas e antirracistas, lutamos muito para criar fundos de "emergência climática". No entanto, os governos só usam o fundo para reparar danos a infraestrutura e podem e devem reparar as vítimas também. Pessoas pobres perdem tudo e devem ser o foco dos fundos existentes.
A quinta e mais importante é: O Brasil precisa urgentemente de um amplo plano de habitação popular! Boa parte das mortes é culpa da combinação fulminante entre emergência climática e desigualdade social no país. Quem morre é preto e pobre, pois moram em encostas, morros e beiras de rios. Justiça climática e social andam juntas. Tem que tirar as pessoas da área de risco, construir bairros novos com unidades habitacionais com drenagem, com coleta e tratamento de esgoto.
*Monica Seixas é deputada estadual de São Paulo pelo PSOL. Foi eleita pela primeira vez em 2018, pelo primeiro mandato coletivo do Estado de São Paulo, recebendo aproximadamente 150 mil votos, ficando entre as 10 candidaturas mais votadas. Na Alesp se posiciona como uma das deputadas mais ativas e que mais propõe Projetos de Lei e atividades, sempre priorizando pautas relacionadas ao ecossocialismo, apresentando dezenas de projetos e destinando inúmeras emendas ambientais, bem como a pessoas em situação de vulnerabilidade, seja racial, social ou de gênero, tendo sido a primeira a pautar a derrubada de monumentos racistas. Além disso, é autora do processo de cassação do ex-deputado estadual Arthur do Val, mais conhecido por Arthur Mamãe Falei. Também atuou fortemente contra a violência de gênero e raça dentro da Alesp. Hoje é líder da bancada do PSOL dentro da Alesp. É também mãe, jornalista, feminista negra e ecossocialista. Foi cofundadora do coletivo Itu vai parar e candidata a prefeita pelo PSOL na mesma cidade, onde liderou a mobilização contra o desabastecimento de água que durou quase um ano. Foi reeleita para o segundo mandato pelo movimento Pretas, que conta com 7 mulheres (Monica Seixas, Poliana Nascimento, Leticia Chagas, Karina Correia, Ana Laura, Najara Costa e Rose Soares) e tem o intuito de ratificar a presença de mulheres negras na política e com elas seguir priorizando as pautas e lutas dos grupos vulnerabilizados.
**Este artigo não reflete, necessariamente, a opinião da Revista Fórum.